Não se esqueça

XIX

"Mocha ice blend com chantilly extra," eu chamo no café, colocando uma bebida perfeitamente feita no balcão de retirada. Um turno de cinco horas e nenhum erro. Progresso. Na maior parte graças ao fato de a Kendra não me escalar com o Cal mais.

"Você está pegando o jeito de novo, Camila," Kendra diz com um olhar satisfeito.

"Obrigada por ser tão paciente comigo," eu respondo, sentindo que finalmente estou começando a me ajeitar agora que não passo mais o tempo todo tentando lembrar o passado.

"Ah, por favor, você está arrasando," ela diz, olhando para o relógio analógico na parede de tijolos decorativos atrás de nós. Meio-dia. "Vai lá. Pode sair. Te vejo amanhã," ela diz.

"Legal. Consegui convencer meu pai a alugar um barco hoje para levar minha mãe e eu para o reservatório," eu respondo, com um sorriso bobo estampado no rosto. Não fazemos nada juntos os três desde o acidente, o que parece tão estranho. Então, eu acho que é a hora perfeita para o nosso passeio anual de barco no verão. Acho que é exatamente o que a gente precisa.

"Bom, se divirta! O dia está ótimo pra isso," ela responde.

Eu tiro o celular do bolso para avisar que vou para o marina, mas antes que eu possa fazer isso, vejo uma mensagem de voz de um número desconhecido e uma mensagem diferente do meu pai.

Oi, filha, não vou conseguir sair para o lago hoje. Tô atolado aqui na oficina e o tio Chuck ligou dizendo que não vem trabalhar. Talvez te vejo mais tarde se eu não chegar em casa muito tarde.

Droga.

Eu tiro o avental e sigo para a porta dos fundos, indo em direção ao meu Volvo.

Eu pressiono o play na mensagem de voz e coloco o celular no ouvido. Eu imagino que seja uma telemarketing, já que quem realmente deixa mensagens de voz hoje em dia, então não estou esperando que isso melhore meu humor. Mas minha boca cai um pouco quando o cara do outro lado começa a falar e minha decepção é temporariamente esquecida.

Eu não posso acreditar nisso.

Assim que ele termina, eu rapidamente ligo para o Ryan, colocando o cinto de segurança ao mesmo tempo. A cada toque, meu sorriso vai ficando maior.

Atende. Atende.

"Alô?" ele finalmente diz.

"Ryan... a gente ganhou! A gente ganhou uma vaca!" eu grito no telefone, e ele ri.

"Você está de brincadeira. Isso é incrível! Onde você está?" ele pergunta, incrédulo.

"Estou indo para a fazenda para tipo... sei lá, contar para Lauren que é dela, acho?"

Eu vou pensar na logística de pegar e entregar uma vaca depois.

"Você tem que me ligar depois e me contar o que ela disse."

"Eu vou," eu respondo, virando a chave da ignição, trocando o celular de ouvido. "Talvez a gente possa fazer isso de novo algum dia," ele diz.

"Ganhar outra vaca? Não sei se devemos tentar a sorte," eu brinco.

"Eu estava pensando mais em almoçar. Eu trabalho nos próximos dois dias, mas talvez quinta-feira?" ele pergunta.

"Eu acho que não posso," eu respondo.

"Ah... ok. Beleza. Eu—"

Eu o corto antes que ele se perca. "Eu trabalho no turno do almoço na quinta-feira. Que tal sexta-feira?"

"Sexta-feira." Eu quase posso ouvir o sorriso dele se alargando pelo telefone e isso me deixa nervosa. "Tá. Te mando uma mensagem."

"Até, Ryan," eu digo antes de desligar e tentar não pensar demais no que um segundo encontro pode envolver. Em vez disso, foco no que minha mãe disse sobre dar uma chance a ele, sobre como isso pode levar tempo, como foi com meus pais.