Prólogo - Promessa de sangue

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SETE ANOS ATRÁS

21 de julho de 2017

As noites eram silenciosas demais em Blackridge, a pequena cidade no interior de Louisiana onde Amara Noirvale e Seraphine Dulac cresceram. O cheiro das magnólias invadia o ar, misturado ao gosto metálico de um medo que nenhuma delas sabia nomear.

Seraphine estava sentada no chão do quarto de Amara, abraçada aos joelhos. Seus olhos, inchados de tanto chorar, estavam fixos em um ponto qualquer da parede. Do lado de fora, a chuva tamborilava contra a janela. Amara, com 15 anos, sentava-se ao lado dela, tentando desesperadamente encontrar palavras que pudessem aliviar a dor de sua melhor amiga.

— Ele fez de novo, Amara — sussurrou Seraphine, a voz trêmula e quase inaudível. — Eu não aguento mais. Não sei como continuar...

Amara apertou os punhos até as unhas se cravarem na palma de sua mão. A raiva que sentia parecia maior que ela mesma, uma fera que rugia para sair. Mas, naquele momento, não havia espaço para sua fúria — Seraphine precisava de algo mais do que isso.

— Você não está sozinha — respondeu Amara, sua voz firme, mas baixa. — Eu prometo, Seraphine. Nunca vou deixar você enfrentar isso sozinha. Nem hoje, nem nunca.

As palavras eram simples, mas carregavam o peso de algo mais profundo. Algo que só duas meninas que haviam compartilhado feridas invisíveis poderiam entender. Seraphine se virou para Amara, os olhos transbordando lágrimas, mas também algo que parecia um fio de esperança.

— E se ele machucar você também? — perguntou Seraphine, hesitante.

— Ele pode tentar, mas eu não sou como você. Eu não vou deixar ele te machucar mais.

Amara deu um sorriso curto e sombrio, que parecia muito mais velho do que ela.

Do lado de fora, o trovão ribombava ao longe, como se a tempestade escutasse o peso das palavras de Amara. Ela se levantou sem dizer nada e foi até a gaveta da cômoda, pegando um pequeno canivete que seu pai costumava usar para abrir cartas. A lâmina estava desgastada, mas ainda cortava.

- Amara... o que você está fazendo?
perguntou Seraphine, seus olhos arregalados.

Amara se ajoelhou diante dela, abrindo o canivete com cuidado.

- Nós não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos jurar que isso nunca mais vai nos quebrar. Nem ele, nem ninguém.

- Isso é... loucura — murmurou Seraphine, hesitante.

- Loucura é deixar ele vencer. Confia em mim, Sera.

Seraphine respirou fundo e, com um pequeno aceno, estendeu a mão. Seus dedos tremiam levemente, mas ela não recuou. Amara fez um corte raso na própria palma, depois fez o mesmo na mão de Seraphine.

O sangue surgiu, quente e vermelho. Amara segurou a mão de Seraphine na sua, unindo os cortes.

— Eu, Amara Noirvale, juro pelo meu sangue que nunca vou te abandonar, não importa o que aconteça. Vou lutar por você, Sera. Sempre.

Seraphine engoliu em seco, os olhos cheios de lágrimas. Ela apertou a mão de Amara com força.

— Eu, Seraphine Dulac, juro que nunca vou deixar você sozinha. Nós vamos sair disso juntas. Sempre.

A chuva ficou mais forte, tamborilando contra a janela, mas nenhuma delas percebeu. A dor dos cortes desapareceu diante do peso daquela promessa.

Quando finalmente soltaram as mãos, ambas tinham sangue escorrendo pelas palmas, mas um sorriso cúmplice surgiu entre elas.

— Agora somos irmãs de sangue de verdade — disse Amara, limpando as lágrimas do rosto de Seraphine com cuidado.

— Irmãs para sempre — respondeu Seraphine.

Naquela noite, a escuridão lá fora parecia menor. Elas não sabiam o que o futuro lhes reservava, mas, pelo menos, tinham uma à outra. E isso era tudo o que precisavam para continuar.

Quatro vidas, um destino fatalOnde histórias criam vida. Descubra agora