CAPÍTULO 17 | O HOSPITAL

5 0 0
                                    

Fiquei ali, deitada, tentando lutar contra a sensação crescente de impotência. Cada som ao meu redor parecia uma ponta de um faca perfurando o meu cérebro. O bip constante das máquinas, os passos suaves da enfermeira no corredor, o suspiro cansado de Caius ao meu lado... tudo contribuía para a inquietação que não parava de crescer dentro de mim.

Fechei os olhos, tentando respirar fundo, mas a imagem da caixa de doces e da frase continuava a se formar na minha mente, repetidamente. Não importava quantas vezes eu tentasse afastá-la, ela retornava, insistente. Como se fosse um sinal, uma ameaça disfarçada.

– Calliope, você precisa descansar – Caius repetiu, sua voz gentil, mas firme, enquanto me observava.

Eu sabia que ele estava preocupado, mas também sabia, no fundo, que ele não acreditava verdadeiramente no que eu estava dizendo. O olhar de Caius, embora atento, tinha aquela sombra familiar de ceticismo, aquele jeito calculado que ele usava quando achava que estava lidando com algo irracional, algo que ele poderia resolver com lógica. Para ele, tudo isso devia parecer fruto do meu estresse, uma confusão alimentada pelo medo e pelo cansaço.

Eu queria gritar, mas sabia que seria inútil. Em vez disso, deixei as palavras saírem baixas, carregadas com toda a vulnerabilidade que eu tentava esconder:

– Eu não consigo descansar – sussurrei, minha voz quase falhando, enquanto lutava contra o tremor que ameaçava dominá-la. – Tem algo errado, Caius. E não vai desaparecer só porque eu fechei os olhos.

Minha garganta queimava, o peso das palavras parecia apertar ainda mais o nó que já estava ali. Ele permaneceu em silêncio por um instante, mas foi o bastante para que a sala parecesse congelar ao nosso redor. Observei cada detalhe de sua expressão, procurando qualquer sinal de que ele estava ouvindo de verdade, não apenas esperando a vez de me dar uma resposta reconfortante, mas vazia.

Sua mandíbula se contraiu, quase imperceptivelmente, enquanto ele desviava o olhar por um breve segundo antes de voltar a me encarar. Seus olhos tinham uma suavidade que parecia lutar contra a lógica. E ali estava: um pequeno lampejo de hesitação. Ele não tinha certeza. Talvez, apenas talvez, minhas palavras estivessem começando a se infiltrar pelas paredes de sua descrença.

Eu me agarrei a essa possibilidade com a força de quem está prestes a se afogar. Mesmo que fosse um fio frágil, era tudo o que eu tinha. Meu peito subia e descia rapidamente, mas não pela exaustão, era o medo de que ele decidisse ignorar aquele lampejo e me tratasse como alguém que estava perdendo a cabeça.

– Calliope... – Ele começou, sua voz grave e baixa, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado.

Eu não consegui esperar.

– Por favor – Interrompi, o desespero agora claramente escorrendo na minha voz. – Só ouça. Só me ouça, Caius. Algo está errado. Não é coisa da minha cabeça. Eu sinto... eu sinto isso aqui – coloquei a mão sobre meu peito, apertando como se pudesse arrancar a sensação que parecia sufocar meu coração.

Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse absorvendo as minhas palavras. E, por um segundo, seus olhos se suavizaram ainda mais. Mas, antes que ele pudesse responder, um pensamento atravessou a minha mente como uma faca: e se ele estivesse apenas fingindo, só para me acalmar?.

O que seria pior?. Ele duvidar de mim ou fingir que não?.

Eu desviei o olhar, encarando o lençol sobre mim, enquanto o peso do momento parecia me esmagar. Por que é tão difícil acreditar em mim? Eu me perguntava, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Por que, mesmo quando tudo está gritando que algo está errado, eu ainda me sinto sozinha nisso?

ENTRE FLORES E SEGREDOS Onde histórias criam vida. Descubra agora