Capítulo 6

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Narrador

Mon limpava o suor das mãos em sua calça, sem saber como iniciar aquela conversa. Na época, após Sam ir embora, mesmo não lembrando da mulher sentia um aperto forte só saber de sua partida, mas não entendia direito o motivo. Por meses sua amiga Love tentava a todo custo, com ajuda de alguns contatos, reviver suas memórias, conseguindo com muito custo fazer isso de maneira parcial. Descobriram que Mike havia implantado memórias falsas em Mon, como se Sam tivesse abusado dela, a deixando com medo da garota.

Contava tudo para Sam em alguns momentos com a voz embargada pelo choro, afinal haviam sido meses de pesadelos e depois anos de angústia sem notícias de sua amada. Já Sam, escutava com atenção tudo aquilo sentindo apenas raiva e vontade de matar Mike a qualquer custo, mas estava se contendo na frente de Mon. Sam sempre foi muito esquentadinhos, mas tentou melhorar isso durante sua viagem, algo que um grupo de Aldecaldos lhe ajudou bastante, principalmente Judy, uma das líderes deles que virou sua amiga e lhe recebeu muito bem, ajudando em um momento que estava muito ferida.

— Então foi isso, Sam. Se não fosse por Love, provavelmente não teria recuperado minhas memórias ou quem sabe demorado ainda mais tempo — disse cansada olhando para suas próprias mãos - talvez a única coisa boa disso tenha sido que ela pode conhecer Milk por um de nossos canais, que ajudou bastante indicando outros hackers que conhecem mais sobre esse tipo de invasão neural.

— Fico feliz que ela pode cuidar de você, Mon. Claramente eu não tive capacidade alguma disso, e até antes mesmo da missão eu disse que cuidaria de vocês e falhei — Sam olhava para a garota com um olhar vazio cheio de tristeza, pois achava que havia falhado com todos que confiaram em seu plano na época.

— Você não teve culpa de nada do que aconteceu, amor — disse Mon se levantando e sentando colada a Sam — nunca mais diga algo assim. As vezes as coisas saem de nosso controle, acontece com todos. O que importa é que me recuperei e agora você está aqui.

Mon segurava nas laterais do rosto de Sam, sabendo que só os próximos conseguiam se aproximar assim dela de maneira tão íntima. Não perdeu tempo e beijou sua amada, aquele beijo no qual esperou anos para ter novamente. Sam no começo ficou paralisada, mas logo em seguida retribuiu agarrando a garota em seus braços. Infelizmente, o ar começou a faltar e ambas tiveram que cessar o beijo. Ficaram apenas se encarando e sorrindo, dando ar de nostalgia por toda a situação.


Pov. Mon

Sam se levantou de sua cadeira e me levou para seu quarto, querendo um pouco mais de privacidade já que de onde estávamos os vizinhos poderiam observar, e não queríamos dar um show para ninguém. Chegando lá entrei com um pouco de vergonha, afinal fazia muito tempo que não ficávamos assim tão intimas. Ao entrarmos ela trancou a porta e ficou me encarando encostada na mesma, me analisando de cima a baixo.

— Você vai ficar só me encarando ou vai vir aqui matar a saudade — disse em um tom divertido, para quebrar um pouco a tensão evidente.

— Me desculpa, Mon. É que as vezes eu acho que estou vivendo um sonho, ou que talvez seja uma miragem em minha frente. Mas é impossível esquecer o quão linda você é — disse me encarando e sorrindo de lado. Aquele sorriso e olhar ainda iriam me matar.

Caminhei até ela e a puxei para perto de mim, passando a mão pelos seus braços e subindo até a nuca. Ela colocou a mão em minha cintura e fez um leve carinho, me dando um arrepio bom por conta do toque. Não perdi tempo e a beijei com todo o carinho que tinha. O beijo foi ficando mais forte, a ponto de em segundos eu já estar sem minha camiseta. Ela passava a mão pelo meu corpo e analisava como se fosse a melhor obra de arte de um museu, com suas pupilas totalmente dilatadas. Retirei sua camiseta e observei que ela tinha algumas cicatrizes horríveis em alguns pontos de seu abdômen. Quando ela viu que tinha percebido, rapidamente colocou a camiseta de volta e se afastou um pouco.

— Acho melhor irmos com calma, Mon — disse ela me olhando insegura — já está ficando um pouco tarde e preciso passar na Yoko para um serviço. Você deseja ficar aqui ou quer ir para casa? — me perguntou meio sem jeito.

— Acho que prefiro ir para casa. Love está sozinha e preciso ajudar ela em um serviço de sistema — menti, mas precisava conversar com minha amiga sobre essa situação. Talvez ela soubesse de algo ou o motivo de Sam andar tão hesitante.

Sam se arrumou rapidamente e me levou até sua moto. Segundo ela, havia sido um presente de Heng para não usar mais a lata velha no qual ela chegou na cidade. Ela me ajudou a subir e me agarrei a ela, querendo que demorasse para chegar em casa. Após alguns minutos, ela parou em frente a minha casa e lhe entreguei o capacete. Quando ia me afastar escutei me chamando.

— Ei, gatinha. Vai embora assim sem me dar um beijo? Desse jeito eu fico magoada — fez cara de cachorro sem dono.

— Jamais faria isso — retornei até ela lhe dando um abraço e um beijo no pescoço. Senti seu corpo tremer, sentindo que ainda conseguia atingir seu ponto fraco — Até mais, amor. Me avisa quando terminar, para saber que está bem.

Ela me deu um último adeus, prometendo me avisar assim que estivesse fora de qualquer perigo. Entrei em casa, mas admito que gostaria de ser cega nesse momento.

— Ah não, Love. Você tem um quarto por um motivo, não poderiam saber isso lá? Não me sinto feliz em saber como é sua namorada como veio ao mundo — Milk e Love me olharam envergonhadas, mas também com um sorriso divertido.

— Preciso ir, pequena. Nos falamos mais tarde sem a nossa querida empata, que pelo jeito ainda não conseguiu transar — disse Milk saindo do apartamento, mas antes levando um tapa meu em seu braço.

Fui tomar banho e após relaxar, me sentei em minha cama ainda pensativa sobre Sam. Ela tinha me recusado, mas claramente por vergonha de suas cicatrizes ou quem sabe algo mais. Acabei adormecendo e no meio da noite, Love entrou em meu quarto assustada.

— Mon, não quero te deixar alarmada com o que vou lhe contar, mas talvez Sam e Heng estejam correndo um grande perigo nesse momento.

Destino IncertoOnde histórias criam vida. Descubra agora