’ 𝐘𝐮𝐤𝐢 𝐊𝐢𝐲𝐨𝐦𝐢
Os primeiros dias do tratamento foram um verdadeiro desafio. Minha mente estava focada em seguir o plano, mas meu corpo resistia. Comia o que me era recomendado, tomava os suplementos, mas o peso da recuperação parecia insuportável. Cada refeição era uma batalha interna, e apesar de Kellan estar sempre ao meu lado, havia dias em que a luta parecia maior do que eu podia enfrentar.
Naquela tarde, Kellan estava no trabalho. Eu estava sozinha em casa, sentada à mesa da cozinha, encarando minha tigela preferida à minha frente. Antes de sair, Kellan havia deixado pronta para mim, estava esfriando, e o simples cheiro dela me enjoava. A ansiedade crescia no meu peito, uma onda crescente de medo e insegurança. Meu estômago revirava, e de repente, senti que não podia mais continuar.
Me levantei de repente, empurrando a cadeira para trás com força. O barulho ecoou pela cozinha vazia. Caminhei em círculos, tentando controlar a respiração, mas a sensação de sufoco só aumentava. Minha visão começou a ficar turva, e antes que eu percebesse, estava de volta ao banheiro, ajoelhada no chão frio, as mãos segurando a borda da pia para me equilibrar.
Eu não conseguia respirar direito. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e um nó se formou na minha garganta. Sentia-me fraca, como se todo o esforço dos últimos dias não tivesse adiantado nada. A voz do médico ecoava na minha mente, falando sobre a gravidade da minha condição, mas parecia impossível lutar contra a vontade de desistir.
Alguns minutos se passaram, e foi nesse momento que ouvi a porta da frente abrir. Kellan tinha chegado mais cedo do trabalho. Meu coração disparou, mas não de alívio. Não queria que ele me visse assim, desmoronando.
Ele chamou meu nome da sala, e quando não respondi, seus passos se aproximaram rapidamente. Antes que eu pudesse esconder meu estado, ele estava na porta do banheiro, olhando para mim com uma expressão de puro pânico.
— "Yuki?" — Sua voz soou baixa, quase como um sussurro, enquanto ele se ajoelhava ao meu lado.
Eu desviei o olhar, incapaz de encará-lo. Não queria que ele visse o quanto eu estava cansada e fraca.
— "O que aconteceu? Você tá bem?" — Kellan passou a mão gentilmente pelo meu cabelo, afastando algumas mechas do meu rosto.
Eu respirei fundo, tentando me recompor, mas as lágrimas continuavam caindo. — "Eu... eu não consigo... é tão difícil, Kellan..."
Ele me puxou para seus braços, me abraçando com força, como se quisesse me proteger de tudo. Sua mão passou suavemente pelas minhas costas enquanto ele murmurava:
— "Shh, calma. Você não precisa fazer isso sozinha. Estamos juntos nisso, lembra? Eu tô aqui, meu bem. Sempre vou estar aqui."
O som da sua voz, a calma em suas palavras, me trouxe um pouco de conforto. Mas ainda havia uma parte de mim que se sentia tão frágil, tão vulnerável.
— "Eu tô tentando... mas parece que nunca vai ser o suficiente." Minha voz estava embargada, carregada de frustração e cansaço.
Kellan se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, seus dedos limpando as lágrimas no meu rosto. — "Você é suficiente, Yuki. Eu sei que é difícil agora, mas isso não define quem você é. Você é muito mais forte do que pensa, e eu acredito em você, sempre."
A sinceridade nos olhos dele era esmagadora. Kellan acreditava em mim, mesmo quando eu não conseguia acreditar em mim mesma. Aquela percepção me quebrou ainda mais, mas de uma maneira diferente. Não era mais só tristeza ou desespero; era a consciência de que, apesar de tudo, eu não estava sozinha.
Eu me agarrei a ele com mais força, enterrando meu rosto em seu ombro deixando as lágrimas escaparem sem que eu tenha o menor controle. Não dissemos mais nada por um tempo, apenas ficamos ali, no chão do banheiro, nos braços um do outro. Aquele momento era uma pausa da realidade, um lembrete de que, por mais difícil que fosse, eu ainda tinha algo — ou melhor, alguém — em que me apoiar.
Finalmente, depois de alguns minutos, Kellan me ajudou a levantar. Ele foi até a cozinha, voltou com um copo de água e me entregou com um sorriso suave.
— "Vamos dar um passo de cada vez, tá? A gente pode começar agora, bebendo essa água."
Eu assenti, bebendo a água lentamente, enquanto ele me observava, atento a cada movimento.
Depois de tudo, nos sentamos juntos no sofá. Kellan me abraçou, me envolvendo em seu calor, me sentia segura nós braços do mesmo, um gesto tão simples para algumas pessoas, mas para mim significa tanto quanto conseguiria descrever em palavras.
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Sussurros entre a tempestade
Hayran Kurgu𝐒𝐡𝐨𝐫𝐭 𝐟𝐢𝐜 ! Em meio ao caos silencioso da vida, Yuki Kiyomi e Kellan Royal se encontram presos em uma dança delicada entre o amor e a dor. Enquanto o corpo de Yuki se desfaz lentamente, sua presença, frágil e efêmera, se torna o único alicer...