CAPÍTULO 21 | APOIO

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Eu havia arrastado o pequeno sofá para frente da janela, buscando um refúgio na visão do mundo lá fora. Sentada ali, meus olhos vagavam pelo jardim impecável do Saint Claire Medical Center. Árvores frondosas e arbustos meticulosamente podados se alinhavam como se fossem parte de um quadro vivo, cada folha no lugar certo, cada sombra estrategicamente calculada. Os caminhos de pedra serpenteavam pelo gramado verde vibrante, pontilhados por bancos elegantes e pequenas fontes de água, onde o som suave do fluxo parecia ecoar um luxo silencioso.

As paredes externas do hospital eram de um tom capuccino sofisticado, as grandes janelas refletindo o céu em tons suaves, como se o próprio edifício tivesse sido projetado para transmitir calma e exclusividade. Mesmo de longe, era possível ver os detalhes impecáveis da arquitetura, linhas modernas, ângulos bem definidos, e uma imponência discreta que denunciava o preço altíssimo daquela tranquilidade artificial.

Cada detalhe gritava luxo, poder. Um lugar feito para poucos. Um lugar que só alguém como Caius poderia pagar.

A luz fraca da manhã começava a iluminar o horizonte, pintando o céu com tons suaves de cinza e azul, um prenúncio silencioso do dia que se aproximava. O mundo lá fora ainda parecia envolto em sombras, as primeiras cores da aurora tingindo as nuvens como pinceladas hesitantes. O ar carregava uma serenidade quase frágil, como se o dia ainda não tivesse certeza de si mesmo.

Eu havia passado mais uma noite em claro. Cada som, cada sombra no quarto parecia carregar a ameaça do homem da noite anterior. A imagem da faca cravada na parede ainda latejava na minha mente. A marca ainda estava lá, mas a faca havia desaparecido, sem nem ao menos eu notar. Meu coração não diminuiu o compasso desde então, batendo rápido, como se quisesse fugir do próprio peito.

Para piorar, o silêncio do outro lado do telefone era ensurdecedor. As mensagens que enviei para Caius continuavam sem resposta, as chamadas não atendidas pareciam ecoar no vazio. Cada segundo sem retorno era como uma agulha sob a pele. O silêncio dele me inquietava mais do que eu queria admitir.

Laura provavelmente perceberia se eu falasse algo, mas não quis. Não queria perturbá-la com as minhas preocupações. Ela já havia feito tanto por mim. Carregar mais esse fardo seria injusto.

Então, me calei. Mantive o medo guardado, como um veneno que coagulava o meu sangue lentamente.

O dia já clareava e eu precisava me preparar para ir embora.

Me levantei ainda um pouco tensa, peguei minha escova e pasta na bolsa e fui ao banheiro. Escovei os dentes com movimentos lentos, observando meu reflexo com um olhar cansado. Me troquei com cuidado, evitando qualquer movimento que pudesse abrir o machucado no meu dorso, onde o soro havia sido arrancado. Ao passar a mão pelo dorso, o hematoma roxo e dolorido me fez franzir a testa. Cada toque parecia amplificar a dor, e o simples ato de vestir as roupas era um desafio.

Enquanto me preparava para voltar para a cama, o som que cortou o silêncio do quarto. Era uma voz que eu reconheci imediatamente.

– Eu vou ver minha filha agora! – A voz soava com uma urgência, uma voz tão acolhedora para mim. – Não me encostem, se não eu irei fazer um boletim contra esse hospital.

Meu coração deu um salto. A voz era inconfundivelmente, minha mãe estava aqui. A sensação de alívio e felicidade me invadiu instantaneamente, mas a confusão rapidamente se seguiu. O hospital não era lugar para minha mãe estar. Por que ela estava aqui?. Como ela tinha conseguido chegar até aqui?.

Antes que eu pudesse processar completamente, a porta do quarto se abriu abruptamente, batendo contra a parede com um estrondo. Minha mãe entrou, sua expressão de irritação era clara, e eu quase pulei de susto ao vê-la. Atrás dela, duas enfermeiras e Dana, com expressões preocupadas e cansadas.

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