CALLIOPE
Eu estava ao telefone, discutindo arranjos com um cliente importante. Ele era um dos nomes mais renomados em decorações de casamento, e qualquer deslize naquela ligação poderia significar perder uma oportunidade valiosa. Minha voz soava calma, profissional, enquanto eu sugeria flores, cores e combinações que poderiam se encaixar na visão luxuosa que ele queria para o evento.
– Pense em um mix de peônias e ranúnculos. Eles trazem um toque de delicadeza, mas ainda têm presença suficiente para se destacar – Comentei, esperando sua reação do outro lado da linha.
Foi então que ouvi a voz de Laura atravessar o silêncio da loja, gritando algo que não consegui entender. Não era só um grito qualquer, mas cheio de raiva e... desespero?.
Laura nunca foi de levantar a voz, ainda mais com tamanha intensidade. Aquele som cortou minha concentração como uma lâmina. Meu coração disparou, como se soubesse que algo estava terrivelmente errado.
– Senhor, irei te mandar um portifólio com todos os arranjos e possíveis decorações pelo e-mail, não se preocupe. Caso alguma coisa não estiver do seu agrado, peço que me envie um rascunho para alterações, tenha uma ótima noite – Falei ao telefone, tentando não demonstrar minha ansiedade, antes de finalizar a conversa rapidamente e ir até Laura.
Ao desligar a ligação e me virar, saindo de trás do balcão, encontrei Laura de joelhos no chão, com uma expressão furiosa, cercada por areia espalhada por todos os lados. A cena era um caos de terra adubada.
– Laura, como você consegue ser tão desastrada? – Exclamei, não conseguindo esconder a diversão ao ver o desastre.
Laura levantou a cabeça abruptamente, visivelmente irritada, as bochechas levemente coradas.
– Não fui eu!. Foi aquele garoto da padaria que saiu daqui há pouco. Ele fez uma bagunça e simplesmente foi embora. Agora, adivinha?, sou eu quem tem que limpar tudo!
Me aproximei devagar, observando o brilho irritado nos olhos dela e me esforçando para conter um sorriso. Era engraçado como Laura ficava adorável quando estava brava, mesmo que tentasse parecer ameaçadora. A testa franzida e o tom agudo de sua voz mais me divertiam do que assustavam.
– Talvez tenha sido sem querer – Sugeri, encostando-me ao balcão com um ar descontraído. – Ele não teria motivo pra fazer isso de propósito.
Laura cruzou os braços e estreitou os olhos para mim, mas antes que pudesse dizer algo, completei com um tom leve:
– E você, está de TPM?. Porque eu conheço bem esse olhar de fúria...
O efeito foi imediato. Ela bufou, e eu podia jurar que a irritação ficou ainda mais evidente em seu rosto. Mas, no fundo, era exatamente o tipo de provocação que sempre a fazia esquecer o motivo real de sua raiva.
Laura fez uma careta, e depois riu.
– TPM ou não. Eu vou naquela padaria e colocar areia em todos os doces deles – Disse se levantando e abanando suas roupas. – Garoto idiota.
Olhei para Laura, mal conseguindo conter o riso diante de sua expressão de exaustão exagerada.
– Se anime, Laura. Vou te ajudar a limpar isso. Não vou deixar você fazer tudo sozinha, né?
Ela me olhou, e a irritação em seu rosto deu lugar a um alívio evidente.
– Ah, obrigada, Calliope. Estava começando a achar que ia ficar aqui para sempre.
Sorri de leve, dando um passo em direção ao depósito.
– Só um minuto, vou pegar a pá e a vassoura – Disse, gesticulando para que ela permanecesse onde estava. – Fica aí que já volto.
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ENTRE FLORES E SEGREDOS
RomanceDARK ROMANCE | +18 A vida pacífica de Calliope Lewis na floricultura da família é virada de cabeça para baixo quando ela recebe uma fita cassete e uma carta misteriosa. Envolvida em um jogo psicológico de gato e rato, ela enfrenta uma perigosa batal...