Capítulo 12: Querido Luca.

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Luca Hollis

Abri os olhos quando meu celular começou a tocar na mesinha ao lado da cama. Ainda parecia bem cedo, mas me inclinei para ver quem era e abri um sorriso assim que li o nome de Jasmine na tela. Me ajeitei na cama antes de atender, vendo o rosto dela preencher a tela do meu celular.

Jas — Oi, espero não ter te acordado. Pensei que você já estaria de pé. Desculpa não conversar com você ontem, foi meio corrido por causa do feriado.

Luca — Eu acabei de acordar. Não tem problema. Como estão as coisas por ai?

Jas — Estou super cansada e morrendo de sono. Adeline acordou várias vezes essa noite, o que foi bem caótico. Eu e o Briar revezamos durante a noite. Ele está tentando faze-la dormir mais um pouco agora, porque ela acordou com um pouco de cólica.

Luca — Aposto que o Briar está tendo mais sorte do que você tentando acalma-la

Jas — Ah, isso é inacreditável, sabia? Ela só precisa ouvir a voz dele que já fica toda calminha e com um sorrisinho derretido. Bem que a mamãe avisou sobre ele ficar conversando com a minha barriga a gestação inteira.

Acabei rindo, porque apesar do tom dela soar um pouco ofendido pela clara preferencia da filha no pai, Jasmine também parecia feLiz pelas coisas estarem sendo como são. Eu ficava feliz por ver o quão bem ela estava indo na vida dela com Briar. Queria conseguir ter essa mesma sorte, porque a família que os dois estavam construindo era linda.

Jas — Ei, eu li suas mensagens de ontem. Como estão as coisas por ai? Tá tudo bem? Você disse que estava se sentindo um pouco pra baixo. Aconteceu alguma coisa?

Luca — Não, está tudo bem, só minha velha dificuldade de ser sociável. Pelo visto eu não vou melhorar nunca nisso.

Jas — É normal, Luca. Você tá literalmente fora da sua zona de conforto. Fora de casa e sem nossos irmãos por perto. Mas você se acostuma. E vão ser só por algumas semanas, não é?

Luca — Claro, e eu nem estou reclamando, porque os Carson são ótimos e o Zack e a Bia estão fazendo eu me sentir em casa.

Jasmine falou algo que não ouvi, porque estava prestando atenção na conversa no corredor. As crianças tinham acordado e já estavam de pé, claramente pedindo comida aos pais. Fiquei com vontade de me enfiar embaixo das coberta e fingir que ia dormir a manhã toda, porque não estava nem um pouco ansioso para ver Hannah e imaginar o que ela ia falar sobre a carta.

Jas — Luca, você não está mais naquele hospital.

Luca — Eu sei, eu sei. Eu nem fico... nem fico pensando muito nisso. Como você disse, eu estou fora da minha zona de conforto, mas as coisas vão se tornar mais calmas pra mim com o passar dos dias. É só eu me acostumar com a rotina nova.

Jas — Tem certeza que está tudo bem?

Luca — Claro, eu estou bem. Vou ver o Wyatt hoje, então...

Jasmine me encarou com uma expressão desconfiada, como se achasse que eu estava escondendo alguma coisa. E eu estava mesmo, porque eu estava me sentindo inquieto por causa da mudança de ambiente e da presença de Hannah. Ela parecia exalar uma força que me tirava do meu ponto de equilíbrio.

A enchi de perguntas sobre Adeline, até Jasmine esquecer o assunto que estávamos tendo. Quando desligamos o celular, eu já me sentia bem mais leve. Se Jas tinha conseguido superar todos os sentimentos ruins que ficaram mesmo depois da adoção, eu podia conseguir também.

Sai da cama, me espreguiçando de leve. Estava decidindo como lidar com Hannah quando a encontrasse lá embaixo quando vi o papel dobrado no chão em frente a porta. Engoli em seco muito lentamente, porque nem precisava pegar e ler pra saber de quem era. Hannah tinha me respondido,

—Puta merda! —Soltei, ficando de pé, sem ter coragem de pegar o papel e ver o que ela tinha dito. Meu coração chegou a garganta, enquanto o sangue latejava na minha cabeça enquanto eu tentava controlar minhas emoções.

Contei minha respiração até 10, antes de me abaixar e juntar o papel. Não era rosa como o que Charlote tinha arrumado pra mim, nem mesmo a caneta era roxa e brilhosa. Mas a letra de Hannah era impecável e bonita. Não havia qualquer possibilidade de eu não me sentir menos afetado por ela depois disso. Se ela já me deixava desestabilizado normalmente, com aquela carta eu tinha certeza de que nada seria como antes.

Querido Luca,
Sua carta não tem absolutamente nada de constrangedora, assim como o que aconteceu na festa. Não tem nada de errado em nunca ter beijado alguém antes e seus amigos são uns idiotas por fazerem piada disso. Na verdade, acho que você é muito fofo por nunca ter ficado com ninguém antes. Tente não evitar festas pelo que aconteceu, apesar de você não gostar delas. Da próxima vez que você for, posso te ajudar a fugir de jogos de verdade ou desafio e perguntas constrangedoras, além de fazer você se divertir na festa de verdade.
Não me importo se você não tenha conseguido me agradecer pessoalmente, porque vi nos seus olhos aquela noite que você estava super grato pelo que eu tinha feito. E não me importo que também não consiga falar comigo quando está na minha frente. Nunca vou achar você bobo por qualquer uma dessas coisas. Você me achou incrível aquela noite. Acho você incrível quando está jogando hóquei e, principalmente, quando está fora do rinque.

H. Carson.

Passei a mão no rosto, apertando o papel contra o meu peito, sentindo os batimentos frenéticos do meu coração. Não conseguir evitar o sorriso que estava no meu rosto, que fez minhas bochechas até doerem de tão grande que estava. E meu Deus, Hannah Carson era perfeita. Quando deixei Charlote passar aquele papel por baixo da porta dela, não estava esperando receber uma resposta e muito menos algo como aquilo ali que ela tinha escrito.

Me sentei na cama antes de reler a carta mais umas 10 vezes, até estar com tudo gravado na minha cabeça. Cada palavra naquele papel. Então o guardei dentro do meu caderno de desenhos, junto com um desenho que eu tinha feito de Hannah no começo do ano, quando vi uma das suas apresentações no gelo.

Tinha prometido a mim mesmo que ia ser apenas uma carta pra agradecer a Hannah, mas o fato de ela ter me respondido provavelmente logo depois de acordar e encontrar o que eu tinha feito, me deixava ansioso para a noite chegar e eu conseguir dar uma resposta pra ela. Mais uma carta não faria mal a ninguém e eu não podia negar que estava curioso pra saber se ela me responderia mais uma vez.


Continua...

A última jogada do coração/ Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora