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Fiquei ali, sozinha no banheiro, encarando o reflexo no espelho. Minhas mãos estavam trêmulas, e as palavras de Capri ecoavam na minha cabeça. "Não espere até que seja tarde demais." Eu sabia que ela estava certa, mas admitir isso significava que eu teria que enfrentar medos e incertezas que preferia ignorar.

Respirei fundo, apoiando as mãos na pia enquanto tentava recompor os pensamentos. O turbilhão de emoções dentro de mim era esmagador. Eu estava lutando há tanto tempo para manter tudo sob controle, para esconder meus sentimentos, para agir como se nada me afetasse. Mas era tudo uma máscara, uma fachada que começava a rachar.

Saí do banheiro, sentindo a tensão no meu peito aumentar a cada passo. Quando voltei para a mesa, vi Rainelis sentada ali, olhando pela janela com um ar distante. Alex e Capri estavam em um canto, conversando baixinho, mas, ao me verem, fizeram questão de disfarçar e voltar sua atenção para os pratos à frente.

Eu não conseguia tirar os olhos de Rainelis. Ela parecia tão tranquila, tão alheia ao que estava acontecendo dentro de mim. E era isso que mais me assustava. A ideia de que ela poderia nunca saber o quanto tudo isso significava para mim, o quanto eu estava me torturando por não ter coragem de ser honesta.

Me sentei lentamente, tentando parecer calma. Peguei o cardápio e forcei um sorriso.

— Acho que vou pedir o risoto. — Minha voz saiu forçada, e eu sabia que Capri percebia, mas ela apenas assentiu, respeitando o meu momento.

Rai levantou o olhar para mim, seu rosto pálido e com uma expressão fechada, provavelmente ainda estava brava comigo. Mas, no último segundo, as palavras morreram na minha garganta. Pedi o risoto e tentei manter uma conversa casual. O jantar seguiu, e, embora eu tentasse aproveitar a noite, uma parte de mim sabia que estava perdendo algo importante. Algo que talvez eu não pudesse recuperar.

Quando finalmente saímos do restaurante, a noite estava fria e clara, as luzes da cidade brilhando ao nosso redor. Rainelis puxou seu casaco mais para perto do corpo, esfregando os braços para afastar o frio, e eu caminhei ao seu lado em silêncio. Alex e Capri foram na frente, conversando animadamente.

— Foi um bom jantar, não foi? — Perguntei, me sentindo um desconfortável, mas confiante.

— Foi, sim... — respondeu, sua voz quase um sussurro.

E antes que eu pudesse me impedir, segurei sua mão. Ela pareceu surpresa por um instante, mas não recuou.

— Bom... podemos conversar? — Disse, ainda segurando sua mão com força.

Rainelis hesitou por um momento, e eu quase achei que ela iria se afastar. O silêncio que se seguiu foi angustiante, como se o mundo estivesse preso naqueles segundos de incerteza. Sua mão, fria contra a minha, parecia tremer levemente, mas então ela assentiu, os olhos se suavizando um pouco.

— Tudo bem — respondeu baixinho, a voz tensa, mas com um brilho de curiosidade e talvez até de esperança.

Afastei-nos um pouco da rua movimentada, conduzindo-a até um pequeno parque iluminado apenas por alguns postes de luz amarela. A noite estava fria, e um vento gelado nos envolvia enquanto encontrávamos um banco vazio para sentar. Meu coração estava disparado, e o aperto no peito parecia piorar a cada passo que dávamos.

— Olha, eu sei que provavelmente fui... difícil, confusa. — As palavras saíram trêmulas, e eu me odiava por isso. Eu queria ser firme, queria parecer no controle, mas diante dela, era impossível. — Mas eu preciso que você entenda algo.

Ela ficou em silêncio, apenas observando, o olhar fixo no meu rosto como se tentasse ler cada expressão, cada emoção que eu estava tentando esconder. O frio era cortante, mas o calor que emanava dela ao meu lado fazia meu peito arder.

BOSS - Railo Onde histórias criam vida. Descubra agora