Capítulo 4 - As duas faces da mesma moeda

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1 SEMANA DEPOIS



O som suave da música clássica preenchia o ambiente iluminado por espelhos e barras de madeira

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O som suave da música clássica preenchia o ambiente iluminado por espelhos e barras de madeira. O estúdio de balé era o refúgio de Seraphine, um lugar onde o caos do mundo desaparecia, deixando espaço para precisão, controle e arte. Ela estava de frente para o espelho, os cabelos escuros presos em um coque impecável, os olhos focados no próprio reflexo.

— Plié... relevé... e agora, pirueta.

Os movimentos eram firmes, quase calculados demais, mas havia algo de hipnotizante em sua postura. Seraphine não fazia nada pela metade. O balé, assim como o resto de sua vida, era uma questão de disciplina e dedicação.

Depois de uma última sequência, ela deixou o corpo relaxar, respirando fundo. Pegou a toalha ao lado, secando o suor que escorria da testa. Enquanto olhava ao redor do estúdio vazio, um leve sorriso curvou seus lábios.

— Mais um dia. — murmurou para si mesma, pegando a bolsa com sua jaqueta de couro pendurada na lateral.

Longe da delicadeza do balé, Seraphine era uma força da natureza. Forte, reservada e com um estilo marcante, ela não passava despercebida. A jaqueta de couro, os anéis prateados nos dedos e as botas pesadas contrastavam com a leveza que ela exibia no estúdio.

Do lado de fora, sua moto aguardava. Seraphine ajustou o capacete e acelerou, sentindo o vento no rosto enquanto as ruas de Las Vegas passavam como borrões ao seu redor.

Do outro lado da cidade, Amara terminava sua última sequência no ringue de luta. O suor escorria por suas têmporas enquanto ela desferia um último chute certeiro no saco de pancadas, o som ecoando pela academia quase vazia.

— Ufa, foi intenso. — disse ela, rindo para si mesma.

Com luvas de treino nas mãos e os cabelos desgrenhados presos em um rabo de cavalo, Amara era a personificação da adrenalina. Para ela, a luta não era apenas um esporte — era um estilo de vida. Cada golpe, cada movimento, trazia uma descarga elétrica que a fazia se sentir viva.

— Tá pegando leve hoje, Amara? — provocou um dos treinadores, enquanto passava por ela.

— Tá vendo isso? — respondeu ela, apontando para o saco de pancadas quase caindo. — Isso aqui foi leve pra você?

Ele apenas riu, balançando a cabeça.

Quando Amara finalmente deixou a academia, a noite já caía. O céu exibia tons alaranjados, e o ar quente da cidade parecia sussurrar promessas de novas aventuras. Ela caminhou até a moto — sua fiel companheira — e subiu, ajustando o capacete com um sorriso no rosto.

— Hora de sentir o vento.


                  NO APARTAMENTO

Amara chegou no apartamento compartilhado com Seraphine pouco depois do anoitecer. O som de acordes de guitarra preencheu o ambiente assim que ela abriu a porta. Ela sorriu, jogando as chaves em cima do balcão da cozinha antes de seguir o som.

Seraphine estava sentada no sofá, dedilhando sua guitarra elétrica, completamente imersa. Seus dedos se moviam com precisão pelas cordas, e a melodia era intensa, quase melancólica.

— Você não cansa de ser estilosa, né? — Amara provocou, jogando-se ao lado dela no sofá.

Seraphine parou de tocar, olhando para a amiga com uma expressão divertida.

— Não é um talento, é um dom.

Amara riu, mas sua atenção foi desviada para o que parecia ser um álbum de esboços sobre a mesa.

— Isso é novo?

Seraphine tentou pegar o caderno antes que Amara o alcançasse, mas foi tarde demais.

— Ah, então além de guitarrista e bailarina, você é estilista agora?

— Dá isso aqui. — Seraphine arrancou o caderno das mãos dela, visivelmente desconfortável. — São só ideias.

— Ideias incríveis, você quis dizer. — Amara cruzou os braços, um sorriso no rosto. — Tá pensando em abrir uma marca ou só guardando talento pra si mesma?

Seraphine hesitou antes de responder, sua voz saindo mais baixa do que o normal.

— Quem sabe. Ainda é cedo pra dizer.

— E essa humildade toda? Isso não combina com você. — Amara brincou, cutucando-a com o cotovelo.

Apesar da provocação, havia respeito nos olhos de Amara. Ela sabia que Seraphine carregava uma ambição que raramente revelava para o mundo.

— E você? Como foi o dia? — perguntou Seraphine, mudando de assunto.

— Treinei até quase desmontar o saco de pancadas, e ainda consegui tempo pra uma voltinha pela cidade. Sabe como é, a vida me chama.

— Ah, claro. A grande Amara, movida a adrenalina. — Seraphine revirou os olhos, mas um leve sorriso escapou.

— Não posso evitar. Adrenalina é vida. — Amara levantou-se, indo até a cozinha para pegar algo para beber. — Você devia experimentar.

— Eu prefiro controlar o caos, não me jogar nele. — respondeu Seraphine.

Amara voltou com duas garrafas de água, jogando uma para a amiga antes de sentar-se novamente.

— Acho que é isso que faz a gente funcionar. Somos como dia e noite.

Seraphine ergueu uma sobrancelha.

— Isso foi profundo demais pra você. Tá tudo bem?

— Vai à merda. — Amara riu, jogando uma almofada nela.

As duas riram juntas, e por um momento o apartamento parecia mais aconchegante do que de costume. Apesar das diferenças — ou talvez por causa delas —, Amara e Seraphine eram inseparáveis.

Cada uma era uma força por si só, mas juntas? Elas eram imparáveis.

Quatro vidas, um destino fatalOnde histórias criam vida. Descubra agora