Rainha da morte

jug-eum

Meses se passaram, e a sensação que aquela garota de cabelos negros emanava não se manifestava mais. No entanto, ela ainda invadia meus pensamentos, como uma sombra persistente que recusava desaparecer. Não importava o quanto eu tentasse me ocupar, algo nela continuava a ressoar em mim. Por quê? Por que uma simples humana conseguia mexer tanto com a minha essência? Era um mistério que eu ainda não conseguia decifrar.

Naquela noite, soube que haveria mais uma festa na Sigma, como todos os finais de semana. Normalmente, eu não me importaria, mas desta vez algo me incomodava. Algo me chamava, como se eu precisasse estar lá, mesmo sabendo que ela também estaria presente com ele. O pensamento de vê-los juntos, compartilhando risadas, toques e olhares... aquilo me causava uma sensação estranha e insuportável.

Ciúmes.

Que ridículo.

Eu, um ser imortal, uma entidade antiga e incompreensível, sentindo ciúmes de uma simples mortal e de um rapaz que não passava de poeira na eternidade. Era um conceito absurdo, mas não havia como negar.

Minha existência sempre foi sobre ordem e propósito. Cada alma, cada destino, cada evento — todos eram parte de um equilíbrio que eu compreendia e controlava. Mas com ela... com Katarina, nada parecia fazer sentido. Ela era caos na minha ordem. Uma faísca que eu não sabia como apagar e nem tinha certeza se queria.

"Por que ela?" perguntei-me novamente, como tantas outras vezes.

Naquela noite, pela primeira vez em eras, não sabia se deveria seguir meu impulso e ir até a Sigma, ou se deveria deixar minha curiosidade morrer junto com a inquietação em meu peito. A festa chamava, a energia das pessoas, suas emoções efervescentes... e ela estaria no meio de tudo, é claro.

Estava num canto escondido, onde as luzes estroboscópicas da festa não alcançavam, observando a multidão com uma indiferença habitual. Então, ela surgiu. Katarina, acompanhada por sua amiga loira, que era praticamente o oposto dela — como se fossem yin e yang encarnados. Enquanto a loira irradiava uma energia chamativa e cheia de confiança, Katarina carregava uma presença sutil, porém magnética. Mesmo rodeada por pessoas, parecia estar isolada em sua própria bolha, uma dualidade que me fascinava e irritava ao mesmo tempo.

Por mais que tentasse me manter invisível, ela me viu. Nossos olhares se cruzaram, e o mundo ao redor pareceu desaparecer. A intensidade daquele momento era algo que eu não estava preparado para lidar. Como ela sempre conseguia me notar, mesmo entre tantos rostos?

Então, ele apareceu. Jonas. O rapaz com aquele sorriso fácil e a postura protetora, que parecia um constante lembrete do quanto ela estava longe de mim. Assim que Jonas se aproximou, o olhar dela desviou. Aproveitei a oportunidade e desapareci, voltando para o lugar onde a lógica ainda fazia sentido para mim: o prédio do relógio no campus.

De lá, com a vista privilegiada da cidade iluminada, deixei meus pensamentos correrem soltos. A cada badalada, me questionava por que continuava tão intrigado com aquela garota. Por que ela me afetava de maneiras que nenhum humano jamais havia conseguido?

"Que droga estou fazendo aqui?" murmurei, mais para mim mesmo do que para o vazio ao meu redor.

Olhei para o horizonte, mas minha mente insistia em voltar à festa, a ela. E àquele momento em que nossos olhares se cruzaram.

Por que ela tinha que estar tão linda naquela noite?

Quando estava imerso em meus pensamentos, senti aquele leve puxão, uma força quase imperceptível que me chamava. Era uma sensação que eu já conhecia bem, e não precisava ouvir mais de uma vez para saber quem estava me invocando, ainda que inconscientemente. Katarina. Mas dessa vez, havia algo diferente. Algo mais... sombrio.