Capítulo 19

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Sophia abriu os olhos no quarto totalmente escuro pelas cortinas fechadas, pensando que era a pessoa mais feliz do mundo. O ano terminava de uma forma simplesmente mágica e o ano novo seria um lugar acolhedor cheio de sonhos realizados. Era uma empresária com um curso de empreendedorismo completo, um curso no Le Cordon Bleu a caminho, amigas incríveis, um namorado lindo e maravilhoso...

Sophia apalpou a cama a seu lado e sentou-se, assustada. Esperava que ao menos houvesse um bilhete na mesinha de cabeceira. Apalpou-a também e nada. Até que a porta se abriu, trazendo um pouco de luz e o Will para dentro do quarto. Ele se sentou na beirada da cama.

-Foi mal, eu precisava fumar.

E ele cheirava mesmo a cigarro. E perfume. E a bala de hortelã. Havia sido uma bela e malsucedida tentativa de disfarçar.

-Não tem importância – Ela colocou os braços ao redor dele e o abraçou. – Pode ser que daqui a algum tempo tenha um pouco, mas no momento não tem, não.

Will riu. Era uma graça de risada.

-Eu tenho uma hora.

-Para...

-Estar no trabalho.

Sophia o afastou para olhar para ele, algo que só era possível porque seus olhos estavam começando a se acostumar com a escuridão.

-Hoje são trinta e um de dezembro, Will!

-Eu sei, mas o Dan vai abrir o consultório até duas horas. Diz ele que dor de dente não espera passar o réveillon. Mas a gente se vê à noite, certo?

-Eu passo para te buscar por volta das dez. Vou te levar até a porta – Sophia acendeu o abajur para achar seu quimono vermelho, no qual se enrolou e quase morreu de susto ao abrir a porta do quarto. A sala estava em petição de miséria, várias latas vazias e pacotes de salgadinhos pelos cantos e um homem estranho dormindo no sofá. – Mas, gente?

-Quer dizer que sua colega de apartamento dá uma festa dessas e eu não ouvi nada? – Ele a puxou e a beijou no canto da boca.

-Nem eu – Sophia riu, um pouco espantada, um pouco encabulada.

Ela destrancou a porta do apartamento e Will lhe deu um beijo longo, do estilo que bambeia as pernas. Ela não sentiu o resquício do gosto do cigarro mais do que percebeu o barulho da festa na noite anterior. Por fim, ele disse um "tchau" baixinho. Ela respondeu com a voz falhando e o viu desaparecer pelas escadas do prédio.

Estava quase chegando ao quarto, onde pretendia passar uma boa parte do dia pensando nele, quando seu celular tocou. Viu pelo visor que era a sua mãe e teve o imediato pressentimento de que seu pai não segurara a língua dentro da boca. Não que ela, por algum momento, tivesse a ilusão de que fosse ser diferente.

-Feliz ano novo, Soph!

-Mãe, são oito horas da manhã.

-Sim, mas sabe como o sinal fica congestionado mais tarde. É impossível falar ao telefone.

A mãe de Sophia havia tido uma experiência traumática com celular no início dos anos 2010 e continuava achando que sinal de celular não aguentava oito milhões de londrinos desejando feliz ano novo ao mesmo tempo. Sophia não se importaria, se não estivesse desconfiada que o motivo da ligação fosse outro.

-E quais são seus planos? – Sua mãe perguntou.

-Eu vou a uma festa. A mesma que eu fui ano passado.

-Com seu namorado?

Pronto.

-Sim, vou com ele, com a Allie, com o namorado da Allie e mais algumas pessoas. É uma festa grande.

Quando A Vida Acontece - Volume 6Onde histórias criam vida. Descubra agora