XI

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𝗔𝗹𝗼𝗻𝗱𝗿𝗮 𝗠𝗶𝗰𝗵𝗲𝗹𝗹𝗲.

Acordei subitamente, cansada, nua e suada, deitada em minha cama. Para piorar, meus óculos não estavam em meu rosto, deixando minha visão completamente embaçada.

Sentei-me, apoiando as costas na cabeceira da cama, enquanto puxava a coberta para cobrir meu corpo. Com a mão, comecei a tatear o criado-mudo ao lado, à procura do maldito objeto que me fazia enxergar direito. Por sorte, meus dedos logo o encontraram. Coloquei os óculos e, finalmente, comecei a entender o que estava acontecendo.

Virei a cabeça para o lado e vi um emaranhado de cabelos ruivos e cacheados no travesseiro ao meu lado.

— Porra! — murmurei para mim mesma, sentindo o choque subir pela espinha.

Meus músculos ficaram tensos no mesmo instante. A lembrança da noite anterior começou a invadir minha mente em flashes desconexos: risadas abafadas, toques urgentes, e a maneira como tudo pareceu fora de controle, mas inevitavelmente certo.

Rainelis estava deitada ao meu lado, sua respiração suave preenchendo o silêncio da manhã. Ela estava tão perto que eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo. Minha mente corria a mil, tentando juntar os pedaços, tentando entender como exatamente chegamos a esse ponto.

— Droga, Alondra... — Murmurei para mim mesma, pressionando os dedos contra as têmporas como se isso pudesse afastar o turbilhão de pensamentos que me dominava.

O som do meu sussurro foi o suficiente para que Rainelis se mexesse, soltando um pequeno gemido enquanto se virava na cama. Seu rosto, suave e desprotegido no sono, me fez sentir uma pontada de algo que eu não queria nomear.

"Você está fodida", pensei, e dessa vez não era um exagero. Não apenas porque ela estava ali, na minha cama, mas porque eu sabia, bem lá no fundo, que o que quer que tenha acontecido entre nós era muito mais do que uma noite impulsiva. E isso era perigoso.

Respirei fundo, tentando manter a calma. Precisava sair dali, pensar com clareza antes que ela acordasse e começássemos a encarar as consequências do que quer que isso significasse. Mas, por algum motivo, meu corpo não se movia. Meus olhos continuavam fixos nela, e, por um breve momento, deixei-me esquecer do caos que certamente viria.

Rainelis se remexeu novamente, soltando um suspiro pesado. Seus cílios tremeram antes de seus olhos lentamente se abrirem. O momento em que ela percebeu onde estava — onde estávamos — foi gravado em sua expressão. Primeiro, confusão. Depois, reconhecimento. Por fim, algo que parecia uma mistura de choque e... satisfação?

— Alondra? — Sua voz saiu rouca, carregada de sono. Ela ergueu uma sobrancelha, o tom dela dançando entre incredulidade e provocação. — Foi um sonho ou...?

Engoli em seco, sentindo uma onda de calor me atingir. Meu corpo queria recuar, mas minha mente me mantinha presa ali, como se fugir fosse o pior erro que eu pudesse cometer.

— Eu... Não sei como responder isso. — Minha voz saiu firme, mas havia um peso em cada palavra. Eu sabia exatamente o que aconteceu, só não sabia o que significava.

Ela se apoiou em um cotovelo, encarando-me com um olhar que queimava como um interrogatório. Havia algo diferente nela. Não era a usual arrogância que ela exibia para o mundo, mas uma vulnerabilidade, um questionamento. Isso me desarmou mais do que qualquer coisa.

— Não vou fingir que me lembro de tudo, mas... — Ela pausou, o canto de seus lábios se curvando em um meio sorriso. — Parece que foi uma boa noite.

Fiquei em silêncio, meus pensamentos girando em um caos que me impedia de processar qualquer resposta. Finalmente, respirei fundo, encarando-a com firmeza.

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