Meu querido baterista

𝟎𝟐𝟏

Voltávamos para casa com nossos instrumentos, uma tarefa que parecia simples, mas logo se revelou complicada. Os cases eram grandes e pesados, e o porta-malas parecia menor do que nunca. Mesmo assim, com esforço e trabalho em equipe, conseguimos levar tudo - tudo, exceto a bateria do Gunil. Não era algo que coubesse facilmente no carro, mas ele garantiu que daria um jeito de resolver depois. Gunil sempre encontrava uma solução.

Já era noite, e o cansaço começava a pesar mais do que qualquer um dos instrumentos que carregávamos. Eu sentia fome, mas era o sono que me vencia. Assim como Hyun-joon, que já cochilava ao lado de Gunil, eu me permiti relaxar. Apoiei a cabeça no ombro de Gunil, sentindo seu calor, e deixei o cansaço me envolver enquanto o carro seguia pelas ruas iluminadas pela luz suave dos postes.

Gunil era um mistério de contrastes. Ele tinha uma calma que parecia inabalável, uma serenidade que muitas vezes me fazia sentir seguro. Era centrado, confiável, a âncora que me mantinha no lugar quando o mundo parecia desmoronar. Mas, quando estávamos a sós ou entre amigos, ele se revelava outra pessoa. Era divertido, espirituoso e tinha um senso de humor afiado que transformava os momentos mais simples em memórias inesquecíveis. Lembro-me de uma sessão de RPG que jogamos juntos. Gunil roubou a cena com sua atuação, fazendo piadas que nos arrancaram lágrimas de tanto rir. Foi um daqueles momentos em que percebi o quanto eu amava cada faceta dele.

E eu o amo. Amo genuinamente. Amo de um jeito que nunca pensei ser possível amar alguém. Gunil é mais do que uma presença ao meu lado; ele é o calor nos dias frios, o riso nas noites difíceis. Ele gosta de chocolate quente enquanto estuda, uma pequena rotina que acho encantadora. Adora história e, às vezes, me conta fatos curiosos que aprendeu, mesmo que eu não entenda metade deles. Quando estamos sozinhos, ele tem um jeito especial de demonstrar afeto. Seus beijos leves em minha testa ou em meus ombros são como promessas silenciosas de que ele está ali, de que sempre estará ali.

Eu adoro sua risada. É engraçada, única, mas tem algo nela que me faz sorrir mesmo nos dias mais pesados. Gunil é incrível com Hyun-joon. Ele o trata com tanto cuidado e carinho que às vezes me pergunto se existe algo que ele não faça bem. Claro, nós temos nossos desentendimentos. Às vezes discordamos, e isso é normal. O que importa é que sempre encontramos um jeito de resolver. Eu sei que muitas das decisões dele vêm de um lugar de preocupação, de querer me proteger, e, embora isso nem sempre seja fácil para mim, eu sou grato.

Seus olhos são outro universo. É difícil descrever como ele me olha, mas tem algo naquele olhar que é impossível ignorar. Um carinho tão profundo que me deixa sem palavras, quase desconfortável de tão raro e precioso. É como se, naquele momento, eu fosse a única coisa que importa para ele. E, por mais estranho que pareça, eu acredito nisso. Pela primeira vez na vida, acredito.

Nossa relação é construída sobre algo raro: respeito. Poucas vezes, em momentos íntimos, nos permitimos ir além, e ele me ensinou a não ver isso como algo errado. Antes, a simples ideia de contato físico me fazia recuar, cheia de memórias e medos. Mas Gunil foi paciente. Ele me mostrou que isso podia ser bonito, que podia ser sobre confiança e conexão, não sobre medo ou obrigação. Que não precisava ser violento. Ele nunca ultrapassa os meus limites, sempre me deixa à vontade. Esse respeito, que deveria ser algo básico em qualquer relação, para mim é extraordinário. Porque antes de Gunil, eu nunca soube o que era ser tratado com cuidado. Ele me ajudou a não sentir nojo de mim mesmo.

Eu me lembro de suas palavras, do jeito que ele me elogia sem exageros, mas com uma sinceridade que me desarma. Do jeito que me abraça, como se quisesse me proteger do mundo inteiro. Sua linguagem de amor é o toque, e, para alguém como eu, isso é transformador. Cada toque é uma reafirmação do que ele sente, e, aos poucos, comecei a acreditar nele.