Luca Hollis
Estava saindo do banheiro quando dei de cara com Hannah. Ela estava escorada na parede, segurando uma toalha com os braços cruzados na frente do corpo. Tinha passado o jantar todo observando Hannah, porque nunca tinha ficado tão perto dela assim. E era interessante observá-la perto do irmão e da cunhada. Parecia uma pessoa bem diferente do que eu estava acostumando a ver na faculdade.
—Mason dormiu na sua cama? —Questionou, e eu confirmei com a cabeça, olhando na direção do quarto que eu estava ocupando. Tinha deixado a luz apagada, porque não sabia bem se devia deixá-lo lá ou levá-lo pro próprio quarto.
—Ele estava me mostrando suas Hqs. Fiquei com dó de mexer nele, porque ele parecia bem confortável. —Falei, e Hannah abriu um sorriso que fez alguma coisa se contorcer no meu peito.
—Mason dorme em qualquer lugar. Zack já está subindo. Ele o leva pra cama. —Prometeu, e eu assenti com a cabeça, dando espaço para que Hannah pudesse entrar no banheiro, porque era óbvio que eu estava atrapalhando ela ali. —Eles pareceram gostar bastante de você.
—Eu não menti quando disse que me dava bem com elas. —Afirmei, parando no meio do corredor para olhar para Hannah, porque ela ainda não tinha feito menção de entrar no banheiro. Parecia que ela queria conversar comigo. Gostaria de saber como puxar assunto com ela, mas minha mente virava um borrão quando tentava pensar em qualquer coisa.
—Sim, você não gosta de adultos e tem um jeito ótimo com crianças. —Hannah sorriu mais ainda, antes de morder o lábio inferior e balançar a cabeça. —Quero ver como você vai se sair quando os 11 estiverem juntos. Sei que não gosta de festas, mas quando minha família se junta é basicamente uma festa.
Fiquei sem saber o que dizer, porque não sabia que Hannah tinha notado minha aversão por festas. Aquilo me deixou curioso pra saber se ela notava todas as festas que eu não estava presente. Se ela procurava por mim de alguma forma. Se fosse isso, acho que eu não ia conseguir olhar pra ela de novo, porque era um detalhe que eu não saberia lidar.
—Ah, eu não pude te agradecer por aquele dia. Eu não costumo beber, sabe? Mas naquela festa eu me deixei levar porque estava me sentindo meio sozinha e achei que precisa. —Hannah soltou uma risada sem graça, como se estivesse tentando se explicar pra mim. —E eu nem lembro de você ter me levado pro alojamento, mas obrigada por isso.
—Não precisa agradecer. Era o certo a se fazer. —Falei, sentindo que não conseguia respirar quando encarei os olhos de Hannah, porque havia expectativa ali e eu queria tanto poder supri-las. Pensei em agradecê-la também, porque aquilo deixava nós dois quites, mas as palavras ficaram grudadas na minha boca.
—Boa noite, Luca. —Hannah falou depois de uns segundos, porque o silêncio entre nós se estendeu de forma estranha, até ela se cansar de esperar por mim.
—Boa noite, Hannah. —Sussurrei, mas ela já tinha entrado no banheiro e fechado a porta, sem ouvir o que eu tinha dito. Fechei meus olhos com força, porque eu deveria estar parecendo um bobo parado no meio daquele corredor, sem conseguir conversar direito com uma garota.
—Você gosta dela. —Escutei uma voz melódica dizer e me virei para encarar Charlote, que estava escondida dentro do quarto dela, observando tudo por uma fresta na sua porta.
—Você não deveria estar dormindo? —Questionei, caminhando até a porta do quarto dela, vendo Charlote a abrir. Já estava usando um pijama amarelo cheio de nuvens fofas.
—Você não deveria falar pra ela que gosta dela? —Retrucou, e eu quase soltei uma risada com o quão rápido ela veio com uma resposta. Já tinha percebido que Charlote parecia ser bem inteligente, assim como o irmão mais novo. —Eu vi você olhando pra ela durante o jantar.
—E como é que eu estava olhando pra ela? —Questionei, escorando minhas mãos no joelho quando me inclinei pra ficar da altura de Charlote. Ela mordeu o lábio, se balançando de um lado para o outro enquanto parecia pensar.
—Como se ela fosse muito linda e você não conseguisse parar de olhar. —Ela deu de ombros, como se aquela fosse a melhor explicação que ela tinha achado. Abri um sorriso, balançando a cabeça para os lábios, enquanto Charlote me observava com curiosidade. —E então?
