death

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Eu não costumava interagir com os humanos, a não ser quando era inevitável. Muitos tinham uma habilidade peculiar de me irritar com suas decisões impulsivas e sua visão limitada do mundo. Mas esse professor, Gregory, era diferente. Ele tinha algo que me intrigava, mesmo para mim — uma entidade de outro mundo, com o poder de decidir quem chega ao fim da jornada e quem ainda permanece.

Lembro-me claramente do primeiro dia em que percebi seu potencial. Ele ainda era um jovem estagiário, quase tão verde quanto os próprios pacientes da emergência, mas seus olhos não tinham dúvida alguma. Naquela noite, um menino de apenas quatro anos entrou em parada cardiorrespiratória. Eu estava lá, pronto para levar sua alma, como era meu dever. Mas Gregory se recusou a desistir. Seus movimentos eram precisos, quase instintivos, e ele lutou pelo garoto com uma intensidade que raramente vejo em qualquer mortal.

Deixei que ele tentasse. Embora, em última instância, a decisão fosse minha, sempre ofereço uma chance, um pequeno espaço de luta para aqueles que realmente se dedicam a salvar uma vida. E, naquele instante, Gregory alcançou o impossível: o coração do garoto voltou a bater. Eu, uma entidade acostumada a decretar fins, me vi permitindo que ele ganhasse. Ele era especial. Desde então, mesmo que ele não saiba, eu o observei de perto, aguardando o próximo momento em que nossos caminhos se cruzariam.

Gregory era um dos poucos que realmente acreditavam na minha existência. Talvez ele não soubesse exatamente quem eu era, mas algo dentro dele parecia reconhecer minha presença. Eu sabia que ele sentia quando eu estava por perto, o que era incomum para um mortal. E, embora não goste de admitir, havia algo nisso que alimentava meu ego. Afinal, ser reconhecido por alguém com a mente tão afiada era quase... lisonjeiro.

Naquela tarde, no final da aula, alguém além de Gregory chamou minha atenção: uma jovem de cabelos negros. Já vi muitos com cabelos escuros, naturais ou tingidos, mas o dela tinha um brilho e uma intensidade que pareciam desviar a luz ao seu redor, destacando-a de uma forma incomum. Ouvi Gregory chamá-la pelo nome — Katarina. Era um nome forte e delicado ao mesmo tempo, combinando perfeitamente com a presença que emanava dela. É claro que nem ela nem Gregory percebiam que eu estava ali, mas, mesmo assim, eu observava, sentindo que algo naquela garota transcendia o comum.


Rainha da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora