Meu primeiro domingo de volta à St. Joe's esta manhã parecia mais uma espécie de serviço fúnebre do que uma missa. Na caminhada de cem metros do nosso banco até o carro da minha mãe, umas trinta pessoas pararam para tocar meu ombro e me dizer o quanto sentiam pelo que aconteceu. Como se eu tivesse morrido ou algo assim.
A Samantha McDonald, que era do ano abaixo de mim, perguntou se eu estava bem e, em seguida, tentou tocar minha cicatriz.
Minha professora de jardim de infância perguntou, com desconfiança, se eu realmente dirigi meu carro para dentro do reservatório.
O Sr. Yardley me contou sobre seu primo que entrou em coma e nunca acordou.
O velho Monsenhor Becker, que eu nem acredito que tenha sobrevivido por mais dois anos, me disse que tudo isso faz parte do plano Dele.
Nenhum deles disse algo que realmente pudesse me fazer sentir um pouco melhor. Eles queriam se sentir melhor ou, pior ainda, pegar o último babado sobre o Wyatt.
Eu vou à missa a minha vida inteira, então estou acostumada a passar pelos cinquenta minutos de monotonia e as fofocas que se espalham depois, mas hoje... eu só queria sair de lá."Camila." Minha mãe coloca a mão no meu joelho até meu calcanhar se acomodar no asfalto rachado embaixo da nossa mesa de piquenique na feira de agricultores.
"Desculpa," eu digo. Nem percebi que estava batendo o pé para cima e para baixo.
"Você não tocou na sua comida," ela diz, seus olhos se voltando para o meu cachorro-quente coberto de mostarda amarela e maionese. Isso vira meu estômago. Nem sei se gosto mais de cachorro-quente, mas quanto mais olho para ele, mais enjoada eu fico. Então empurro o prato para o outro lado da mesa de madeira. "Não estou com fome," eu digo, enquanto um grande pastor alemão passeia com coleira, esticando o focinho para um cheiro esperançoso.
"Camila." Ela gira uma perna para fora do banco para me encarar. "O que está acontecendo na sua cabeça agora? Você não disse nada desde que chegamos aqui."
Esse é o problema. Eu não sei o que está acontecendo na minha cabeça. Não sei o que quero. Parte de mim quer desesperadamente seguir em frente com a minha vida, simplesmente aceitar essa página em branco, mas onde quer que eu vá, todos continuam me lembrando de um passado desconhecido e das perguntas para as quais não tenho respostas. Perguntas que eu talvez não goste de responder se as encontrar.
Eu mudei. Algum tempo nesses últimos dois anos, eu me tornei alguém que abandona suas melhores amigas e falta ao baile de formatura. Alguém que está completamente bem em ficar em Wyatt para a faculdade. Alguém que tem uma queda por um garoto, mas não conta para a mãe. Alguém que se afastou do pai e que sai para o meio do mato, sem avisar aos amigos ou à família.
Eu não posso simplesmente esquecer que todas essas coisas aconteceram na minha vida, embora eu não saiba por que aconteceram, porque elas ainda afetam todos os meus relacionamentos agora. E, acima de tudo, eu não consigo esquecer a maneira como minha mãe me olhou na cozinha naquele dia. Eu nunca vou tirar esse olhar da minha cabeça, não importa o quanto eu queira esquecê-lo.
"Fala comigo. O que está errado?" ela pergunta enquanto eu puxo uma lasca de madeira que está se descascando na mesa.
"E se o que aconteceu entre a gente acontecer de novo? Eu nunca quero te machucar assim de novo, mãe, mas se eu não lembrar o que aconteceu, como vou saber que não vou fazer de novo?" eu pergunto, recuando.
Minha mãe gagueja um pouco antes de dizer: "Camila, nada de mágico vai acontecer que faça eu e você nos afastarmos. Você escolhe como quer viver sua vida agora. Você escolhe com quem quer passar seu tempo. Eu e você? Vamos ficar bem. Olha só para nós. Curtindo como nos velhos tempos. Fazendo almôndegas e falando sobre meninos. Camila, eu sei que você tem se concentrado muito em lembrar, mas... seria tão ruim se você simplesmente... não lembrar? Quero dizer, é claro que se acontecer vai ser incrível, mas se não acontecer, bem, às vezes todos nós precisamos de um recomeço," ela diz timidamente.
Eu me recosto, um pouco chocada por ouvir ela dizer que não ter minhas memórias poderia ser algo bom, mas... quanto mais eu fico pensando nisso, mais entendo de onde ela está vindo.
