Destino Incerto

Capítulo 16

Pov. Sam

Depois de fazer meu café e pegar a garrafa de whisky, me sentei ao lado de Mon no sofá e me preparei para começar a contar tudo, já estava na hora dela saber o que tinha acontecido durante esses anos.

Dois anos atrás...

Já faziam três anos que estava fora de Night City. As vezes conseguia mandar algo para Heng e Mama, até mesmo Ling, mas não perguntava nada sobre Mon, ainda me sentia um pouco machucada com o que tinha rolado em nosso trampo, na realidade sentimento de culpa por não ter conseguido protegê-la.

Estava em uma estrada no México procurando lugar para dormir, já que uma tempestade de areia estava a caminho. Após trinta minutos dirigindo consegui encontrar uma casinha que fazia parte de um posto de gasolina, no qual o dono disse que poderia ficar e esperar passar. O silêncio ali era ótimo para dormir e conseguir finalmente dar um bom descanso, mas infelizmente alegria de nômade dura pouco. Escutei um som de tiro e já fiquei alerta, mas por estar muito cansada ainda não sentia que poderia arriscar, então fui me deslocando de maneira silenciosa para saber o que ocorria. Outro som de tiro e logo em seguida algumas vozes começaram a chegar mais perto. Era um grupo de nômades da Nação Cobra, pelo menos seis pessoas. Meu pesadelo começou quando uma das mulheres que estava no grupo me encontrou.

Fui colocada na sala e me fizeram várias perguntas, mas sabia que nada faria eles me deixarem em paz, e a tempestade de areia continua forte do lado de fora. Foram horas de tortura, deixaram canivetes enfiados no meu abdômen, jogavam água toda hora para me acordar e em certo momento uma das garotas se aproveitou para abusar de mim, já que não tinha condições para me mexer. Foram horas que pela tortura hard, sentia que estava ali por dias. Após a tempestade passar eles foram embora me deixando lá toda fodida, sem conseguir sair do lugar. Minha sorte foi que pouco tempo depois um grupo de Aldecaldos me encontrou, já que eram amigos do dono do posto e viram a situação achando melhor investigar. Judy me salvou dizendo que o grupo deveria me levar e ajudar na recuperação. Me alimentaram, deram uma cama e me tornaram da família. Foram semanas de pesadelos, mas que Judy e Mitch me ajudaram muito. Odiava ser tocada e até mesmo tirar camiseta na frente dos outros por conta das marcas que demoraram para cicatrizar.

Após dois anos superando o que rolou e me acomodando com os Aldecaldos, ajudando eles como eu podia, achei que já era hora de retornar para Night City, principalmente quando Heng disse que algumas coisas tinham mudado e queria minha ajuda, não poderia deixar meu irmão de lado. Os Aldecaldos me "batizaram", dando uma jaqueta toda personalizada e que sempre encontraria o caminho para casa ao lado deles se fosse necessário. Judy me contou que namorou alguém muito parecida comigo uns anos atrás, mas que ela acabou morrendo por conta de um problema neural, mas que os Aldecaldos viraram sua família lhe ajudando no luto.

Momento atual

-- E foi basicamente isso o que rolou, Mon -- finalizei com a voz um pouco carregada pela emoção. Já havia tomado dois copos de café e três de whisky. Mon também havia tomado e a garrafa estava quase vazia.

-- S-sam... -- Mon me olhava com os olhos cheios d'água, meio perdida ainda com tudo que tinha contado -- Não acredito que você passou por tudo isso, mas fico tão aliviada em saber que pessoas tão incríveis ajudaram você. Me desculpa por ter sentido ciúmes -- comentou olhando em meus olhos.

-- Tá tudo bem, gatinha. Você não sabia, provavelmente teria agido da mesma maneira -- falei pegando em sua mão e acalmando suas lágrimas

Ela se levantou e subiu em meu colo de lado, me puxou para seu peito e me abraçou o mais forte que conseguia.

-- Me desculpa por não estar contigo nesse tempo. Sinto muito por não ter tomado cuidado, perdido a memória e praticamente te chutado da minha vida -- me soltou, colocou a mão de cada lado do meu rosto e juntou nossas testas -- eu amo tanto você e não quero nunca mais ficar longe. Da mesma forma que você sempre me protegeu, quero ser a pessoa de coragem que pode fazer o mesmo, não deixar nunca mais te machucarem e te deixar insegura.

Mon se afastou de mim, se levantou do meu colo e estendeu a mão na minha direção. No que peguei em sua mão ela começou a me puxar até minha cama e se sentou comigo na ponta. Ficamos em um silêncio confortável, no qual ela passou a mão pelo meu rosto, descendo pelo meus ombros e braços e chegando até o final da minha camiseta, no qual fez movimento para tirar e ainda esperou alguma reação negativa minha. Fiz um pequeno movimento de que ela poderia continuar e sem perder tempo tirou a camiseta que estava vestindo. Ela me deitou na cama e logo em seguida ficou na mesma posição ao meu lado, mas enquanto estava com a cabeça no travesseiro ela ficou apoiada em seu braço e com a mão livre passou a mão pelas cicatrizes em meu abdômen.

-- Essas marcas em você só mostram o quão corajosa você foi e que nem sempre estamos seguros, mas que você precisava continuar viva. E são elas que não deixarão você esquecer sua família de Aldecaldos, que foi tão importante nessa jornada que ocorreram coisas tão difíceis -- ela aproximou o rosto do abdômen e beijou cada uma das minhas cicatrizes -- eu sei que eles te ajudaram a estancar o sangue e essas cicatrizes se formarem para você continuar viva. Mas deixa eu ser a pessoa que vai curar as cicatrizes que se formaram na sua mente? Me deixa cuidar de você? -- falou enquanto se deitava, agora totalmente ao meu lado.

Comecei a sentir lágrimas se formarem em meus olhos e a puxei para um abraço, me deitando por cima dela e sentindo seus carinhos em minha nuca. Fazia tempo que não me sentia realmente cuidada e segura, me sentindo com coragem de realmente enfrentar o mundo novamente e enfrentar os monstros que ainda vivem me assombrando em formato de pesadelos quando me deito para dormir. Mon caiu no sono um tempo depois, me levando junto dela, sentindo meu corpo relaxar totalmente naquela noite.