O verão chegou com aquele calor abafado e a promessa de diversão para todos os que podiam se dar ao luxo de sair do campus e ir para suas casas ou para algum lugar paradisíaco. Muitos tinham planos de visitar seus pais, outros fugiam para festas, churrascos e viagens improvisadas, aproveitando a liberdade da estação. Eu, no entanto, não tinha para onde ir, e com isso a opção foi se refugiar no campus, onde a tranquilidade parecia a melhor escolha.
O acampamento e a lagoa eram mais uma desculpa para os estudantes poderem se perder na diversão proibida, beber até se esquecerem dos próprios nomes e esquecer do resto do mundo. Eu, por outro lado, preferia a solitude, o som dos meus próprios pensamentos, e a certeza de que precisava dar um tempo nos meus sentimentos confusos, principalmente quando se tratava de Damon.
Nos últimos dias, nos encontramos mais duas vezes no prédio do relógio. Aquele lugar, que até então era apenas uma construção antiga e sem graça, agora parecia nosso refúgio secreto, um lugar onde eu podia pensar em tudo sem ser julgada, sem ninguém para interromper o curso dos meus próprios sentimentos. Cada encontro era mais intenso que o anterior, e quanto mais eu o via, mais me questionava sobre o que realmente estava acontecendo comigo. Damon parecia não se importar com o que acontecia ao nosso redor, focado apenas nos livros e em me fazer companhia de uma forma que me deixava desconfortavelmente à vontade.
Enquanto isso, Luiza, sempre curiosa, notava minha ausência e fazia questão de perguntar onde eu estava, se tinha "voltado" para Jonas, como ela brincava. Ela me observava, sempre com aquele olhar perspicaz, tentando entender o que se passava comigo. Mas, ao contrário do que ela imaginava, eu não estava sequer perto de Jonas. Ele era uma visão constante no campus, com aquele olhar de cachorro abandonado, esperando por alguma atenção minha. Rihanna, por sua vez, não perdia a oportunidade de se aproximar dele, sempre sorrindo de forma provocante, querendo mostrar quem realmente tinha o controle.
O que eu sentia por Damon não fazia sentido, e eu não sabia o que fazer com isso. Ele estava ali, no meu caminho, em um lugar que eu nunca imaginei que acabaria chamando de "refúgio", e eu sentia que ele tinha uma capacidade única de me fazer esquecer de tudo ao meu redor, inclusive de mim mesma.
Mas enquanto eu tentava entender essa nova dinâmica, o resto do campus seguia com suas próprias distrações. A diversão do verão estava ao alcance de todos, exceto para mim, que me via perdida entre dois mundos, sem saber para onde meu coração e minha mente estavam me levando
– Vamos, amiga! Eu vou só visitar eles, podemos ir à praia, tomar sol, esquecer de tudo. – Luiza insistiu, seu olhar cheio de animação. Ela estava empolgada com a ideia de deixar para trás o ambiente do campus e aproveitar o verão como qualquer outra pessoa normal.
– Realmente sair do campus seria uma boa, mas... – Kat hesitou, olhando para Luiza com um sorriso forçado. Ela sabia que a ideia de estar longe do campus, de todas as complicações e incertezas, seria algo que faria bem para sua cabeça. Porém, havia uma coisa que a prendia ali, e não era a escola.
A realidade era que Kat não queria sair de perto de Damon, por qual motivo que fosse. Era uma sensação desconfortável e difícil de explicar até para si mesma. O simples fato de saber que ele estava ali, em algum lugar naquele prédio antigo, fazia com que ela se sentisse estranhamente conectada a ele.
Ela não conseguia entender por que ele mexia tanto com seus sentimentos. Damon não era como os outros, com suas complexas camadas de mistério, mas ao mesmo tempo tão presente de uma maneira quase sobrenatural. Ele era enigmático, diferente de tudo o que ela já conhecera, e aquela sensação de atração por ele parecia tomar forma de maneira inexplicável.
– Eu não sei, Luiza. Talvez eu precise de mais tempo para pensar sobre tudo isso – disse Kat, desviando os olhos de sua amiga. Ela sabia que não podia dizer exatamente o que estava sentindo, pois ainda não compreendia por que estava tão atraída por Damon, por aquela energia que o cercava.
Luiza, embora percebesse que algo estava diferente com Kat, não insistiu mais. Ela já sabia que, quando sua amiga estava decidida, não adiantava muito pressioná-la. Ao invés disso, lançou-lhe um olhar desconfiado, mas em silêncio, se virou para pegar suas coisas, como se quisesse continuar sua jornada sozinha. Ela provavelmente pensaria que Kat estava apenas passando por um momento complicado, mas não poderia imaginar o quanto aquele simples desejo de estar perto de Damon estava interferindo nos sentimentos de Kat.
