muerte

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Humanos... quem diria que poderiam ter tanta coragem e, ao mesmo tempo, tanta tolice? Vejo-os sofrer por coisas que, para mim, parecem fúteis. Consigo entender o desespero por falta de dinheiro, por um teto para morar... mas amor? Quem diria que tantos desejariam encontrar-me mais cedo por causa do amor — ou melhor, pela falta dele?

Eu estava entretido em uma guerra de gangues no beco mais escuro e afastado da cidade, recolhendo aquelas almas miseráveis, uma após a outra. Foi então que senti o leve puxão — um sinal inconfundível, vindo das almas puras, prestes a cruzar para o outro lado. Essas eram as melhores, as mais raras de se coletar. Apressei meu serviço e segui diretamente na direção da corda invisível que me chamava, sabendo que algo especial me aguardava do outro lado.

Quando cheguei ao local, percebi que era uma festa de fraternidade — adolescentes típicos, fingindo maturidade enquanto enchiam a cara. Pareciam brincar de verdade ou desafio. Estava prestes a me retirar, convencido de que não encontraria uma alma pura naquele redemoinho de hormônios e imprudência, quando a vi. Ela entrando pela porta, e seu cabelo escuro e brilhante era inconfundível. Katarina. O nome soou em minha mente como um sussurro doce.

Com um copo vermelho na mão, ela parecia deslocada ali, como se pertencesse a um outro lugar. Os jovens ao redor riam e brincavam, até que chegou a vez de Katarina encarar um desafio. Uma garota loira, cujo olhar parecia conter uma leve hostilidade, lançou lhe um desafio peculiar: pular na piscina gelada, com a temperatura lá fora em torno de 10°. Os outros jovens tentaram convencê-la a não fazer isso, chamando a ideia de loucura. Mas a garota de cabelos negros como ônix não hesitou.

Foi então que entendi por que havia sido chamado para cá. Ela era a alma que eu deveria levar naquela noite. Eu sabia que poderia mudar o destino dela, mas eu era proibido de infringir tal ordem natural das coisas.

Fiquei em dúvida se deveria interferir naquele momento, mas, por razões inexplicáveis, não pude evitar. Com um simples toque, deixei a água morna, apenas para ela. Observei a expressão da jovem de cabelos loiros, irritada com o desenrolar dos acontecimentos. Senti-me estranhamente satisfeito por ter desviado o curso natural das coisas em favor dela, mantendo-a segura.

No entanto, o que realmente me incomodou foi a cena que se seguiu: aquele humano, Jonas, envolvendo-a em uma toalha, agindo como se tivesse algum direito sobre ela. Irritou-me vê-lo se aproximar dela com tanta familiaridade. Não deveria me afetar — afinal, eu sou a Morte. Mas algo em Katarina parecia despertar em mim uma inquietação que eu ainda não compreendia.

Observei os jovens finalmente entrarem de volta na fraternidade antes de me retirar. Fui para o ponto mais alto da cidade, uma montanha solitária que apenas os fortes e corajosos de coração ousariam tentar escalar. Lá de cima, questionei-me sobre o que estava acontecendo comigo: sentimentos por uma humana? Um simples pedaço de barro, frágil e efêmero, que, cedo ou tarde, eu mesmo guiaria para o além. O pensamento me incomodava. Não devia haver laços, nem curiosidade. Eu sou a Morte — e minha única função é a passagem. Mas ali estava aquele sentimento incomodo e insignificante.

Rainha da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora