Não se esqueça

XXIV

Eu não sei o que estou fazendo. Não consigo pensar em um único lugar seguro para essa caixa de segredos e não tenho muito plano, mas eu mereço saber a verdade e há apenas uma pessoa que pode me dar isso. 
Tem que haver outra explicação, porque se há uma coisa da qual tenho certeza, é que eu não sou... gay. Eu não posso ser. 

Enquanto acelero em direção ao interior, tento ignorar o jeito que aquela foto me fez sentir nas partes mais profundas de mim. Tento ignorar como tudo isso faz tanto sentido. 

Pode ser a razão pela qual parei de sair com a Savannah e Rory. 

Pode ser a razão pela qual eu estava na floresta naquele dia, e por que Lauren age de forma tão estranha às vezes. 

Será que isso é o motivo de eu ter me afastado da minha mãe? Lauren me fez esconder isso dela? Como eu poderia escolher Lauren em vez da minha própria mãe? 
Eu nunca poderia. Eu nunca faria isso. 

Uma placa de pare aparece do nada e eu piso no freio com força. Minha mochila voa do banco do passageiro para o painel. Posso ouvir o conteúdo da caixa de sapatos dentro da mochila se mexendo enquanto cai no chão. Forço os olhos de volta para a estrada, minha mão se apertando tão forte no volante que meus ossos dos dedos ficam brancos, e instantaneamente sou lembrada da Lauren na loja de carnes, com as mãos apertadas no balcão. 

Aquela maldita história... 

Ela estava falando sobre mim bem na minha frente sabendo que eu nunca saberia. 

Quando chego na fazenda, jogo a mochila no ombro e saio do carro. As nuvens brancas e espessas oferecem alguma sombra contra o sol de final de julho enquanto começo a atravessar o campo em direção ao local onde trabalhamos na cerca juntos na semana passada, mas ainda sinto calor por todo o corpo. 

Passo toda a caminhada tentando parar de chorar, mas as lágrimas simplesmente não param de cair dos meus olhos, porque cada vez que a caixa de sapatos bate contra minhas costas, sou lembrada de todas as mentiras que Lauren me contou nas últimas semanas.

Todos os segredos que ela tem escondido de mim. 
A única pessoa que eu pensei ser uma página em branco... e ela sabia de tudo o tempo todo. É tudo o que eu temia. A razão pela qual decidi parar de procurar e virar a página para uma segunda chance. Eu nunca deveria ter mudado de ideia. Eu simplesmente nunca imaginei que o que eu poderia descobrir seria algo tão grande. 

Quando vejo o quadriciclo dela, estou chorando ainda mais, minha respiração um pouco descompassada. 

"Camila?" ela pergunta, surpresa, enquanto puxa o fio dos fones de ouvido e eles caem ao redor do pescoço. "O que você está—" Ela para. Consigo ver que ela percebe que algo está errado. Toda vez que parecia que ela estava, de alguma forma, me lendo, toda vez que ela dizia exatamente o que eu precisava ouvir. Agora faz sentido. 

"O que eu estava fazendo na floresta naquele dia?" Minha voz treme enquanto falo, mas eu enuncio cada palavra, dando a ela mais uma oportunidade de me contar a verdade desta vez. 

"Camila, do que você está falando? Eu... eu não—"

"O quê, vai me contar a mesma merda de sempre?" Eu a interrompo, tentando engolir as lágrimas o suficiente para dizer isso. "Você não sabe? Hã? Você não sabe de nada?" Balanço minha mochila na frente de mim, desabotoando-a para revelar a caixa de sapatos laranja. 

Com a mão trêmula, eu a retiro e deixo minha mochila cair no chão aos meus pés. Encaro ela e então jogo a caixa na grama entre nós, e o conteúdo se espalha aos pés dela. A câmera, as fotos, um bilhete de loteria aleatório e uma tonelada de outras coisas que não significam nada para mim.