CAPÍTULO 7 | BOLO DE CHOCOLATE

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Com o sol se pondo, as luzes da floricultura começaram a criar sombras nas paredes, projetando formas distorcidas das flores e das ferramentas espalhadas pelo balcão. Laura estava guardando os últimos vasos, enquanto eu fechava o caixa. O som das folhas de papel se movendo era o único ruído além do leve murmúrio do vento lá fora.

– Pronto, acho que terminamos por hoje – Disse Laura, esticando os braços para espantar o cansaço.

Concordei com um aceno, enquanto fechava o caixa e organizava os trocados no fundo da gaveta. Havia sido um bom dia para a loja. No total, faturamos cerca de 800 reais, resultado de encomendas para buquês especiais e alguns arranjos vendidos ao longo da tarde. Nada extravagante, mas o suficiente para garantir o fluxo de caixa e cobrir os custos do novo pedido de flores.

– Sim, está tudo em ordem – Confirmei, sentindo-me satisfeita com o rendimento do dia. – Amanhã vai ser um dia cheio, com a entrega das flores para Lysandra e algumas encomendas novas.

Laura suspirou, um leve sorriso nos lábios.

– Não sei como ela aguenta vê tanta morte assim. Eu conseguiria ser tão forte quanto ela – Disse Laura, com um tom de admiração em sua voz.

– Nem eu, deve ser aterrorizante – Sorri de volta, mas minha mente já estava em outro lugar.

Com o bolo cuidadosamente apoiado debaixo do braço, meus pensamentos voltaram-se para a surpresa que Caius estava planejando para minha mãe. O dia tinha sido longo e cheio de detalhes, mas a simples ideia de ver o sorriso no rosto dela reacendeu uma energia nova em mim, como se o cansaço das últimas horas tivesse se dissipado.

– Bem, até amanhã, Laura – Me despedi lançando um sorriso enquanto girava a chave na porta.

– Até amanhã, Calli. Boa sorte com a surpresa – Laura respondeu, dando-me um aceno ainda caminhando.

Observei ela se afastar pela rua, seus passos leves ecoando na calçada. Fiquei ali por um instante, absorvendo o silêncio que finalmente envolvia a loja, um contraste tranquilo depois de tantas idas e vindas.

As ruas estavam silenciosas enquanto eu seguia em direção ao carro, e o aroma do bolo, adocicado e envolvente, misturava-se suavemente com o ar fresco da noite. Havia uma calma quase solene à minha volta, como se até a cidade compartilhasse o momento de expectativa.

Meus passos aceleravam sem que eu percebesse, antecipando o que estava por vir. Caius tinha feito questão de planejar algo especial, e, apesar dos sentimentos confusos que surgiram mais cedo, eu estava morta de curiosidade.

Assim que entrei no carro, liguei o rádio e deixei que a música preenchesse o silêncio da noite. Uma melodia familiar começou a tocar, e antes que me desse conta, eu estava acompanhando baixinho a letra.

– Cause I can feel you in the silence, keeping me awake...

A voz suave da cantora se misturava à minha, e por um breve instante, senti uma paz tranquila que vinha apenas em momentos como esse, em que tudo ao redor parecia se alinhar. A música me envolvia, e por alguns minutos, esqueci qualquer preocupação, apenas guiando o carro com o bolo ainda ao meu lado, embalada pelo ritmo que deixava o mundo um pouco mais leve.

Quando estacionei, desci o mais rápido possível, indo em direção à porta de entrada com o bolo nas mãos. Mas logo parei, sentindo um estranho arrepio ao perceber algo fora do comum.

A porta estava entreaberta, o que já era estranho, mas um som suave de música vindo de dentro me pegou de surpresa. Empurrei a porta devagar, e a cena que se revelou me deixou paralisada: a sala estava decorada com balões e fitas coloridas, uma surpresa que parecia planejada nos mínimos detalhes.

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