XXXIV

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Quando chegamos à casa de Ryan, já é quase 10:45, o que significa que eu só tenho mais meia hora antes de ter que ir para casa, se eu quiser cumprir o com o horário. Lauren troca de roupa, vestindo algumas peças limpas de Ryan, já que até sua mala está completamente encharcada, e eu tento secar o uniforme o melhor que posso com a toalha.

Ela sobe na cama queen-size do quarto de hóspedes, e eu me ajoelho no tapete perto dela.

"Você poderia ter me contado," sussurro enquanto passo o polegar gentilmente pela testa dela, onde a pele já começa a ganhar tons de azul e roxo.

"Eu nunca quis que você soubesse," ela responde, desviando o olhar.

"Você quer dizer que nunca me contou? Nem antes?"

Ela balança a cabeça e fecha os olhos, com lágrimas rolando na lateral do seu nariz.

Mesmo estando ainda um pouco molhada, subo na cama atrás dela e envolvo todo o meu corpo ao redor dela, meus braços e pernas se ajustando, enquanto ela se entrega a mim. O corpo dela começa a sacudir com soluços, e eu a abraço mais forte, enterrando meu rosto em seu pescoço. Meu peito dói, precisando de algum tipo de alívio, mas não deixo as lágrimas virem.

"Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Você está bem. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo..." sussurro repetidamente no ouvido dela. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas continuo a segurá-la até que ela para de chorar, até sua respiração se acalmar e eu tenha certeza de que ela adormeceu.

Nas últimas semanas, ela parecia tão forte para mim, como meu lugar seguro, mas agora, parece que sem mim, ela poderia simplesmente desmoronar e desaparecer. Então, mesmo sabendo que meu toque de recolher já deve estar chegando ou até já tenha passado, eu fico um pouco mais. Eventualmente, cuidadosamente, deslizo meu braço debaixo dela e consigo descer da cama sem acordá-la. Puxo o edredom sobre seus ombros e dou um último beijo suave em sua testa antes de sair para o corredor.

Ryan está sentado no balcão da cozinha quando desço, como se estivesse esperando para ter certeza de que tudo estava bem.

"Obrigado por deixar ela ficar aqui," digo a ele, apoiando os cotovelos no granito.

"Camila, o que aconteceu?" ele pergunta, a preocupação estampada no rosto.

Solto um suspiro.

"Posso deixar ela te contar amanhã?" pergunto, sem saber exatamente o que ela gostaria que eu dissesse ou escondesse.

"Claro, mas..." Ele se aproxima de mim e coloca a mão no meu ombro. "Você está bem?"

"Sim, eu estou bem," respondo rapidamente, mas, no momento em que olho para ele, as lágrimas que venho segurando a noite toda finalmente começam a cair. Ele me puxa para um abraço enquanto eu choro no seu peito.

Quantas vezes a mãe dela a feriu?

Penso na primeira vez que conheci Lauren na fazenda, as manchas roxas no braço dela que ela disfarçou como se fossem nada.

Ela não estava apenas saindo do Wyatt para ficar comigo. Ela estava fugindo da mãe dela ao mesmo tempo... e eu a mantive aqui.

"Só cuida dela, tá?" peço, finalmente me afastando, a voz ainda embargada pelas lágrimas.

"Eu vou. Eu prometo." Ryan se afasta também, com a camisa umedecida. "Mas eu tenho que trabalhar amanhã às onze."

"Ok. Estarei aqui até lá," digo a ele.

Ele abre a porta da frente para mim, mas ainda está chovendo muito.

"Espera aí." Ele coloca rapidamente um par de chinelos e pega um guarda-chuva de um vaso alto no chão. "Pronto, vamos," ele diz, colocando o braço em volta de mim e me acompanha até o meu carro.

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