CAPÍTULO 9 | RECONCILIAÇÃO

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A noite passou devagar, e o sono foi interrompido por pensamentos que não me deixavam descansar completamente. Virei-me várias vezes na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas a inquietação não me permitia relaxar. Podia sentir o corpo quente de Caius ao meu lado, o ritmo constante de sua respiração indicando que ele também estava acordado.

Não consegui evitar o turbilhão de emoções dentro de mim. O que havia acontecido com nós dois?. Como chegamos a esse ponto, onde palavras e toques simples eram cheios de inseguranças e medos?. Senti o peso de todas as escolhas que fizemos, de todas as palavras não ditas, e das mágoas acumuladas ao longo do tempo.

Em algum momento, senti Caius se mover ao meu lado. O leve ranger do colchão foi seguido pelo toque suave de sua mão em meu braço. Ele não disse nada, mas o gesto foi o suficiente para me fazer sentir um pouco mais segura, como se ele estivesse tentando me dizer que, apesar de tudo, ainda estava aqui comigo.

Fechei os olhos, tentando focar apenas na sensação da mão dele contra minha pele, o calor que lentamente parecia derreter o cansaço preso em meus músculos. Minha respiração foi ficando mais profunda, e aos poucos senti o corpo afundar no colchão, até que o sono finalmente me envolveu por completo.

O sonho veio com uma força avassaladora. Me vi de pé, numa estrada, envolta numa névoa densa e fria que se agarrava à minha pele como dedos invisíveis. Os faróis de um carro cortavam a escuridão à distância, iluminando a estrada molhada e estreita, e eu sabia, com uma clareza desconfortável, de qual carro se tratava.

O som de pneus derrapando ecoou no ar, cada segundo se arrastando como se o tempo tivesse perdido sua lógica. Eu não conseguia mover um músculo, apenas observava enquanto o carro deslizava de forma descontrolada, até que um impacto seco, cortante, atravessou o silêncio como uma lâmina. Meu corpo reagiu, o coração disparando enquanto eu permanecia ali, uma figura estática numa cena que parecia ao mesmo tempo familiar e estranha.

O cheiro de gasolina se misturava ao ar, e a visão borrada das luzes dançava na neblina, como se as sombras ao redor ganhassem vida própria. Parte de mim queria correr para o carro, ver o rosto do meu pai, mas meus pés pareciam enraizados no asfalto frio. Era como se eu estivesse presa entre a necessidade de agir e a incapacidade de enfrentar o que eu sabia que encontraria.

E havia uma sensação… uma presença silenciosa de culpa que eu não conseguia explicar, mas que apertava meu peito como um peso invisível. Eu observava a cena com uma inquietação que crescia, e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, tudo começou a desvanecer. As sombras se desfizeram, o carro e a estrada desapareceram como uma miragem, deixando apenas aquele peso amargo no meu peito.

Acordei com os primeiros raios de sol entrando pelas frestas das cortinas. O calor da luz suave do início da manhã tocou meu rosto, trazendo-me lentamente de volta à realidade. A noite, embora conturbada, havia passado, e com o novo dia vinha a oportunidade de tentar de novo. Pisquei, tentando afastar o sono, e percebi que Caius ainda estava ao meu lado, deitado de costas com o braço jogado sobre a testa. Sua respirando estava, calma, lenta e ritmada. Olhei para ele, e por um momento, apenas observei.

Ele parecia tão sereno enquanto dormia. O rosto dele estava tranquilo, e por um momento, parecia tão pacífico que quase me esqueci de todas as preocupações.

Quase.

Levantei-me da cama com cuidado, pisando devagar para não fazer nenhum ruído que pudesse acordá-lo. Fui até o banheiro e me encarei no espelho. Meus olhos estavam levemente inchados, resquícios do sono conturbado que me puxou para um passado que eu preferia manter adormecido. Meu cabelo estava um caos, caindo de forma desordenada sobre os ombros.

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