Helena
Fiquei olhando para a mensagem por um tempo que pareceu uma eternidade. Cada palavra era como um golpe no peito. "O que era do seu pai agora é meu." A audácia. A frieza. Aquilo só podia ser o Fogueira. E, pela primeira vez, o medo foi acompanhado por outra sensação: raiva.
Peguei o celular com mãos trêmulas e liguei para Gabriel. Ele atendeu no terceiro toque.
Gabriel (GB): – Que foi, Helena?
Helena: – Ele me mandou uma mensagem.
Gabriel: – Quem?
Helena: – O Fogueira! Ele tá me ameaçando, Gabriel.
Do outro lado da linha, ouvi o silêncio dele. Era como se estivesse processando o que eu tinha acabado de dizer.
Gabriel: – Calma. Não faz nada. Deixa isso comigo.
Helena: – Deixa isso comigo? É só isso que você sabe dizer! Gabriel, eu tô no meio disso tudo, sozinha! Eu tô cansada de esperar por você ou por qualquer um.
Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas eu não me importei. Gabriel respirou fundo, com aquela calma que só fazia meu sangue ferver mais.
Gabriel: – Helena, escuta. Tu não entende como as coisas funcionam. Eu tô resolvendo isso. Mas se tu começar a agir por conta própria, vai piorar.
Helena: – Então me explica, Gabriel! Por que o Fogueira tá tão interessado na gente? O que ele quer com a loja? Comigo?
Mais silêncio. Ele hesitou, e isso só aumentou minha raiva.
Gabriel: – Não é só sobre a loja. É sobre o pai. Ele tinha... dívidas. Coisas que ele não contou pra gente.
Engoli em seco. Meu pai? Dívidas? Isso não fazia sentido. Ele sempre foi o homem mais honesto que eu conheci.
Helena: – O que você tá escondendo de mim, Gabriel?
Gabriel: – Nada que vá mudar o que já aconteceu. Agora escuta: amanhã cedo eu passo aí. E não sai de casa até eu chegar.
Antes que eu pudesse responder, ele desligou. Fiquei olhando pro celular, sentindo a raiva e o desespero lutando dentro de mim. Gabriel estava escondendo algo, e eu estava cansada de ser mantida no escuro.
Deitei no sofá, mas o sono não veio. Cada som no corredor ou barulho de moto lá fora fazia meu coração disparar. Fogueira estava jogando comigo, isso era óbvio. E eu sabia que ele não era do tipo que blefava.
Na manhã seguinte
Acordei com o som da campainha. Levantei correndo, ainda meio desorientada, e fui até a porta. Quando abri, vi Gabriel parado ali, com o rosto tenso e a camisa amarrotada. Ele parecia ter dormido tão mal quanto eu.
Gabriel: – Peguei um café pra gente.
Ele entrou sem esperar convite e colocou os copos na mesa. Fiquei parada, esperando que ele começasse a falar, mas ele só ficou ali, mexendo no celular.
Helena: – Vai ficar me ignorando ou vai me dizer o que tá acontecendo?
Ele suspirou, sentando no sofá.
Gabriel: – O pai fazia negócios com o Fogueira, Helena. E quando ele morreu, o Fogueira achou que eu ia assumir.
Helena: – Assumir o quê?
Gabriel: – As dívidas. A loja. Tudo. Ele acha que é dele agora. E, como eu recusei, ele tá usando você pra pressionar.
Senti meu estômago revirar.
Helena: – Então você sabia o tempo todo? Sabia que ele ia vir atrás de mim?
Gabriel: – Eu tava tentando resolver sem te envolver. Mas tu não entende como é lidar com alguém como o Fogueira. Ele não joga limpo.
Passei a mão no rosto, tentando processar tudo. Meu pai, que eu sempre vi como um herói, tinha deixado um rastro de problemas que agora estavam caindo nas nossas costas.
Helena: – E o Portuga? Ele sabe disso?
Gabriel hesitou, e eu soube a resposta antes mesmo de ele abrir a boca.
Gabriel: – Ele sabe de tudo. Mas o interesse dele não é proteger a gente. É proteger o morro dele.
Aquilo foi a gota d'água. Me levantei e comecei a andar de um lado para o outro.
Helena: – Eu tô cansada de ser jogada pra lá e pra cá! Se você não vai fazer nada, eu vou.
Gabriel: – Helena, não se mete nisso!
Helena: – E eu vou fazer o quê? Ficar aqui sentada, esperando ele me pegar?
O olhar de Gabriel endureceu, e pela primeira vez, vi um misto de medo e preocupação nos olhos dele.
Gabriel: – Se tu mexer com o Fogueira sem saber o que tá fazendo, ele vai acabar com tudo. Comigo. Contigo. Com a loja.
Cruzei os braços, tentando segurar as lágrimas. Eu estava cercada, sem saída, e sabia que, de alguma forma, teria que lutar.
Helena: – Então me ajuda, Gabriel. Me diz o que eu preciso fazer.
Ele ficou em silêncio por um longo momento, e então finalmente respondeu:
Gabriel: – Primeiro, a gente precisa encontrar provas. Algo que possa acabar com o Fogueira de uma vez por todas. E só tem uma pessoa que pode ter isso: o Portuga.
Minhas mãos gelaram. Ir até o Portuga significava entrar de novo naquele mundo que eu tentei tanto deixar pra trás. Mas talvez fosse a única chance que eu tinha.
E eu sabia que o Portuga não ia ajudar sem pedir algo em troca.
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Sentimento Vagabundo
Teen FictionHistória da Helena e Portuga. Em meios do caos da vida,o sentimento vagabundo nasceu onde os dois achava que o amor não existia e que a vida era apenas de curtição. Ele entrou pro crime desde cedo e ela decidiu seguir a vida e estudar mesmo tendo po...