Jogadas Do Destino

Capítulo 26

Clara, ainda preocupada com o seu filho esperava ansiosamente pelo retorno do seu genro. Ela tinha umas poucas e boas que tinha para dizer a Ryan.

A mulher negra soltou um suspiro longo tentando relaxar os seus músculos tensos, reparou as suas pernas que faziam o sentimento de inutilade que sentia.

Despertou dos seus pensamentos ao escutar o barulho do vidro estalar ao longe e ergueu a faceta para encontrar Theodore segurando uma garrafa de vinho e duas taças.

— Vinho? — a mulher assentiu. Após servi-la, Theodore sentou-se ao seu lado no sofá quando percebeu o quão frustrada Clara estava.

— O meu filho é forte e parece ser feliz ao lado do Ryan mas se as coisas continuarem assim… — fez uma pausa extendendo a taça de vinho para o moreno que encheu o recipiente com o vinho tinto.

— Eu vou garantir que isso não aconteça, Clara — a mulher balançou levemente se negando a aceitar as palavras de Theodore.

— Não. Um relacionamento precisa se basear em amor, confiança e respeito, se isso não existir certamente não durará e não quero que eles se vejam obrigados a ficar juntos por causa do bebê — Theodore relaxou os músculos tensos quanto Clara terminou de falar.

— Eu concordo. O meu filho sempre adorou basquetebol e ser suspenso mas não justifica o facto dele estar agindo assim com o Pedro — os dois continuaram a sua conversa.

Enquanto isso, Ryan, caindo de bêbado entrou no quarto onde Pedro o esperava ainda sem conseguir dormir.

Os olhos azuis cansados por causa do sono e embriaguez encontraram o menor que estava sentado a beira da cama e pela testa enrugada percebeu que Pedro não estava de bom humor.

— Porque está acordado até essa hora, babe? — cambaleando, conseguiu chegar a Pedro que manteve a expressão séria tentando esconder a sua raiva.

— O que você acha, gênio? — o loiro notou a faceta levemente inchada do seu esposo e o seu peito apertou.

Pedro, com a testa enrugada, fintou do toque do homem que estava tirando o seu sono nos últimos dias.

— Eu quero o divórcio — o gestante disse com uma firmeza que surpreendeu o nova iorquino. O efeito do álcool passou na hora devido ao choque de tamanhas palavras.

O homem negro observou o seu marido mordendo o lábio inferior e puxando as madeixas loiras numa tentativa de espantar o seu nervosismo e talvez medo.

Ryan estava imóvel, tentando processar o que acabara de ouvir. As palavras de Pedro, carregadas de uma frieza que ele jamais imaginara, ecoavam em sua mente.

O pedido de divórcio parecia um golpe inesperado, e a embriaguez que antes o mantinha entorpecido foi substituída por um súbito estado de alerta.

— D- Divórcio? — Ryan gaguejou, a voz baixa e hesitante, os olhos fixos no rosto de Pedro, buscando qualquer sinal de que aquilo não passava de uma piada cruel.

Pedro sustentou o olhar, e o brilho de tristeza em seus olhos apenas reforçou a sinceridade de sua declaração.

— Sim, Ryan. Eu não consigo mais... — Ele suspirou, as palavras saindo com dificuldade, como se cada sílaba carregasse o peso de semanas de frustração e dor acumuladas.

— Não posso continuar assistindo você se destruir, se distanciar de mim, como se eu e nosso filho não importássemos — a expressão de Ryan passou rapidamente da incredulidade para o desespero. Ele sentia seu coração apertar, quase como se a dor fosse física.

— Eu... Pedro, por favor, não diz isso. — A voz de Ryan estava embargada. Ele tentou segurar a mão do marido, mas Pedro recuou, erguendo-se da cama para manter uma distância entre os dois.

— Ryan, você tem ideia de como isso me machuca? — Pedro finalmente se permitiu deixar transparecer a dor que a mantivera reprimida.

— Eu fico aqui, dia após dia, esperando que você volte pra casa, e tudo o que eu vejo é o que restou de você. E cada noite, você volta mais distante, mais preso em um sofrimento que se recusa a compartilhar comigo — disse mostrando a sua insatisfação com o comportamento do seu namorado.

Ryan engoliu em seco, sentindo o peso das acusações. Ele sabia que Pedro estava certo, mas o orgulho e a dor não o deixavam admitir.

— Eu sei que estou agindo como um idiota, mas... eu só… — Ele passou a mão pelo rosto, tentando encontrar as palavras certas, mas nada parecia ser o suficiente.

— O basquete é tudo o que eu conheço, Pedro. Quando perdi isso, eu me perdi também. Eu amo você, amo nosso bebê, mas... — Ele vacilou, a voz sumindo à medida que encarava o olhar decepcionado do marido.

Pedro soltou um suspiro longo e balançou a cabeça, cansado.

— Mas o quê, Ryan? Você acha que isso te dá o direito de me tratar assim? De se afundar e me arrastar junto? Eu tentei entender, esperei que você superasse, mas você continua me afastando. Eu não vou deixar você destruir tudo o que construímos — Ryan sentiu a garganta apertar. O medo de perder Pedro finalmente o fez se dar conta do estrago que estava causando.

— Pedro, por favor. Me dá uma chance de consertar isso, de te mostrar que eu posso mudar. Eu prometo que vou tentar... só... só não me deixa.

Pedro o observou em silêncio, seus olhos avaliando cada palavra. Depois de um longo momento, ele respirou fundo, deixando que as lágrimas silenciosas escorressem por seu rosto.

— Eu quero acreditar em você, Ryan. Mas as palavras não são o suficiente. Se você realmente quer mudar, vai ter que provar isso. Não só pra mim, mas pra si mesmo. Porque eu… não posso continuar assim — Ryan assentiu, sentindo um lampejo de esperança, mas sabendo que essa seria sua última chance.

Ele respirou fundo, tomando consciência do tamanho da responsabilidade que agora recai sobre ele.

O homem negro levou as mãos a barriga saliente onde crescia o fruto do seu amor, o que aumentou ainda mais a raiva do loiro por si mesmo.

— Nós não estamos mais sozinhos nisto, Ryan. Se você não quiser mais nada comigo prefiro que diga na minha cara do que ficar me evitando, eu quero um homem, não outra criança para educar — trémulo, deu um passo para frente tentando se aproximar de Pedro que se manteve inabalável esperando que Ryan reagisse.

— Acho que esperei muito de ti — Pedro continuou antes de dar as costas para o seu esposo que desesperadamente abraçou o menor o fazendo suspirar.

— Não, eu quero, quero a minha família eu só precisava de um tempo sozinho — o maior disse mergulhando o nariz nos dreadlocks de Pedro que fechou os olhos tentando assimilar o que estava acontecendo.

— Me perdoa! Eu estava tão cego que não percebi que estava fazendo você sofrer também. Não posso viver sem você, Pedro — Ryan suplicou e Pedro ficou preocupado ao notar que o marido estava tremendo de medo.

Naquele momento, percebeu que não conseguiria se afastar do loiro mesmo que quisesse. O seu coração e alma o traíam quando se tratava de Ryan e mesmo ele tendo errado feio, não teve escolha se não dar uma segunda chance para o loiro.