—E então o que?
—Você não acha ela linda? —Insistiu, e eu me ergui para olhar os dois lados do corredor, vendo que não havia ninguém por perto. Charlote segurou minha mão e me puxou para dentro, fechando a porta e me levando até sua cama. —Papai está vendo jogo e a mamãe está lá com ele. Ninguém vai ouvir.
—Você é bem espertinha, não é? —Falei, e Charlote tombou a cabeça de lado, piscando pacientemente pra mim, com aqueles olhos castanhos claro parecendo cheios de sono. —Sim, sua tia Hannah é realmente linda.
—Por que não diz isso pra ela? —Indagou, parecendo estar um pouco perdida.
—Eu não sei como fazer isso. —Afirmei, abaixando a cabeça enquanto sorria ao ver Charlote balançar as pernas no ar, porque a cama era um pouco maior pra ela. —E a sua tia é legal demais pra mim. Acho que eu a deixaria entediado.
—Ela não parecia entediada no jantar. Ela ficou olhando pra você também, eu vi. —Charlote sussurrou, como se estivesse me contando um segredo. —E você só precisa falar, não é tão difícil. A gente fala o tempo todo.
—É, mas normalmente eu fico meio travado pra conversar. Nunca sei o que dizer ou o que fazer. A gente chama isso de timidez, mas acho que você nem sabe o que é isso, porque parece ser bem corajosa. —Ergui a mão e apertei de leve a ponta do nariz de Charlote, o que a fez soltar uma risada e os olhos quase se iluminarem pra mim.
—Você pode escrever então. —Ela deu de ombros, como se essa fosse uma solução muito boa. Franzi a testa, me perguntando se tinha ouvido certo.
—Escrever? —Repeti, é pra minha surpresa Charlote revirou os olhos, de uma forma que eu tinha certeza de que ela me achava muito tapado.
—É, escreve uma carta pra ela e coloca embaixo da porta. Quando ela acordar de manhã ela encontra. —Explicou, e eu abri e fechei a boca algumas vezes, me perguntando como ela tinha chegado aquela ideia tão interessante. —Ai você pode escrever tudo que pensa sobre ela, mas que a sua timidez não deixa você falar.
Soltei uma risada, balançando a cabeça enquanto erguia a mão para esfregar minha testa, porque de primeira a ideia pareceu boba, mas agora parecia bem interessante. Eu podia escrever só uma cartinha de nada, agradecendo Hannah pelo dia da festa. Falar o que normalmente ficava preso na minha garganta. Eu acho que deveria isso a ela.
Olhei para Charlote, vendo-a ficar de pé e ir até sua escrivaninha. Ela veio de lá com um papel rosa e uma caneta roxa cheia de glitter. Não consegui não rir disso, porque Charlote parecia ansiosa para me ajudar. Peguei o papel e a caneta da mão dela, soltando uma respiração pesada antes de começar a escrever. E me surpreendi ao ver que fazer aquilo era realmente bem mais fácil do que falar pessoalmente.
—Ah, não, nada de ler por cima do meu ombro, espertinha. —Soltei, porque Charlote tinha ficado de pé em cima da cama e estava tentando ler o que eu tinha escrito. Dobrei a folha e devolvi a caneta para Charlote. —Muito obrigada, você me ajudou bastante.
—Posso colocar embaixo da porta dela? —Charlote questionou, e eu abri um sorriso e estendi o papel pra ela.
Meu coração disparou feito um carro de corrida quando segui ela pro corredor, sentindo a ansiedade abrir um buraco no meu peito quando Charlote enfiou aquele papel embaixo da porta de Hannah. Ou ela ia achar aquilo super fofo, ou me acharia um esquisito enorme. E eu nem queria saber o que Hannah pensava sobre o fato de eu nunca ter beijado. Acho que eu prefiro me jogar em um buraco e me esconder pra sempre.
—Você me deve um sorvete. —Charlote afirmou, entrando no seu quarto e fechando a porta antes que eu tivesse a chance de responder. Soltei uma risada, porque as mulheres daquela família eram bem interessantes.
Continua...
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A última jogada do coração/ Vol. 3
RomanceHannah Carson parece ter tudo sob controle: suas notas na faculdade são impecáveis, ela se destaca como a melhor patinadora da equipe, e sua popularidade entre os colegas é perfeita. Mas, ultimamente, nada disso tem realmente preenchido o vazio que...