B E A T R I Z M O O R E
Não consigo dormir, não consigo respirar direito... Meu coração está acelerado, os batimentos são tão fortes que me sufocam. Meu corpo ainda está trêmulo, e eu sei que foi apenas um quase-beijo... Mas ele é meu tio, o mesmo sangue que corre nas minhas veias, corre nas dele.
Viro para um lado, viro para outro; nada do sono aparecer. Só consigo pensar nele, desejando acordar desse pesadelo de estar sentindo coisas por Noah. E ao mesmo tempo, desejando que estivéssemos abraçados agora, queria estar em seus braços.
Ele quase me beijou, então isso significa que sente o mesmo que eu, não é? Ou isso significa que ele sentiu pena de mim e quis ser legal... Que tipo de pessoa beija o canto da boca de alguém só por pena? Isso nem deve existir. Talvez ele me queira, goste de mim, mas sei que isso é apenas uma ilusão minha. Noah pode ter qualquer mulher que quiser, não perderia tempo vivendo um amor ilícito por mim.
Vejo que ainda são 5 horas da manhã, poucas horas para a aula, e eu não consegui nem fechar os olhos. Levanto e vou para a cozinha nas pontas dos pés, na intenção de não acordar minha mãe e Noah.
— Não pode voltar assim, após tantos anos! E para quê? Para ver o irmão que você nunca nem se deu ao trabalho de procurar? Não queremos você aqui, Vivian! — a voz de minha mãe se fez audível, me fazendo congelar e escutar atentamente a conversa.
Sigo a passos lentos em direção à sala e entro, vendo as duas irmãs uma de frente para a outra. Com olhares furiosos e cabeças erguidas. Como se nem uma das duas quisesse ceder. O que Vivian faz aqui a essas horas?
— Está errada, Lilian! Eu procurei por Noah, mas quando cansei e percebi que nunca o encontraríamos, eu desisti. — Fico incrédula. Não acredito que Vivian está aqui, só por causa de Noah! Ela e mamãe brigaram há tempos, por isso cada uma foi para o seu lado. Faz anos que não vejo tia Vivian e seu filho Lucca.
— Para de mentir, preferiu fugir e nos deixar à míngua. Nossos pais morreram de tristeza, tristeza pelo filho desaparecido e a filha egoísta. — Minha mãe já aumentava o tom, estou ficando apavorada. Não sei o que fazer para as duas ficarem calmas.
— Bom dia! — meu grito abafa a briga de fundo. Sinto uma mão no meu ombro e me viro bruscamente vendo Noah com um semblante sério.
— Ah, Noah! — a mulher com cabelos louros médio e pele clara o abraça, minha tia Vivian. Já mostra alguns sinais de velhice em seu rosto repleto de rugas, que ela esconde muito bem com produtos caros e plásticas. Tem os olhos azuis claros, vendo ela e Noah lado a lado, realmente, não tem como dizer que não são irmãos.
O sorriso deles é igual, igual os cabelos em loiro médio e o olhar. Eu não sei por que isso não me animou, afinal, ele não está enganando a nossa família. É mesmo um Thompson... Só que voltou após anos de desaparecimento.
— Você deve ser a Vivian! — diz sem se desfazer do abraço da irmã, observo a cena ainda parada feito estátua. Minha mãe está com uma cara nada boa, dê certo, pensando no quanto a irmã pode ser um ser humano ruim. Já que por anos nem ligou para saber se estávamos vivas.
Eles conversam por alguns minutos, enquanto eu vou para o meu quarto e me arrumo para a escola. Pego a mochila e desço as escadas, mexendo no celular, lendo as mensagens de Olívia. Que eu não faça ideia de como conseguiu meu número novo.
— Mãe, preciso de carona. Pode me levar? — pergunto vendo os três sentados à mesa tomando café. Noah estava sentado na ponta, enquanto Vivian e dona Lilian se encaravam, sentadas uma na frente da outra. Essa família é bizarra.
— Noah, pode levar ela pra mim? Acho que vou precisar desocupar um quarto para nossa hóspede. — ela diz, erguendo as chaves do carro e as alcançando para Noah.
— Dois quartos, mana. O Lucca também vem, só não está aqui agora. — avisa minha tia, me fazendo dar gritinhos de alegria.
— Quando ele vem? Estou com tanta saudade. — digo recebendo um sorriso gentil dela. Afinal, por que eles estão aqui? E que falta de educação chegar e pedir dois quartos, ela acha que aqui é hotel? Gasta bastante dinheiro com seus cremes faciais, por que não economiza e aluga dois quartos de hotel? Já que quer ficar tão perto assim do meu tio.
Eu estou sendo ridícula! Ela é minha tia também. Me pegou no colo quando eu era criança e também cuidou de mim. Foi muito atenciosa e me deu amor e carinho, eu continuo amando Vivian mesmo com o erro que ela cometeu. Talvez ao invés de eu criticar eu devesse ajudá-la a ficar aqui.
— Vamos, Beatriz? — murmura Noah já fechando a porta. Ah, eu não vou aguentar ficar nem um segundo no mesmo carro que ele. Não consigo não tocar no assunto, ou melhor, no beijo.
Entro no carro e o vejo colocar os óculos de sol, ignorando minha existência e ligando o automóvel. Talvez eu deva puxar assunto, já que estou surtando com isso.
— Ressaca? — questiono e ele balança a cabeça em afirmação. Reviro os olhos e pego meu celular, já não aguentando mais essa indiferença. Talvez eu esteja errada, e eu realmente estou. Mas quero falar sobre ontem, sobre nós... Mesmo que não exista um nós.
— Desculpas, fui um idiota ontem à noite. Não sei o que deu em mim. — Suas palavras saem baixas, como se ele realmente estivesse arrependido. E deve estar mesmo.
— Não precisa se desculpar, Noah. — É a única coisa que consigo dizer, já que minha cabeça está repleta de pensamentos e confusões.
— Preciso sim, eu fiz errado. Não deveria ter beijado tão perto da tua boca, eu confundi o lugar, e colocarei a culpa na bebida. — ele da um sorriso e eu seguro uma risada. Não acredito que estamos rindo ao falar de um assunto tão sério.
— Não confundiu minha bochecha com a minha boca, isso eu tenho certeza... — falo, vendo ele estacionar na frente da escola. Volto meu olhar para Noah que me observa com o cenho franzido, passando as mãos nos cabelos. Posso sentir seu nervosismo no ar. — Eu preciso ir.
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ILÍCITO
RomanceIlícito // condenado pela lei e/ou pela moral; proibido, ilegal. Quando Noah Thompson bate na porta dizendo ser da família, tudo muda de maneira brusca na vida dos dois. Beatriz vê toda sua sanidade e moral se esvair ao perceber que seus sentimento...