2. Qual o meu preço?

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Enquanto eu abria a porta do quarto, só conseguia escutar a voz de Medusa na minha cabeça:

"Você vai abrir a porta, entrar, ficar parado e fazer o que ele mandar, não precisa falar nada."

Devagar, abri a porta e entrei no quarto. Tranquei-a e dei alguns passos para frente, tentando enxergar alguma coisa, mas estava tudo escuro.

— Yago — disse uma voz no fundo da sala, que logo se iluminou por um abajur aceso — seja bem-vindo.

— Obrigado — falei baixo.

— Está tudo bem? — disse o homem, se levantando e saindo da escuridão para que eu pudesse vê-lo.

Ele tinha cerca de 1,90 de altura, cabelos grisalhos, barba preta, mas já ficando grisalha. Vestia um terno. Era bem forte, com certeza malhava bastante e cuidava da saúde. Seus olhos eram castanhos, e à medida que se aproximava, um cheiro de perfume caro tomava conta do ambiente.

— Sim, eu só...

Não consegui terminar a frase, pois ele começou a me rodear, passando seus dedos pelo meu pescoço, meus braços e até mesmo minha nuca.
Acabei ficando arrepiado quando ele tocou minha nuca e me contorci.

— Você é novo por aqui, não é?

— Sim, eu morava no interior de São Paulo. Mudei-me para cá para estudar e tentar a vida com minha mãe.

— Problemas financeiros? — disse ele, pegando minha mão e me conduzindo até o sofá.

— Sim. Depois que meu pai morreu, tudo ficou muito difícil.

— E aí resolveu fazer programa? — perguntou ele, erguendo a sobrancelha.

— Eu não estaria aqui se tivesse outra opção — falei rispidamente. — Nunca fiz isso na minha vida. Nunca nem fiz sexo na minha vida inteira. Só quero ajudar minha mãe — disse, começando a sentir as lágrimas escorrerem.

— Fica tranquilo, menino — disse ele, limpando as lágrimas do meu rosto. — Você não precisa fazer nada disso.

— A Medusa vai me matar!

— Ela não vai saber de nada que acontece aqui dentro — disse ele, colocando a mão no bolso do terno e puxando um charuto. — Vamos conversar um pouco, eu te dou o seu dinheiro, e você segue sua vida.

— Mas você não me chamou aqui por outra coisa? — perguntei, encarando-o.

— Te chamei aqui porque te achei bonito — disse ele. — Um menino novinho, com essa carinha de inocente. Fiquei louco quando te vi lá embaixo.

— Você estava me observando? — perguntei, meio assustado. — E qual é o seu nome?

— Meu nome é Marcos, mas pode me chamar de Marc. É assim que meus amigos me chamam.

— Eu sou seu amigo, então?

— Escuta, garoto, eu gostei de você de verdade — disse ele. — Se houver uma segunda vez, não vou ser tão carinhoso assim. Vou querer o que estou disposto a pagar.

— Não vai ter uma segunda vez.

— Entendi — disse ele, me fitando e se levantando em direção ao telefone. — Quer comer o quê?

— Você quem sabe — dei de ombros.

Ele falou algo ao telefone que eu não entendi, voltou para o sofá e sentou-se ao meu lado, não muito longe, mas também não tão perto a ponto de me intimidar.

— E você gosta de garotos? — perguntei.

— Escuta, meu jovem, eu gosto de me divertir. É claro que eu não ia dispensar um garotinho como você.

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