O vale

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Andar de moto com Jonas foi uma experiência assustadora e, ao mesmo tempo, excitante. A sensação do vento cortando o rosto, o som do motor rugindo e as mãos firmes segurando em sua cintura me deixavam entre a adrenalina e um certo desconforto por estar tão próxima a ele. Seguimos em direção à cidade, onde ele me levou a lugares tranquilos e acolhedores, como se sua intenção fosse me fazer sentir à vontade.

Paramos em uma cafeteria que também era uma pequena biblioteca. O cheiro de livros antigos misturado ao aroma de café torrado preenchia o ar de uma forma quase mágica. Aquilo, de alguma forma, parecia tão familiar, como se fizesse parte de quem eu era — ou talvez de quem eu fui um dia.

Sem perceber, mergulhei nas lembranças. Minha mente vagou até uma tarde na casa dos meus pais, antes de tudo desmoronar. Lembrei-me de minha mãe passando café para meu pai e o levando até a varanda. Eu brincava no balanço enquanto ele lia um daqueles livros de títulos enormes e tomava pequenos goles da bebida quente. Minha mãe ficava apenas nos observando, um sorriso tranquilo nos lábios, como se, naquele momento, tivesse encontrado o paraíso. Quando eu corria para seus braços, era como se o mundo inteiro se resumissem àquele instante perfeito.

Por um breve momento, lembrar deles não trouxe dor, mas uma saudade doce. Um sorriso escapou sem que eu percebesse. Talvez o que aconteceu comigo tenha sido um milagre, como o professor Gregory mencionou hoje.

Antes que meus pensamentos fossem longe demais, Jonas se aproximou, interrompendo minha reflexão com duas xícaras em mãos.

"Um duplo quente com chantilly para você," disse ele, colocando o café diante de mim.

"Chocolate quente para mim," completou, com aquele sorriso que fazia minhas bochechas corarem.

Eu agradeci, segurando a xícara quente entre as mãos, enquanto ele se sentava à minha frente. Por um momento, o barulho do ambiente desapareceu, e parecia que éramos só nós dois, compartilhando algo especial — mesmo que eu ainda não soubesse ao certo o que era.

"Não sei como consegue dormir depois de tomar dose dupla de cafeína," comentou Jonas, com um sorriso divertido enquanto girava sua xícara entre os dedos.

"Diria que é costume," respondeu Kat, levando a xícara aos lábios e saboreando mais um gole daquele café delicioso.

Jonas a observava com interesse, apoiando os cotovelos na mesa. "Me fala mais sobre você. Gosto musical favorito? Livros favoritos?"

Kat soltou uma risada suave, surpresa pela curiosidade dele. "Eu sou bem fã de música pop, ou algo mais acústico e tranquilo. Gosto de canções que contam histórias."

"Interessante," respondeu ele, inclinando-se ligeiramente para frente, os olhos fixos nos dela. Kat sentiu suas bochechas esquentarem sob aquele olhar intenso.

Ela desviou por um segundo, olhando para a xícara. Seu coração batia mais rápido. Desde a noite anterior, no quarto de Jonas, o gosto do beijo dele não saía de sua mente. Era como se, cada vez que pensasse nisso, seu corpo todo reagisse, ansioso por mais.

"Livros?" ele perguntou, a voz baixa e suave, como se fosse um convite para que ela continuasse a falar.

Kat abriu a boca para responder, mas Jonas se inclinou ainda mais. Por um momento, ela pensou que fosse apenas curiosidade, mas o calor crescente em seu olhar denunciava outra intenção. Era como se ele pudesse ler os pensamentos dela, sentir sua ansiedade e desejo.

Sem hesitar, ele se aproximou e a beijou.

Foi diferente do beijo anterior, mas igualmente intenso. Os lábios dele encontraram os dela com uma suavidade que parecia querer acalmar e, ao mesmo tempo, explorar cada nuance daquele momento. O gosto de café e o calor do toque dele se misturaram, fazendo Kat esquecer completamente onde estavam.

Rainha da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora