XXVI

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Na semana seguinte, faço tudo o que posso para me manter ocupada. Peço alguns turnos extras no trabalho, levo o almoço para o meu pai algumas vezes, ajudo minha mãe a preparar os boletins e vamos ao cinema, fazendo planos para repetir isso toda quarta-feira a partir de agora, mesmo depois que eu começar na Bower.
Coloco música no chuveiro e adormeço assistindo Netflix no meu laptop todas as noites, porque sempre que me encontro completamente sozinha no silêncio, tudo o que faço é pensar nela. E quanto mais tempo passo pensando nela, mais difícil fica convencer a mim mesma de que estar com ela é uma má ideia.

Porque a verdade é que, enquanto eu estava fazendo todas aquelas outras coisas essa semana, a única coisa que eu realmente queria fazer era ir vê-la.

Andar de quadriciclo.

Consertar uma cerca.

Meter a mão em um balde nojento de carne moída.

Qualquer coisa só para estar perto dela.

Ela acendeu algo em mim naquele dia no campo e, apesar dos meus melhores esforços para apagar isso, tem queimado desde então.

Queima até enquanto olho entre meus pais no banco da frente do carro da minha mãe enquanto voltamos para casa de St. Joe's no domingo. Foi estranho estar de volta à missa depois de saber a verdade. Meu professor de teologia do primeiro ano estava apenas algumas fileiras à frente de nós, e eu ficava repetindo na minha cabeça toda a aula estúpida que ele passou explicando por que o casamento só deveria acontecer entre um homem e uma mulher.

Como seria dizer isso para os meus pais?

Mãe. Pai. Eu gosto da Lauren Jauregui.

Provavelmente, a cabeça do meu pai explodiria aqui mesmo no carro, com os miolos e o sangue espalhados pelos bancos de tecido da minha mãe.
Estou brincando. Estou brincando. Mas é uma imagem mais fácil de engolir do que a verdade. Na realidade, ele provavelmente iria me deserdar. Ele nem sequer queria "os viados" na televisão, por isso duvido muito que quisesse uma vivendo na sua casa.

Mas a minha mãe? Ela não ia querer isso, certo? Fui eu que a excluí, ela nunca me faria isso. Quer dizer, já a vi revirar os olhos durante os discursos políticos do meu pai... mas acho que ela também nunca o impede.

E mais do que isso, há a Igreja, e a verdade é que o seu status em St. Joe's significa muito para ela. Se ter uma filha que fez um aborto foi motivo para a Sra. O'Doyle se demitir do seu cargo, certamente ter uma filha lésbica seria catastrófico para a imagem da minha mãe e para o progresso que ela está finalmente fazendo. Não que o aborto e a sexualidade tenham alguma coisa a ver um com o outro, mas aos olhos da Igreja, ambos são basicamente um bilhete de ida para as profundezas do inferno.
Mas será que a minha mãe escolheria mesmo a Igreja em vez de mim? É difícil para mim acreditar, mas eu escolhi deixá-la para trás pela Califórnia... pela Lauren. Por isso, devo ter acreditado mesmo que ela iria

É tão difícil para mim entender como algo que parece tão certo pode ser visto como tão errado. Se eles pudessem apenas entrar na minha cabeça por um segundo para sentir o que eu sinto por ela, entenderiam imediatamente. E talvez...

"Camila?" minha mãe pergunta, ajustando o espelho retrovisor para me ver no banco de trás. "Perguntei se você quer tomar café no Dinor."

"Não!" respondo rápido demais e alto demais. "Quer dizer, eu... na verdade, eu ia olhar meu horário de aulas hoje de manhã e ver que livros eu preciso." Boa desculpa.

"Eu tenho que ir para a garagem até às onze, de qualquer forma." Meu pai passa a mão pelo rosto. Começo a me perguntar se ele está cansado ou se ele realmente está parecendo mais velho do que me lembro.

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