Eu não sei como foi quando as coisas estavam ruins entre nós, e não posso mudar o que aconteceu, mas sei que estar aqui com ela, ao sol, no meio do mercado de verão... parece certo. Isso me faz pensar que talvez algo de bom possa vir de tudo isso depois de tudo. Talvez ela esteja certa. Talvez eu tenha perseguido a coisa errada. Talvez eu possa usar isso como uma segunda chance... para fazer as coisas certas dessa vez. E talvez eu não precise das respostas para fazer isso.Eu estendo a mão e coloco a minha sobre a dela, na mesa. "Talvez um recomeço fosse bom," eu digo.
Talvez começar com uma folha em branco também significasse me inscrever em outras faculdades, quem sabe até em algumas fora do estado, em vez de tentar entender por que eu escolhi Bower.
"Um dia de cada vez, né?" ela diz, tocando suavemente meu rosto com a mão. "Você quer dar uma volta comigo?"
"Claro," eu respondo enquanto ela pega meu cachorro-quente intacto e se levanta. "Ei, mãe, na verdade... eu vou comer isso."
"Eu pensei que você não estava com fome," ela diz, franzindo a testa.
"Mudei de ideia." Eu pego o cachorro-quente, dando uma grande mordida enquanto me levanto da mesa para segui-la.
Sim. Eu ainda gosto de cachorro-quente.
Talvez os últimos dois anos tenham sido apenas um desvio, não um caminho que eu tenha que entender por que estava seguindo em primeiro lugar. Talvez eu ainda possa ser a pessoa que eu queria ser.
Uma hora depois, quase chegamos ao fim das vinte barracas ou mais montadas ao redor do estacionamento.
"Bom, acho que você não vai me contar como foi o seu encontro," diz minha mãe, olhando uma cesta de maçãs recém-colhidas.
"Você sabe, foi até bem divertido. Eu realmente gosto de sair com o Ryan."
"Sério? Você gosta dele?" ela pergunta, sorrindo para mim.
"Bem... eu não estou muito certa. Estou meio que só conhecendo ele. Sabe?"
"Vai devagar. Às vezes é assim que as coisas acontecem. Foi mais ou menos assim com o seu pai e comigo."
"Sério? O que você quer dizer?"
Ela ri, se perdendo nas memórias. "Ele ia no Billie's, onde eu trabalhava como bartender. Ele e todos os amigos dele bagunceiros. Aposto que o seu pai me pediu em namoro umas dez vezes durante aquelas semanas, sempre na frente dos amigos. Eu achava que ele era só um babaca procurando um 'rolê', mas... então ele começou a ir lá sozinho e ficava no bar, experimentando os drinks novos que eu estava criando. Me dava feedback. Fizemos isso por uns meses e, então, não sei. Não teve um grande 'estalo' entre a gente nem nada, ele só... foi me conquistando. Meu grande Johnny."
"Eca." Eu faço um som de nojo. "Mãe, por favor, eu acabei de comer."
Ela ri. "Só segura aí. Dá uma chance pro Ryan."
"Eu vou," eu respondo, me sentindo encorajada.
"Então, o que vocês fizeram na feira?"
"Muitos jogos. E eu comi uma maçã do amor."
"E você só comeu os amendoins e o caramelo, né?" ela pergunta.
"Como mais eu iria comer isso?" eu brinco, enquanto experimentamos alguns chips com salsa.
"Então, a gente acabou esbarrando na Lauren Jauregui no celeiro de animais."
"Ah, como ela está?" ela pergunta, antes de os olhos se arregalarem e ela começar a abanando a boca. "Meu Deus. Isso está mais quente que o inferno." Eu reviro os olhos e lhe entrego minha garrafa de água.
"Ela está bem, eu acho, mas parecia meio triste. Talvez a gente se encontre de novo. Não sei muito."
"Eu acho que você deveria. Ela parece uma menina legal que provavelmente poderia usar uma amiga como você," minha mãe responde, ofegando como um cachorro entre as palavras.
Hã. Eu me sinto culpada. Eu realmente não havia pensado muito sobre o que Lauren poderia precisar. Eu poderia usar um recomeço, mas pelo que vi com a mãe dela, talvez Lauren precise disso também.
Talvez ela precise de uma amiga como eu, tanto quanto eu preciso de uma amiga como ela.
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Não se esqueça
FanfictionO que você faria se esquecesse que o amor da sua vida um dia existiu? Camila e Lauren tinham um amor. Um amor secreto, épico, único, daquelas histórias que acontecem uma vez na vida. Elas também tinham um plano: deixar para trás sua pequena cidad...