1 SEMANA DEPOIS
O som suave da música clássica preenchia o ambiente iluminado por espelhos e barras de madeira. O estúdio de balé era o refúgio de Seraphine, um lugar onde o caos do mundo desaparecia, deixando espaço para precisão, controle e arte. Ela estava de frente para o espelho, os cabelos escuros presos em um coque impecável, os olhos focados no próprio reflexo.— Plié... relevé... e agora, pirueta.
Os movimentos eram firmes, quase calculados demais, mas havia algo de hipnotizante em sua postura. Seraphine não fazia nada pela metade. O balé, assim como o resto de sua vida, era uma questão de disciplina e dedicação.
Depois de uma última sequência, ela deixou o corpo relaxar, respirando fundo. Pegou a toalha ao lado, secando o suor que escorria da testa. Enquanto olhava ao redor do estúdio vazio, um leve sorriso curvou seus lábios.
— Mais um dia. — murmurou para si mesma, pegando a bolsa com sua jaqueta de couro pendurada na lateral.
Longe da delicadeza do balé, Seraphine era uma força da natureza. Forte, reservada e com um estilo marcante, ela não passava despercebida. A jaqueta de couro, os anéis prateados nos dedos e as botas pesadas contrastavam com a leveza que ela exibia no estúdio.
Do lado de fora, sua moto aguardava. Seraphine ajustou o capacete e acelerou, sentindo o vento no rosto enquanto as ruas de Las Vegas passavam como borrões ao seu redor.
Do outro lado da cidade, Amara terminava sua última sequência no ringue de luta. O suor escorria por suas têmporas enquanto ela desferia um último chute certeiro no saco de pancadas, o som ecoando pela academia quase vazia.
— Ufa, foi intenso. — disse ela, rindo para si mesma.
Com luvas de treino nas mãos e os cabelos desgrenhados presos em um rabo de cavalo, Amara era a personificação da adrenalina. Para ela, a luta não era apenas um esporte — era um estilo de vida. Cada golpe, cada movimento, trazia uma descarga elétrica que a fazia se sentir viva.
— Tá pegando leve hoje, Amara? — provocou um dos treinadores, enquanto passava por ela.
— Tá vendo isso? — respondeu ela, apontando para o saco de pancadas quase caindo. — Isso aqui foi leve pra você?
Ele apenas riu, balançando a cabeça.
Quando Amara finalmente deixou a academia, a noite já caía. O céu exibia tons alaranjados, e o ar quente da cidade parecia sussurrar promessas de novas aventuras. Ela caminhou até a moto — sua fiel companheira — e subiu, ajustando o capacete com um sorriso no rosto.
— Hora de sentir o vento.
NO APARTAMENTO
Amara chegou no apartamento compartilhado com Seraphine pouco depois do anoitecer. O som de acordes de guitarra preencheu o ambiente assim que ela abriu a porta. Ela sorriu, jogando as chaves em cima do balcão da cozinha antes de seguir o som.
Seraphine estava sentada no sofá, dedilhando sua guitarra elétrica, completamente imersa. Seus dedos se moviam com precisão pelas cordas, e a melodia era intensa, quase melancólica.
— Você não cansa de ser estilosa, né? — Amara provocou, jogando-se ao lado dela no sofá.
Seraphine parou de tocar, olhando para a amiga com uma expressão divertida.
— Não é um talento, é um dom.
Amara riu, mas sua atenção foi desviada para o que parecia ser um álbum de esboços sobre a mesa.
— Isso é novo?
Seraphine tentou pegar o caderno antes que Amara o alcançasse, mas foi tarde demais.
— Ah, então além de guitarrista e bailarina, você é estilista agora?
— Dá isso aqui. — Seraphine arrancou o caderno das mãos dela, visivelmente desconfortável. — São só ideias.
— Ideias incríveis, você quis dizer. — Amara cruzou os braços, um sorriso no rosto. — Tá pensando em abrir uma marca ou só guardando talento pra si mesma?
Seraphine hesitou antes de responder, sua voz saindo mais baixa do que o normal.
— Quem sabe. Ainda é cedo pra dizer.
— E essa humildade toda? Isso não combina com você. — Amara brincou, cutucando-a com o cotovelo.
Apesar da provocação, havia respeito nos olhos de Amara. Ela sabia que Seraphine carregava uma ambição que raramente revelava para o mundo.
— E você? Como foi o dia? — perguntou Seraphine, mudando de assunto.
— Treinei até quase desmontar o saco de pancadas, e ainda consegui tempo pra uma voltinha pela cidade. Sabe como é, a vida me chama.
— Ah, claro. A grande Amara, movida a adrenalina. — Seraphine revirou os olhos, mas um leve sorriso escapou.
— Não posso evitar. Adrenalina é vida. — Amara levantou-se, indo até a cozinha para pegar algo para beber. — Você devia experimentar.
— Eu prefiro controlar o caos, não me jogar nele. — respondeu Seraphine.
Amara voltou com duas garrafas de água, jogando uma para a amiga antes de sentar-se novamente.
— Acho que é isso que faz a gente funcionar. Somos como dia e noite.
Seraphine ergueu uma sobrancelha.
— Isso foi profundo demais pra você. Tá tudo bem?
— Vai à merda. — Amara riu, jogando uma almofada nela.
As duas riram juntas, e por um momento o apartamento parecia mais aconchegante do que de costume. Apesar das diferenças — ou talvez por causa delas —, Amara e Seraphine eram inseparáveis.
Cada uma era uma força por si só, mas juntas? Elas eram imparáveis.
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Quatro vidas, um destino fatal
RomanceGênero: Enemies to Lovers Sinopse: A história começa há 12 anos, quando Amara Noirvale e Seraphine Dulac se conheceram no jardim de infância. Desde então, elas são inseparáveis. No entanto, a vida de Seraphine muda drasticamente aos 10 anos, quando...