Desci as escadas devagar, sentindo o peso da bolsa firme no ombro e ouvindo o leve rangido de cada degrau. Ao chegar ao último, parei e conferi mentalmente se tudo estava comigo. Abri o zíper da bolsa, observando cada item: as chaves do carro no bolso lateral, o celular seguro no compartimento pequeno junto com o carregador, a sacola com o bolo cuidadosamente embrulhada, e a carteira bem no fundo, com o zíper fechado.
Satisfeita, fui até a cozinha. Abri a geladeira e uma brisa fria escapou, me fazendo arrepiar. Peguei as três vasilhas de bolo que havia separado, cada uma empilhada com cuidado, e fui até o armário, agachando para buscar uma sacola onde pudesse colocar tudo. Me estiquei um pouco mais, vasculhando o fundo do armário, até que meus dedos encontraram uma sacola esquecida ali. Coloquei as vasilhas dentro dela com cuidado, certificando-me de que estavam bem ajustadas para não tombar.
Então, caminhei até a porta. Girei a chave para sair, mas o som de passos lentos nas escadas me fez parar. Virei-me e vi minha mãe descendo, os olhos ainda pesados de sono. Ela coçava o rosto e bocejava baixinho, ajeitando o robe nos ombros.
– Bom dia, mamãe. Dormiu bem? – Perguntei indo em sua direção.
– Dormi maravilhosamente bem, minha querida – Assim que me aproximei, me inclinei e beijei sua bochecha direita. Ela sorriu. – Acredita que eu sonhei com a festa de ontem?.
– E o sonho foi bom? – Perguntei, me afastando enquanto pegava a sacola.
– Foi sim!. Ainda mais porque, nele, eu comi aqueles doces de geleia de morango.
– Será que vou ter que comprar mais daqueles doces pra você? – Disse, rindo, com as mãos na cintura, já quase na porta.
– Não precisa, minha filha – Respondeu, balançando a mão de leve enquanto seguia para a cozinha. – O sonho foi tão real que eu ainda sinto o gosto na boca.
Eu já estava abrindo a porta quando ouvi sua voz baixa, quase como se falasse para si mesma.
– Só não entendo o motivo daquele garoto da fita ter me entregado os doces no sonho. Como é que aquele danadinho sabia de quais eu gosto?. Os sonhos são tão doidos...
Ela soltou uma gargalhada suave e sumiu da minha vista, enquanto eu ficava ali, sorrindo sozinha.
Garoto da fita?, "S.H"?.
Que merda, por qual motivo minha mãe estaria sonhando com ele?.
– Calliope, não se preocupe, sua mãe só sonhou. Normalmente sonhamos com coisas que acontecem no nosso dia a dia – Disse para mim mesma. – Não é nada, não é nada, não é nada – Com esse mantra eu finalmente sai de casa trancando a porta
A manhã estava fresca, o sol recém-nascido espalhando cores suaves pelo céu, uma mistura de laranja e rosa que parecia tingir o dia com uma promessa de calma. O ar tinha o cheiro leve do orvalho, úmido e revigorante, aquele frescor típico das primeiras horas que sempre parecia despertar algo em mim. Qualquer outro dia começando assim seria um alívio, mas hoje minha mente já estava em alerta, uma tensão sutil que eu não conseguia ignorar.
Entrei no carro, sentindo o couro frio do banco sob minhas mãos. Coloquei o cinto, ajustei o retrovisor e virei a chave, o som do motor ligando ecoando suave, quase como uma pequena pausa na quietude da manhã. Respirei fundo, tentando aproveitar aquele momento. Liguei o rádio, deixando que a melodia calma da estação preenchesse o silêncio. Era o som exato que eu precisava, algo para me manter centrada, enquanto os pensamentos começavam a se organizar, prontos para o que quer que estivesse por vir.
A viagem até a floricultura foi tranquila. O trânsito estava leve, e as ruas ainda meio vazias, como se a cidade também despertasse devagar naquela manhã. A calmaria do trajeto me deu tempo para pensar, e minha mente, inevitavelmente, voltou à noite passada. O que aconteceu ainda rondava minha cabeça, uma lembrança incômoda que eu tentava afastar, mas que teimava em retornar. Ainda assim, conforme os quilômetros se acumulavam, eu me forçava a lembrar que minha vida não se resumia a Caius; havia um mundo fora do nosso relacionamento, e responsabilidades que precisavam da minha atenção.
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ENTRE FLORES E SEGREDOS
DiversosDARK ROMANCE | +18 A vida pacífica de Calliope Lewis na floricultura da família é virada de cabeça para baixo quando ela recebe uma fita cassete e uma carta misteriosa. Envolvida em um jogo psicológico de gato e rato, ela enfrenta uma perigosa batal...