12. Pacto

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As semanas se misturavam em uma confusão de sentimentos que me rasgavam por dentro. Eu me sentia culpado, sujo, toda vez que Marc voltava ao Rio. Era como se eu traísse a inocência de Kadu, enganando-o na sua própria casa, ao lado de sua própria família. Mas, nas vezes em que Marc estava fora, era diferente. Com Kadu, tudo parecia mais leve, como se só existíssemos nós dois no mundo, livres daquela sombra que me cercava.

Ainda assim, a culpa me corroía. Pensei por diversas vezes em terminar com Kadu para protegê-lo de mim, de tudo o que estava acontecendo. Mas o sentimento que eu tinha por ele era mais forte que o medo, mais forte que a culpa. Por mais que a confusão com Marc me prendesse, o amor por Kadu era puro, e, de algum modo, era como uma âncora em meio ao caos.

Desde aquela noite em que vi Marc se ajoelhar aos meus pés, ele parecia mais... submisso, quase obcecado em não me afastar. Ele permitia mais a minha proximidade com Kadu, mas impunha limites sutis, ainda me controlando nas sombras. Então, para evitar problemas, eu tinha que tomar cuidado. Nos víamos fora da casa dele sempre que possível, e, quando íamos lá, apenas quando Marc estava longe. Nessas ocasiões, eu procurava desculpas: trabalhos de escola, idas a casas de amigos.

Aquele dia, uma quarta-feira, prometia ser diferente. Kadu e Giovanna tinham planejado uma tarde tranquila em casa, só entre amigos, nada demais. Greg e Nicholas também viriam. Era para ser uma tarde leve, e talvez até uma pausa dos dramas e da culpa.

Assim que saímos da escola, fomos direto para a casa deles. A piscina era azul e refletia o sol de fim de tarde, criando uma atmosfera de descontração que há muito eu não sentia. Os risos enchiam o ambiente, e a tensão parecia evaporar à medida que a bebida passava de mão em mão.

Nicholas e eu estávamos num canto da piscina, rindo e trocando histórias antigas. Ele era divertido, e suas piadas tinham um jeito de tirar um pouco da carga pesada que eu carregava. Enquanto isso, Kadu estava um pouco afastado, nadando mais para o fundo. Eu conseguia sentir o olhar dele sobre nós, e a cada vez que eu olhava para ele, seus olhos desviavam rapidamente, como se tentasse disfarçar o que estava sentindo.

O clima na piscina estava descontraído e animado. Estávamos todos rindo, trocando histórias, enquanto o sol brilhava sobre nós. Eu estava em uma conversa leve com Nicholas, que parecia ter um dom natural para fazer piadas, e, sem perceber, perdi a noção do tempo. Do outro lado da piscina, notei Kadu olhando para mim, o semblante dele endurecendo um pouco.

Nicholas era alguém com quem eu sempre me dava bem, e era fácil esquecer qualquer coisa ao lado dele. Ele ria de tudo, fazia trocadilhos e puxava conversa de um jeito espontâneo. Eu sabia que para Kadu, meu namorado, a história era outra. Ele observava Nicholas como se o amigo fosse uma ameaça, e eu via a expressão no rosto dele ficar cada vez mais fechada.

Alguns minutos depois, ele saiu da piscina e, sem que ninguém percebesse, fez um sinal discreto para que eu o seguisse. Percebi que alguma coisa estava errada e despedi-me rapidamente de Nicholas, caminhando até onde Kadu me esperava, mais afastado, à sombra das árvores. Ele estava de braços cruzados e uma expressão séria, os olhos fixos em mim.

– Yago, o que você tá fazendo? – ele perguntou de forma direta, sem rodeios. A voz saiu baixa, mas a tensão era evidente. Parecia que a qualquer momento ele explodiria.

– Do que você tá falando, Kadu? – retruquei, tentando manter a calma e já imaginando onde aquilo ia dar.

– Tô falando de você e o Nicholas – ele respondeu, sem tirar os olhos de mim. – Vocês tão rindo, conversando, e ele fica te olhando de um jeito... sei lá. Parece que você gosta mais da companhia dele do que da minha.

Suspirei, sentindo a pressão daquele momento. O ciúme de Kadu estava falando mais alto, mas a última coisa que eu queria era que ele se sentisse inseguro.

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