Kat se perdeu em seus pensamentos enquanto observava Luiza sair, ainda sem saber se deveria dar um passo para afastar-se de tudo isso ou se seguir com o que seu coração, de maneira inexplicável, desejava mais.
Kat estava sozinha no campus. Não encontrou Damon, nem mesmo na Torre do Relógio. Sem saber o que mais fazer, decidiu caminhar até o restaurante de comida japonesa mais próximo. Sabia que ficava a cerca de 20 minutos a pé, ou 5 de carro, mas preferiu caminhar. A noite estava linda, o céu estrelado e a brisa suave de verão trazia um conforto inesperado para sua mente agitada.
Enquanto caminhava em direção ao restaurante, algo a incomodou. Olhou por cima do ombro e percebeu que estava sendo seguida. O som de passos atrás dela era inconfundível. Acelerou o passo, mas quanto mais fazia isso, mais notava que o estranho fazia o mesmo. O pânico começou a tomar conta de seu corpo. Decidiu então mudar de direção e entrou por um beco, na esperança de despistá-lo. Mas, para sua surpresa, o homem desapareceu.
O coração de Kat disparou, batendo forte e descompassado, enquanto ela tentava recuperar o fôlego. Achava que tinha se livrado dele, mas o que ela não sabia era que o perigo estava apenas começando. O estranho apareceu diante dela, bloqueando a saída do beco.
O que você quer?– Kat perguntou, a voz tremendo de medo.
O estranho não respondeu. Seus olhos permaneciam fixos nela, sem emoção, como se fosse apenas uma sombra em sua noite. Antes que ela pudesse reagir, ele sacou algo da cintura, uma faca. Kat tentou correr, mas, em um movimento ágil, ele foi mais rápido. Em um instante, já estava a sua frente, e apunhalou o coração de kat 7 vezes.
Kat estava caída no chão, a dor lancinante em seu peito a fazia perder a consciência aos poucos. O sangue se espalhava pelo asfalto, manchando a calçada, enquanto a noite estrelada parecia zombar da sua dor, indiferente e silenciosa. Ela não conseguia compreender o que havia acontecido, o que tinha feito para merecer aquilo. O medo foi substituído por uma estranha sensação de calma, como se já soubesse que esse momento era inevitável. Talvez ela tivesse pressentido algo antes, mas nunca imaginara que seria daquele jeito. O som abafado de sua respiração se misturava ao bater de seu coração, que agora dava sinais de desacelerar, como se estivesse se despedindo. Ela queria gritar, queria lutar, mas o sangue a engolia em um torpor, uma dor que parecia emanar de seu corpo como se fosse um aviso silencioso de que seu tempo havia chegado.
"É assim que acaba?", pensou, mas as palavras mal podiam ser formadas em sua mente. Ela já estava se deixando ir. Algo dentro dela sabia que não poderia escapar. A sensação de impotência era esmagadora, mas ainda assim, enquanto o mundo ao seu redor escurecia, uma sensação de aceitação a envolvia. Ela, que tanto temia a morte, agora a via de frente, como uma amiga que, por algum motivo, havia esperado por ela. "Talvez agora eu entenda...", pensou, sua mente começando a se perder na escuridão.
Mas o som da noite não estava tão silencioso quanto ela imaginava. Não eram apenas os sons do vento e das folhas que se moviam ao redor. Algo mais estava no ar, algo que a envolvia e a puxava de volta. Algo ou alguém. Ela não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas a sensação de que não estava sozinha se intensificava a cada batida do seu coração.
E então, antes que ela perdesse completamente a consciência, uma presença familiar apareceu em sua visão turva. A sombra de alguém, uma figura que se aproximava com pressa, uma sensação de familiaridade que lhe causava um arrepio. "Damon...", ela sussurrou baixinho, ou talvez tenha sido só em sua mente. A dor se intensificou, mas ela não sabia mais se estava morrendo ou se estava sendo salva. A linha entre as duas realidades parecia se confundir, e uma última lembrança de algo que havia vivido, talvez com ele, passou como um flash na sua mente.
A última coisa que Kat viu foi uma luz distante, como se fosse um farol no fim do túnel, antes que tudo se apagasse por completo.
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Rainha da morte
Teen FictionKatarina é uma jovem de 20 anos que carrega a dor da perda desde os 10 anos, quando seus pais faleceram em um trágico acidente de carro. A perda precoce dos pais a forçou a amadurecer rapidamente, vivendo em lares adotivos e enfrentando uma infância...