Katarina chegou sozinha no campus da faculdade, com seu carro não tanto medíocre como ela achava que era em comparação aos carros automáticos que os alunos de classe alta chegavam junto com seus pais, todos sorridentes tanto por finalmente estarem livres de seus pais, e os pais por aquela conquista que claro que rendeu a eles cheques gordos aos coordenadores da faculdade. Aos 10 anos, foi a única sobrevivente de um acidente de carro que tirou a vida de seus pais. Para os médicos, foi um milagre. Para ela, um fardo. Crescer sem eles foi como viver sem raízes, sendo levada de um lar adotivo para outro, até que, finalmente, ela alcançasse este novo começo — uma chance de construir algo só dela, sem o peso da perda que sempre carregou. Numa terça-feira à tarde, em sua cidade no interior de Minnesota, Katarina correu até a biblioteca da pequena cidade. Quando entrou, o cheiro de papel e poeira a envolveu, um aroma familiar que a fazia sentir-se um pouco mais em casa, apesar da saudade constante. Mas naquele dia, algo a fez parar em seco. Seu nome estava ali, impresso em negrito: 5º lugar em medicina. Ela mal podia acreditar. Por um momento, tudo ao seu redor desapareceu. A tia da biblioteca fez um gesto impaciente, pedindo silêncio, mas Katarina mal ouviu. Só sabia gritar, com a voz abafada pela surpresa e pela emoção. Agora, em outro canto do país, Katarina se encontrava em um campus lotado, rodeada por rostos desconhecidos. Não havia ninguém ali para lhe dar boas-vindas. Apenas ela, com seus sonhos e um passado difícil, disposta a seguir em frente. Mas mesmo no meio daquela imensidão, ela sabia que seria só sua a responsabilidade de conquistar o futuro que tanto desejava.
Os pais de Katarina, grandes cirurgiões respeitados, sempre foram sua inspiração. Desde pequena, ela se via cercada por relatos de suas habilidades e conquistas. Era como se, ao escolher a medicina, ela estivesse cumprindo um destino. Depois de uma longa caminhada pelos corredores, Katarina finalmente chegou à porta do quarto 507. Quando a abriu, foi recebida por um cheiro doce e cítrico — o perfume de sua nova colega de quarto. Luiza, uma loira alta de cabelos lisos e ondulados, estava de costas, completamente absorvida em seu iPhone, onde documentava cada pequeno momento dessa nova fase da vida universitária, como se fosse uma experiência de outro mundo. A cena parecia tão diferente do que Katarina imaginara para si mesma — mas ali estava, naquele momento, sendo invadida por aquela realidade distante.
Luiza virou-se ao ouvi-la entrar, com um sorriso largo. "Oi! Você deve ser a Katarina, né? Adorei seu nome! Posso te chamar de Kat? Como um gato, né?" A loira parecia mais uma imagem de um sonho de faculdade do que alguém real. Sua voz era animada, quase excessiva, como se fosse impossível não espalhar sua felicidade por toda a sala. Ela estava filmando tudo com seu iPhone, como se cada detalhe da experiência universitária merecesse ser registrado. Katarina deu um sorriso tímido, sem saber muito bem como reagir. Ela ainda tentava se ajustar à ideia de dividir aquele pequeno espaço com outra pessoa. A cama ao lado da janela, as roupas espalhadas pela mesa — tudo parecia tão novo e, ao mesmo tempo, desconfortável. Mas era o começo de algo, e isso bastava para ela por enquanto.
Luiza apontou para o guarda-roupa do lado direito e, com um sorriso, disse:
"Eu peguei o guarda-roupa do lado direito, espero que não se importe."Katarina, que não se importava nem um pouco com a escolha do guarda-roupa, acenou com a cabeça. Ela já sabia que não teria muito espaço para si mesma. Afinal, sua vida sempre havia sido sobre se adaptar, O quarto estava uma verdadeira zona. Roupas espalhadas por todos os cantos, livros e objetos pessoais desordenados. Katarina se viu transportada para o passado, para aqueles tempos em que tinha que dividir cada canto com mais de 10 crianças em lares diferentes. Não era como se o caos do quarto de Luiza a incomodasse, mas a bagunça a fazia lembrar de uma época em que não tinha nada para si. Em casa, não havia espaço para ser só Katarina. Agora, ali, naquele quarto pequeno e bagunçado, ela sabia que ainda era cedo demais para sentir que aquele espaço também seria realmente dela. Mas era um começo, e isso tinha que ser suficiente. e ninguém saber do seu passado isso a fazia se sentir um pouco mais leve.
Luiza se virou animada para Katarina e, com um brilho nos olhos, perguntou:
"E aí, pronta para as festas e para conhecer os garotos da faculdade?"Katarina estava tão perdida em seus próprios pensamentos que nem percebeu a pergunta de Luiza de imediato. Ela franziu a testa, como se ainda tentasse processar aquele novo cenário.
"Hã... como disse?"Luiza, impaciente, repetiu com a mesma animação.
"Você vai na festa dos calouros? Todos os meninos vão estar lá. Vai ser demais!"Katarina hesitou. O pensamento de festas e garotos não a atraía, mas ela não queria parecer rude. "Eu... eu estou aqui para estudar, não para festas", disse ela, tentando disfarçar o desconforto.
Luiza, por outro lado, parecia não entender a resposta e continuou com seu entusiasmo exagerado.
"Ah, mas você tem que aproveitar, Kat! A vida universitária é sobre isso também! Você vai ver, vai ser incrível!"Katarina sentiu uma pressão crescente no peito. Não porque não quisesse fazer novas amizades, mas porque se sentia distante de tudo aquilo. As festas, os garotos, a diversão... tudo parecia tão superficial diante do que ela tinha em mente. Ela estava ali para conquistar algo maior, algo que, no fundo, nunca fora apenas sobre ela mesma, mas sobre o legado dos pais. Ela não poderia se permitir se perder nessas distrações agora.
"Eu realmente não estou a fim de ir", ela disse, com um sorriso forçado. "Tenho muita coisa para estudar." E, enquanto Luiza parecia não se abalar, Katarina sentiu que talvez ainda fosse muito cedo para entender como essa nova vida funcionaria — mas sabia que, de algum jeito, ela ainda tinha muito a aprender."Por favor, vamos! Eu não conheço ninguém aqui!", insistiu Luiza, com um brilho nos olhos que só fazia aumentar a pressão em cima de Katarina. *"O que é bem improvável", pensou consigo mesma, mal contendo a frustração. Ela já conseguia sentir o quanto Luiza estava empolgada para compartilhar aquela experiência, mas... *
"Eu empresto uma roupa minha! Vai ficar linda com esse vestido preto, combina com seus olhos", continuou Luiza, como se já tivesse decidido tudo por ela.
Luiza apareceu com um vestido preto, justo e colado ao corpo, que definia a cintura de Katarina de maneira quase excessiva. Ela sabia que nunca reclamara do próprio corpo, mas, naquele momento, ela se sentia vulnerável — exposta de uma forma que nunca estivera antes. Tinha uma cintura fina, seus peitos eram fartos, e seus cabelos lisos e negros pareciam mais pesados quando ela tentava se ver no espelho. Os olhos verdes, que tanto lembravam seu pai, estavam agora embaçados pela ansiedade.
Luiza, empolgada, apareceu com uma bota de couro até o joelho, mas Katarina a cortou imediatamente: "Eu não vou usar essa bota", disse, com firmeza. "Se for para usar o vestido, vou com meu tênis mesmo."
Luiza não contestou. Talvez ela estivesse mais preocupada com o evento do que com os detalhes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rainha da morte
Teen FictionKatarina é uma jovem de 20 anos que carrega a dor da perda desde os 10 anos, quando seus pais faleceram em um trágico acidente de carro. A perda precoce dos pais a forçou a amadurecer rapidamente, vivendo em lares adotivos e enfrentando uma infância...