Capítulo 24: "Rei dos Judeus ou Barrabás?"

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  "Na cegueira do ódio, escolheram libertar a sombra e crucificar a luz."

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  A praça estava tomada. Um mar de vozes agitadas ressoava entre as paredes de pedra, ecoando como trovões num céu carregado. O cheiro de suor e poeira misturava-se ao aroma das especiarias que ainda pairava no ar desde o amanhecer, criando um cenário sufocante. Ao centro, erguia-se o palanque imponente, um símbolo de poder e julgamento, onde Pôncio Pilatos se preparava para conduzir o destino de um homem.

Madalena, no limite da multidão, tremia. Suas mãos apertavam o véu ao redor dos ombros enquanto seu olhar permanecia fixo em Jesus, que era empurrado pelos soldados até o topo do palanque. A cada passo, o tilintar das correntes que colocaram em seus pulsos quebrava o burburinho, um som frio e impiedoso que feria os ouvidos e o coração de quem prestava atenção.

Pilatos sentou-se, ajustando o manto sobre os ombros. Seus olhos, acostumados ao poder, demonstravam algo incomum: dúvida. Ele virou-se para Jesus, que permanecia de pé, a túnica e o  manto púrpura sujos de sangue e poeira, o rosto marcado pela dor, mas sem sombra de desespero.

Pilatos dirigiu-se a ele, cortando o ar com sua voz autoritária.

—Você pode se defender.

Jesus permaneceu imóvel. Seu silêncio parecia preencher o espaço vazio entre ele e o governador.

Insistiu Pilatos, inclinando-se levemente para o lado de Jesus.

—Você não vai mesmo se defender?

Jesus não respondeu. Seus olhos estavam calmos, mas intensos, como se mirassem além da multidão, além do próprio tempo.

Resmungou Pilatos, recostando-se com resignação:

—Pois então que assim seja.

Levantando-se, voltou-se para a praça, estendendo os braços para a multidão que aguardava, ansiosa, o desfecho.

Começou ele, com a voz grave ressoando como um trovão.

—Povo judeu! Eu tenho uma ideia melhor para acabarmos com isso de uma vez, sem que haja mais conflitos.

Alguns rostos se voltaram para ele, enquanto outros ainda olhavam para Jesus, como se tentassem decifrá-lo.

Continuou Pilatos, observando a reação dos presentes.

—Que tal apenas que este homem seja chicoteado como forma de punição?

A proposta caiu como um balde de água fria. Por um momento, houve silêncio. Mas logo o descontentamento explodiu. Gritos e xingamentos se misturaram num caos de sons, exigindo mais do que Pilatos havia sugerido.

Madalena, que estava na frente, observava a cena com o coração apertado. O calor das vozes furiosas ao seu redor fazia sua pele arder, e o peso do momento parecia esmagá-la. Foi então que, ao virar o rosto, ela os viu.

Três figuras, próximas ao limite da multidão, mantinham-se em silêncio, quase imóveis. Os mantos que cobriam parcialmente os rostos não eram suficientes para esconder suas identidades. Pedro, Mateus e André.

Um misto de choque e tristeza a invadiu. Eles estavam ali, escondidos entre o povo, observando, mas sem coragem de agir.

"Abandonaram Jesus no momento em que ele mais precisava. E agora estão aqui, apenas para vê-lo ser humilhado."

pensou ela, sentindo o amargo sabor do remorso e da indignação em sua boca.

A sensação de isolamento tomou conta dela. Entre os gritos da multidão e o silêncio cúmplice dos discípulos, A discípula sentiu como se fosse a única ali que ainda ousava carregar a fé em seu coração.

Maria Madalena:A voz do silêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora