15. O peso da mentira

24 5 0
                                    

Estava deitado de bruços na cama, o cansaço começando a me vencer, quando senti o colchão afundar levemente ao meu lado e o calor familiar de Kadu. Seu toque foi suave, enquanto ele se inclinava para deixar um beijo delicado no meu pescoço, trazendo um arrepio que me tirou da sonolência.

— Demorei muito? — perguntou, deitando-se ao meu lado e acariciando meus cabelos com cuidado, como se quisesse me acalmar.

— Tranquilo, fiquei aqui sonolento — respondi, deixando escapar mais uma mentira.

Por dentro, meu peito estava pesado. Eu não podia contar que, enquanto ele estava fora, eu tinha estado no escritório do pai dele, envolvido em algo que ele jamais entenderia. Queria acreditar que tudo acabaria em breve, como Bia havia prometido, mas até lá, o peso das mentiras me esmagava.

Virei-me de lado, encarando a parede para evitar o olhar de Kadu. Ele continuou acariciando meus cabelos, sem pressa, como se soubesse que eu precisava de conforto, mesmo que eu não dissesse nada. O carinho dele era uma constante, como um lembrete silencioso de que eu não estava sozinho.

— Kadu... — falei, hesitante, querendo mudar o rumo dos meus pensamentos. — Você já namorou antes? Já amou alguém?

A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa. Senti sua mão parar por um instante, e ele ficou em silêncio, como se estivesse organizando os pensamentos antes de responder.

— Já sim... — disse, enfim, com a voz serena, mas carregada de uma certa nostalgia.

— Como foi? — perguntei, virando-me para olhá-lo.

Kadu desviou o olhar por um momento, encarando o teto. Era claro que o assunto mexia com ele, mas sua expressão não carregava raiva ou mágoa, apenas um pouco de tristeza.

— Eu namorei uma menina no ano passado. O nome dela era Amanda. No começo, era incrível. Nós nos dávamos super bem, nos divertíamos, tínhamos nossos momentos... — Ele deu um sorriso fraco, que desapareceu rápido. — Mas, com o tempo, algo mudou. Ela ficou distante, como se estivesse escondendo algo de mim. A gente começou a brigar e, um dia, ela simplesmente... desapareceu.

— Desapareceu? — repeti, sentindo um frio na espinha.

— Sim. Ela mandou uma mensagem para a mãe dizendo que ia a uma festa com as amigas, mas nunca chegou lá. Ninguém a viu de novo. — Ele suspirou e esfregou os olhos, como se quisesse afastar a memória. — Meu pai até contratou investigadores para tentar encontrar pistas, mas nada. É como se ela tivesse sumido do mundo.

Fiquei em silêncio, sentindo o peso das palavras de Kadu. Ele olhou para mim, como se procurasse algum tipo de resposta ou consolo, mas eu não sabia o que dizer.

— Deve ter sido horrível passar por isso... — murmurei, acariciando o braço dele.

— Foi. — Ele sorriu tristemente. — Mas a vida seguiu. E aí eu conheci você.

Havia tanta sinceridade no olhar dele, tanta ternura, que eu senti uma pontada de culpa no peito. Kadu não merecia estar no meio de toda essa confusão.

— Você não sabe o quanto isso significa para mim — falei, com um nó na garganta.

— Não precisa dizer nada. Só quero que saiba que estou aqui para você, sempre.

Ele me puxou para um abraço, e eu deixei minha cabeça descansar em seu peito, ouvindo as batidas do seu coração. Naquele momento, desejei com todas as forças que eu pudesse ser sincero com ele, mas o peso das mentiras era grande demais para ser desfeito tão facilmente.

Kadu continuou acariciando meus cabelos até que o cansaço finalmente me venceu. Ele se ajeitou ao meu lado, abraçando-me de forma protetora, e logo ambos estávamos mergulhados no silêncio reconfortante da noite. Dormir ao lado dele era sempre assim: simples, tranquilo, e, por mais que minha mente estivesse em caos, o corpo dele perto do meu era como um escudo contra as incertezas que me cercavam.

Segredos de FamíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora