CAPÍTULO 20 | VOCÊ É MINHA

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O hospital estava em silêncio absoluto, exceto pelo som ocasional de máquinas monitorando minha recuperação e a leve brisa que entrava pela janela entreaberta. Mesmo adormecida, algo me incomodava. Havia um peso no ar, uma sensação desconfortável que não me deixava descansar completamente.

A sensação de estar sendo observada ficou cada vez maior. Minha pele estava gelada, mas ao mesmo tempo meu corpo queimava. Meus sentidos, mesmo ainda imersos no sono, começaram a despertar. A consciência lentamente foi retornando, e quando abri um pouco os olhos, minha visão ainda turva captou uma figura sentada no sofazinho no canto do quarto. Uma sombra escura, imóvel.

Meu coração acelerou imediatamente. Caius?. Não podia ser ele. Ele estava usando uma blusa branca quando saiu, e a figura que estava ali era completamente coberta de preto, como se o próprio breu tivesse se moldado em um corpo humano. Tentei controlar minha respiração, mantendo-a calma, silenciosa, enquanto meu cérebro tentava processar o que estava acontecendo. O medo apertou o meu peito, e meu corpo ficou tenso, mas eu não podia me mover... não ainda. Não até entender quem ou o que estava ali.

A sombra se levantou lentamente, seus movimentos eram calmos, calculados, mas havia algo profundamente perturbador em sua postura. Eu queria acreditar que era apenas minha mente pregando peças, que eu estava imaginando coisas, mas a sombra continuou se aproximando. Ele deu um passo em minha direção, e a cada passo que dava, o pavor se instalava ainda mais fundo em mim. Era como se o próprio ar ao redor ficasse mais frio.

Ele se aproximou da cama, e eu não consegui evitar o arrepio que percorreu minha espinha.

Quem é esse?.

A figura ergueu a mão, tão silenciosa quanto seus passos, e senti o toque leve de seus dedos na linha do meu rosto. Meu coração parou por um instante quando ele traçou um caminho pela minha bochecha até o meu pescoço, sua palma era calejada e quente.

Quando a figura inclinou-se mais perto, eu pude sentir o calor de sua respiração contra minha pele. O perfume era amadeirado, familiar, mas ao mesmo tempo perturbador em sua proximidade. Era quase como se ele estivesse saboreando aquele momento, absorvendo cada fragmento da minha vulnerabilidade.

Então, ele fez o inesperado. Sua boca tocou levemente o canto da minha, um beijo sutil e suave, um gesto de domínio, como se estivesse marcando território.

Aquele momento foi o suficiente para me arrancar do estado paralisado em que eu estava. Meu corpo reagiu antes que minha mente tivesse tempo de entender o que estava acontecendo. Em um impulso, me sentei abruptamente, o ar pesado e entrecortado saindo de meu peito enquanto meus olhos fixavam a figura à minha frente. O susto reverberou em mim como um choque elétrico, fazendo meu coração disparar, batendo descompassado e frenético.

Agora, na penumbra, a figura se tornava mais nítida. Ele inclinou a cabeça lentamente para o lado direito, como se se divertisse com o pânico evidente que me consumia. Seus olhos brilhavam intensamente na escuridão, e um sorriso debochado e malicioso se formava em seus lábios, ampliando minha sensação de ameaça e desespero.

– Estava acordada esse tempo todo? – A voz era baixa, rouca, carregada de sarcasmo. – Só estava esperando um beijo meu para finalmente despertar, safadinha.

Meu corpo ficou rígido, e eu soube naquele instante que não era meu marido. Caius nunca teria uma atitude assim.

– S.H? – Perguntei receosa.

Ele soltou uma risada baixa e sarcástica, batendo palmas lentamente, como se estivesse assistindo a um espetáculo e se divertindo com a minha reação.

– Você sabe quem sou eu? – Ele perguntou, a voz cheia de... Alegria?. – Estou me sentindo especial.

– O que você está fazendo aqui? – Minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia. A mistura de medo e confusão me dominava, mas tentei manter algum controle.

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