XII

3 2 0
                                    


𝗔𝗹𝗼𝗻𝗱𝗿𝗮 𝗠𝗶𝗰𝗵𝗲𝗹𝗹𝗲.

Fiquei por um momento ao lado da cama, observando a ruiva dormir profundamente, com os cabelos espalhados pelo travesseiro e o lençol cobrindo apenas parte de seu corpo.

Suspirei, começando a pegar minhas roupas espalhadas pelo chão. Minha mente estava uma bagunça, um turbilhão de pensamentos conflitantes. Eu me sentia estranhamente leve, como se algo tivesse mudado dentro de mim, mas ao mesmo tempo, o peso da realidade começava a se infiltrar.

Vesti a calça rapidamente e prendi o sutiã, enquanto olhava para o relógio. Estava atrasada. Sempre atrasada. A rotina chamava, mas, dessa vez, eu sentii uma pontada de relutância ao sair daquele quarto, daquele momento.

Enquanto abotoava a camisa, ouvi a voz sonolenta de Rainelis atrás de mim.

— Já vai? — Rai murmurou, a voz rouca do sono, os olhos entreabertos enquanto se esticava preguiçosamente na cama.

Observei-a por alguns instantes, deixando meu olhar percorrer seu rosto relaxado pelo sono e os cabelos ruivos que moldavam sua expressão suave. Rai me encarava com aqueles olhos meio fechados, a curiosidade misturada com algo que parecia... carinho?

— Já estou atrasada para o trabalho — respondi baixinho, mas sem me mover. Era como se algo em mim resistisse à ideia de ir embora, como se aquela cena, aquele momento, fosse algo que eu queria guardar para sempre.

Ela suspirou, estendendo a mão e tocando levemente meu braço, um gesto tão simples, mas que parecia carregar mais significado do que eu queria admitir.

— Então por que ainda está aqui? — perguntou, com um sorriso que era metade provocação, metade doçura.

Eu ri, sem graça, sentindo o calor subir ao meu rosto.

— Porque... — comecei, mas as palavras morreram na minha garganta. Não sabia como terminar. Porque não queria ir embora? Porque algo nela me fazia querer ficar? Não estava pronta para dizer isso em voz alta.

— Porque gosta de mim. — Ela completou por mim, com um tom brincalhão, mas os olhos revelavam algo mais sério.

Desviei o olhar por um instante, pegando as mãos dela nas minhas.

— Talvez eu goste mesmo — admiti, quase num sussurro.

Ela arregalou os olhos por um segundo, como se não esperasse a confissão, e então puxou minha mão, me fazendo deitar ao seu lado novamente.

— Cinco minutos, só cinco minutos a mais. Prometo não te atrasar tanto.

Olhei para o relógio novamente e suspirei.

— Você é um problema, Rainelis.

— Mas sou seu problema agora. — Ela respondeu com um sorriso vitorioso antes de me puxar para perto.

E, só dessa vez, decidi deixar o mundo esperar.

O calor do corpo dela junto ao meu fez tudo parecer mais leve, mais fácil. Por um instante, esqueci dos relatórios atrasados, das reuniões sufocantes e até mesmo das figuras intimidantes dos meus superioes. Estávamos apenas nós duas, envolvidas em uma bolha de calma que eu raramente permitia a mim mesma.

— Você sabe que vai me ferrar, né? — murmurei contra sua pele, enquanto ela ria baixinho, o som abafado pelo meu cabelo.

— É a minha especialidade. — Sua resposta foi rápida e cheia de provocação, mas seus dedos traçavam círculos suaves nas minhas costas, um gesto que parecia contradizer suas palavras.

BOSS - Railo Onde histórias criam vida. Descubra agora