A Saga das Três Irmãs - Capítulo 36

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Naquela noite, uma poderosa ventania atingiu a cidade. Não houve danos, salvo mercadorias e pedaços de palha dos telhados que voaram, porém as tendas dos refugiados foram bastante reviradas. Não fosse a proteção da muralha, a maior parte das tendas teria ido embora.

Apesar do mau tempo, lá estavam as senhoras de Örebro a debater outra vez. A pequena mesa de madeira continha apenas um trio de velas, cujas pequenas chamas malucas brincavam no centro. Essa iluminação fraca deixava os rostos um tanto sombrios, assim como vultos que pulsavam alucinados no tecido da barraca.


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Na ocasião, apenas Grimild, Knut e as irmãs estavam disponíveis para o debate, embora Jordano estivesse prestes a chegar e equilibrar o jogo. A ausência de público tornaria as coisas menos cênicas e, provavelmente, menos demoradas. Afinal, o tempo era um dos bens mais incertos naqueles dias.

"Esse preço é muito alto, pelos deuses!" — exasperou-se a viúva — "Quase o preço de quinhentas vacas, por uma dúzia de barcos, que só usaremos uma vez! Essa Dagmar é uma avarenta! Não é à toa que meu finado marido sempre discutia com ela. Esse preço está fora de questão."

"Barcos, não, navios" — ponderou Halthora — "Os trabalhadores precisam de um pagamento justo. A situação está difícil para os carpinteiros também. Já demos nossas joias, mas precisamos da sua parte para cobrir os custos."

"Eu não devo nada a vocês! Já estou usando quase toda a minha herança para alimentar o povo. Não conseguiram a libertação do príncipe, nem sequer uma acomodação decente. Não podemos negociar desse jeito!"

Knut permanecia em silêncio, mas seu rosto demonstrava total concordância com Grimild. Mais do que isso, grossas camadas de ressentimento irradiavam de sua aura.

"Na verdade, o jarl me devia o preço de quatorze lâminas de aço e três cotas de malha" — lembrou-se Jorun — "Ele deixou os guerreiros levarem para o combate contra os tróis, mas não me pagou nenhuma moeda de prata gasta!"

"E quem estava lá para testemunhar isso? Se essa dívida um dia existiu, agora está morta com meu finado marido."

"Como é que é?!" — grasnou Jorun, ao se levantar da cadeira — "Está me chamando de mentirosa?"

"Bem, eu me expressei mal. No entanto, devia ter cobrado essa dívida do comprador no momento oportuno. Agora estamos em uma situação desesperadora, ferreira. Quer que eu abra mão do tesouro de Örebro? Tudo bem, mas o que eu vou falar para as mulheres e órfãos que dependem de mim para se alimentarem? Como vou comprar mais alimento agora que não podemos caçar ou pescar como antes?"

A raiva mal contida de Jorun era evidente. Em vez de se sentar, a jovem irmã girou os calcanhares e saiu da tenda a trotar. Ingrid foi a segunda a se levantar. A ira dos olhos azuis era tão certeira quanto as flechas, porém, Halthora também ficou em pé e tocou seu braço.

Möjrakitan - A Saga das Três IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora