Lucien quebrou o silêncio.— Sabe qual é o problema com você, Seraphine?
Seraphine soprou a fumaça devagar antes de olhar para ele.
— Não, mas tenho certeza de que você vai me iluminar, vizinho.
Ele riu baixo.
— Você mantém todo mundo à distância. É fria, intocável. Nem quem tenta chegar perto consegue.
As palavras a atingiram como um soco, mas Seraphine abriu um sorriso sarcástico.
— Ah, claro. E você é um especialista em entender as pessoas, né? Sempre bancando o fodão, mas no fundo só quer atenção.
Lucien fez uma expressão que mudou para algo mais sombrio.
— Pelo menos eu sou honesto. Você se esconde atrás dessa pose de durona, mas no fundo está apavorada. Deve ser cansativo viver assim, afastando todo mundo pra não correr o risco de sentir nada.
Seraphine deu um passo à frente, o cigarro agora esquecido em sua mão.
— Cuidado com o que você diz, Lucien. Você não sabe nada sobre mim.
— Não? — Ele deu um meio sorriso, mas a amargura em sua voz era evidente. — Agora prefere fingir que não sente nada. É mais fácil ser fria do que correr o risco de sentir algo, não é?
O coração de Seraphine apertou, mas ela não deixaria ele perceber.
— E quem é você pra falar? Alguém que vive controlando tudo porque tem pavor de perder o pouco que acha que tem? Não projete suas merdas em mim.
A tensão era palpável. Lucien deu um passo à frente, a expressão endurecida.
— Pelo menos eu não corro. Você, por outro lado, faz isso muito bem. Continua fugindo, Seraphine. Talvez um dia você consiga correr de você mesma também.
Isso foi demais. Seraphine jogou o cigarro no chão, apagando-o com um pisão, e se afastou sem dizer mais nada. A chuva fria a atingiu assim que saiu debaixo do toldo, mas ela não se importou.
Lucien ficou parado, os punhos cerrados, enquanto observava a silhueta dela desaparecer na tempestade.
Ela pegou sua moto e desapareceu na chuva, o som do motor ecoando pelo barulho das gotas. A raiva descontrolada se misturava à dor em seu peito. Mas logo o frio e a chuva começaram a castigá-la.
Lucien voltou ao bar, mas algo o incomodava.
Ele se sentou ao lado de Amara, tentando parecer indiferente, mas não conseguiu. A imagem de Seraphine desaparecendo na chuva, com aquele olhar que era mais do que raiva, não saía da sua cabeça.
— Onde está a Seraphine? — Amara perguntou, percebendo a tensão dele.
— Foi embora. — Ele respondeu secamente, evitando encará-la.
Amara estreitou os olhos. Sem dizer nada, pegou o celular e ligou para a amiga. Quando Seraphine atendeu, sua voz rouca e fraca fez o coração de Amara apertar.
— Sera, tá tudo bem? Você parece... estranha.
Do outro lado da linha, Seraphine tentou soar indiferente, mas falhou.
— Tô.
Amara trocou um olhar preocupado com Dorian, que estava distraído mexendo no copo.
— Sera, me espera em casa. Eu já tô indo, tá? — Amara desligou antes que a amiga pudesse protestar.
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Quatro vidas, um destino fatal
RomanceGênero: Enemies to Lovers Sinopse: A história começa há 12 anos, quando Amara Noirvale e Seraphine Dulac se conheceram no jardim de infância. Desde então, elas são inseparáveis. No entanto, a vida de Seraphine muda drasticamente aos 10 anos, quando...