18. talking bad

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Felix Robane estava acostumado a lidar com as mais variadas personalidades da corte imperial. Mas nada, absolutamente nada, poderia prepará-lo para Alma.

"Você vai mesmo levar chá para aquele homem?" Alma perguntou, com as mãos ocupadas em arrumar o lenço em volta do cabelo. Seu olhar de julgamento estava tão afiado que Felix quase deixou a bandeja cair.

"O Imperador Claude," ele começou, tentando soar firme, "aprecia uma pausa tranquila para chá depois de reuniões intensas. E, como é meu dever-"

"Ah, claro! Porque ele é tão ocupado. Sentar num trono o dia inteiro e fazer cara de paisagem deve ser exaustivo," Alma interrompeu, cruzando os braços. "Coitado, né? Deve dar cãibra de tanto mandar os outros fazerem o trabalho por ele."

Felix engasgou com a própria saliva. "Senhorita Alma! Por favor, não fale assim do Imperador! Ele-ele tem responsabilidades... pesadas."

"Pesadas? Mais pesadas que o ego dele? Duvido." Ela girou nos calcanhares, encarando Felix com um sorriso satisfeito. "Aquele homem só sabe dar ordens e olhar para as pessoas como se fosse algum tipo de deus grego. O que, honestamente, é hilário considerando que ele não sabe a diferença entre 'por favor' e 'faça agora ou morra'."

Felix abriu a boca, mas não conseguiu encontrar palavras. Ela tinha uma maneira peculiar de transformar o ato de falar mal de Claude em uma arte. Ele ajeitou a gola da camisa, tentando parecer profissional. "O Imperador Claude... é uma pessoa complexa, senhorita."

"Complexa, meu nariz." Alma deu de ombros, pegando uma uva da bandeja e mastigando como se tivesse todo o tempo do mundo. "Ele é um tirano mimado que gosta de me chamar aqui só para me ver passar vergonha. Tenho certeza que a próxima ordem dele vai ser que eu dance com uma melancia equilibrada na cabeça, só porque ele acha engraçado."

"Majestade nunca faria isso!" Felix exclamou, mas a imagem mental foi tão absurda que ele quase riu. Quase.

Alma estreitou os olhos para ele. "Você tá defendendo ele, não tá? Ai, Senhor Robane, eu achei que você fosse uma pessoa decente."

"Eu sou!" Ele rebateu, corando violentamente. "E o Imperador também tem suas qualidades!"

"Quais? Ele sabe piscar dos dois olhos? Uau, que impressionante."

"Ele é muito inteligente!" Felix respondeu, parecendo mais desesperado agora. "E estrategista! E-e um líder dedicado!"

"Uhum, claro," Alma respondeu, sem nem tentar esconder o sarcasmo. "Super dedicado. Dedicado a me transformar em um brinquedo de palco."

Felix deu um passo mais próximo, abaixando a voz como se estivesse temendo que Claude pudesse surgir de alguma sombra aleatória. "Senhorita Alma, por favor... o Imperador pode ser... difícil, mas ele não é um homem ruim."

Ela inclinou a cabeça para o lado, estudando-o com ceticismo. "Você acredita mesmo nisso, Senhor Robane? Tipo, de verdade? Porque, para mim, parece que você está tentando se convencer enquanto me convence."

"Eu acredito!" Felix insistiu, mas sua expressão ficou estranhamente distante. Por alguns segundos, ambos ficaram em silêncio.

"Então..." Alma finalmente quebrou o momento, inclinando-se para ele com um sorrisinho malicioso. "Você acha ele um merdinha também, né?"

"Senhorita Alma!" Felix parecia genuinamente horrorizado, a bandeja tremendo em suas mãos. "Eu jamais-! Ele é o Imperador!"

"Mas é, né? Vai, você pode admitir, eu não conto pra ninguém." Ela piscou para ele, com um sorriso que dizia que estava se divertindo horrores.

Felix apenas a encarou em silêncio, e ela levantou as sobrancelhas como se o desafiando. Por fim, ele suspirou profundamente, os ombros caindo.

"Eu... não posso concordar com isso," ele murmurou, o rosto tão vermelho que parecia um tomate maduro. "Mas... às vezes... raramente... ele pode ser um pouco... difícil de lidar."

Alma deu um gritinho de vitória. "EU SABIA! Sabia que você também acha ele insuportável!"

"Eu não disse isso!" Felix rebateu, mas era tarde demais. Alma estava rindo como se tivesse acabado de ganhar a melhor competição de todas.

Ele colocou a bandeja sobre a mesa com um olhar derrotado e se virou para ela, tentando manter a compostura. "Só, por favor, não repita isso para ele. Eu não quero acabar no calabouço."

"Relaxa, Felix, meu amigo," Alma respondeu, ainda rindo. "O máximo que ele faria seria me convocar de novo para dançar no seu enterro. A gente tem um trato estranho, sabe?"

Felix apenas suspirou, afundando a cabeça nas mãos enquanto tentava não rir também. Aparentemente, lidar com Alma era quase tão complicado quanto lidar com o próprio Imperador.

Pelo menos ela parou de chamá-lo de Senhor Robane.

𝐀𝐋𝐌𝐀, 𝑤𝑚𝑚𝑎𝑝Onde histórias criam vida. Descubra agora