Trinta e três | Dolor

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My father never talked a lot
He just took a walk around the block
'Til all his anger took a hold of him
And then he'd hit

Family line - Conan Gray


Kim Taehyung

      Luto. Eu nunca passei pelo luto. Nunca perdi alguém que fosse importante para mim. Quando meus avós morreram, eu não sentia nada além de indiferença, já que nunca fui próximo deles. Achei que passaria pelo luto quando meus pais morressem, mas agora, aqui, não consigo sentir absolutamente nada além de felicidade.

      Uma felicidade culposa, que sinto que não deveria existir. Mas, bem no fundo do meu coração, há uma paz tamanha que me faz incapaz de parar de sorrir.

      Eu sabia que assim que saísse da cerimônia funerária teria que fingir algo que não estava sentindo. Porque sabia que minha mãe - assim como em todas as outras coisas - transformaria uma coisa supostamente triste em um show de horrores, digno de flashes e câmeras gravando cada lágrima que escorresse de seu rosto.

      Hoje seria o dia em que eu provaria para mim mesmo se sou ou não um bom ator. Porque teria que fingir me importar com a falta dele em minha vida. Sendo que a verdade era a seguinte: eu nunca estive tão em paz em toda a minha vida. Como se todo o peso em meus ombros simplesmente sumisse.

      Eu sabia que minha mãe ainda estava viva e que boa parte da minha auto-sabotagem era causada por ela. No entanto, também sabia que minha mãe não era corajosa como meu pai era. Ela nunca faria algo contra mim diretamente, principalmente agora, que está sozinha. E isso me deixava ainda mais satisfeito, como se tivesse matado dois coelhos com uma cajadada só.

       — Mi amor? — chamou, fazendo-me tirar os olhos do espelho e me virar em sua direção. Ele estava bonito, com um terno preto e uma blusa vinho por dentro. Não estava tão luxuoso quanto gostava, dado a ocasião, mas ainda assim deslumbrante. — Como você está?

       Hoseok andava preocupado comigo nesses últimos dois dias. Como nunca foi antes, parecia ter medo de que em algum momento eu desmoronasse. Mas eu não sinto que isso vá acontecer. Não me afetou quando descobri nem mesmo quando vi as reportagens sobre seu acidente de carro. E muito menos nesta manhã de velório.

       Eu não sentia nada além de tranquilidade, como se tivesse nascido de novo hoje.

       — Estou ótimo. — suspirei, sorrindo fraco, enquanto me aproximava dele. — Você está bonito. — mexi na gola de seu terno, lambendo os lábios. Ele balançou a cabeça, como se não acreditasse que até em um momento como esse eu fosse atrevido.

       — Você também. Fazia tempo que eu não te via sair sem maquiagem. — fez carinho no meu rosto, fazendo-me deitar a face em sua mão. — Gosto de ver suas pintinhas. — tocou em meu nariz, me fazendo rir.

       — Achei que eu precisasse parecer desolado hoje. — comentei, vendo-o respirar fundo. Voltei até a estante só para pegar meus óculos escuros. — Tenho certeza de que minha mãe fará uma cena digna do Oscar hoje. — revirei os olhos, colocando os óculos. — Isso vai evitar que me vejam sorrindo com os olhos.

        — Sabe que era para você parecer triste, não é? — riu, entrelaçando nossos braços. Concordei, mas dei de ombros, porque até chegarmos ao local do enterro eu terei tempo para chorar falsamente. — Tem certeza de que está bem? — olhou-me preocupado.

El Imitador - KTH × JHSOnde histórias criam vida. Descubra agora