Meses depois
Ao colocar os pés para fora do carro, senti um vento gelado bater contra mim, senti também o meu coração doer por algum motivo que não estava claro até então. Depressa entrei no saguão do prédio e apertei o botão do elevador, diversas vezes como se isso fosse adiantar algo.
Em casa, mais uma vez, um silêncio ensurdecedor, tudo milimetricamente organizado como em todos os dias desde que Peter se foi. Por causa dele sempre tinham brinquedos espalhados por todos os lugares, mas agora há apenas uma imensa sala totalmente organizada, e escura, como sempre também.
A primeira vez em que estive aqui, fiquei fascinada. A grande parede de vidro trazia uma iluminação incrível para dentro daqui, hoje ainda tem luz, mas que não ilumina absolutamente nada mais. É como se o nosso mudo tivesse perdido todas as luzes, assim como as cores, nos fazendo viver em um eterno preto e branco.
– Valentina? – Perguntei e nada foi respondido, mas nunca é.
Deixei minha bolsa encima do sofá e a procurei pela casa, mas ela não estava. Ao olhar para cama, pude notar um pedaço de papel que me deixou extremamente curiosa. Peguei o pequeno bilhete que continha coisas escritas, coisas estas que eu realmente não queria ter lido.
"Eu me sinto tão covarde por fazer isso através de uma carta, mas eu não consigo fazer isso mais. Eu te amo, provavelmente vou te amar por todo o sempre, pelo resto da minha vida, mas eu não consigo mais estar aqui e nesse relacionamento. Pode ficar com o apartamento, pode ficar com tudo, eu não quero nada. Por favor, apenas respeite minha decisão e não me procure, vai ser melhor assim pra nós duas. Quero que você seja feliz, que você volte a sorrir e que seus olhos voltem a brilhar. Me desculpa por não conseguir me despedir, eu te amo demais pra isso."
– Uma carta, é isso que eu mereço depois de todos esses anos... – Falo pra mim mesma sem acreditar em tudo isso.
Abro tudo no quarto, até mesmo as gavetas, e não encontro absolutamente nada que seja dela, nem mesmo sua aliança. Me dirijo até a cama e me sento na mesma, já sentindo minhas pernas quererem falhar. Eu não consigo pensar e nem dizer mais nada, assim como também não consigo chorar. O meu filho se foi, e agora a outra mãe dele também.
Meses depois
Valentina
Luiza deu entrada no pedido de divórcio e resolvemos tudo à distância, sem trocarmos uma palavra sequer. Prático, direto, sem confrontos, mas o papel que oficializa o fim está na mesinha de cabeceira ao lado da minha cama, aguardando pela minha assinatura. Ele está aqui há duas semanas. Às vezes, me pego olhando para ele, como se fosse algo vivo, algo que me mantém viva.
Assinar esse papel seria como abrir mão de tudo de vez, de tudo que um dia eu fui e de tudo que um dia tivemos. Eu sei que fui eu quem terminou, sei que fui eu quem iniciou o fim, mas ao mesmo tempo, não consigo enfrentar o peso que essa assinatura carrega. Porque ela não é só tinta em papel, é o fim oficial do que eu sei que era a minha felicidade.
Me lembro exatamente de como tudo aconteceu no fatídico dia em que eu deixei Luiza. Patético? Talvez. Mas quem decide o que é patético quando a dor é tão profunda que engole tudo ao seu redor? Sim, eu deixei uma carta. Fui covarde o suficiente para não olhar os olhos do amor da minha vida e admitir que o nosso casamento acabou no mesmo instante em que o coração do nosso filho parou. Não porque eu quis, mas porque eu simplesmente não consegui superar minha própria dor. Não consegui encontrar uma forma de escalar o muro que cresceu entre nós duas.
É patético, eu sei. Um pedaço de papel para encerrar o que construímos juntas como se fosse um bilhete deixado na mesa para justificar um atraso qualquer, mas foi o único jeito que encontrei para acabar com o que já tinha acabado há muito tempo. Olhar para ela, sentir a profundidade da dor nos olhos dela que refletiam tanto a minha própria dor era demais para mim. Eu sabia que se eu tentasse falar, as palavras não sairiam, então eu apenas escrevi como quem escreve para aliviar o próprio peso, mesmo sabendo que isso não mudaria nada.
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O ESPAÇO ENTRE NÓS
Fanfiction⚠️ G!P ⚠️ O amor é como a gravidade, puxa duas pessoas para viverem juntas, para construírem uma família. O amor é como o sol, tudo órbita e existe por causa dele, mas quando não é o suficiente, o que faz o espaço entre duas pessoas desaparecer? O q...