Capítulo 20

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Jo olhou o teste novamente. Uma fita só. O alívio a tomou na mesma medida que a dúvida. Não podia estar grávida, não podia dar um sexto filho de presente de aniversário para o Victor. Primeiro, nenhum dos dois daria conta. Em segundo lugar, não era possível, eles tomavam muito cuidado. Passada a pouca idade que resultara nos nascimentos de George e Danny, seus filhos haviam sido planejados e, se eram muitos, era porque faziam parte de duas famílias combinadas em uma. Mas, se não estava grávida, o que explicava seus enjoos e seus vômitos?

Podia, claro, ir ao médico, mas tinha medo do que ele poderia lhe perguntar. Até as consultas com o psiquiatra andavam evasivas e vagas. Jo sabia que eles lhe mandariam parar com a Ritalina porque, no fundo, sabia que estava fazendo algo errado, mas não queria abrir mão do remédio tão perto do concurso. Aí, sim, passaria na prova e pararia de vez.

Viu que tentaram abrir a porta do banheiro, provavelmente sem se tocar que havia gente lá dentro. Jo enrolou o teste em papel higiênico, jogou-o no cesto e abriu.

-Bom dia! – Ela abraçou o Victor quando o viu, sonolento, do outro lado da porta. – Feliz aniversário, amor.

-Você já foi melhor no presente, Jo – Ele colou a testa na sua antes de lhe dar um beijo.

-Então vamos voltar para a cama que...

-Mamãe! – Viv gritou através da babá eletrônica.

-Tarde demais – Eles disseram juntos, e Victor acrescentou, sorrindo: - Ano que vem a gente precisa cronometrar isso melhor.

-É, ano passado a gente foi mais preciso. Eu vou lá – Jo vestiu o roupão sobre o pijama e deu espaço para Victor entrar no banheiro.

Ele ficou olhando enquanto ela saía do quarto, tal e qual a Jo de antes. Ele estava certo e tudo iria se ajeitar.

-Vamos preparar o café da manhã? – Disse Jo com Viv no colo, descendo as escadas, enquanto a menina reclamava de fome. Elas chegaram à cozinha e Jo lhe deu uma mamadeira e preparou a cafeteira. Uma das coisas que não se acostumava na Inglaterra era a beber chá de manhã. Enquanto preparava a mesa, ia conversando com Viv: - É bom estar de volta, não é? Foi bom viajar, mas talvez a California não seja mais a nossa casa. Não parecia a nossa casa. De qualquer forma, você nem vai se lembrar de lá, Viv. Você vai falar com o sotaque elegante daqui, como a Bella e o Danny. Você notou como eles estão falando diferente?

E, então, lembrou do concurso, mas se forçou a afastar o pensamento. Era aniversário do Victor e queria que o dia fosse dedicado à sua família. Mas arrumar um emprego também era algo que faria por eles, e...

-Mãe, é verdade que a Magdalena vem hoje? – Danny perguntou, o cabelo cheio de marcas de travesseiro, se sentando à mesa.

-Sim, eu e seu pai vamos sair para comemorar o aniversário dele – Ela respondeu, botando pão na torradeira.

-Por que a gente não pode ficar na vovó? – Bella quis saber.

-Porque vocês são muitos, a vovó não dá conta.

-O vô Eddie dá.

-De todos vocês, acho que nem o vô Eddie. E gente, quando o pai de vocês descer, não esqueçam de desejar feliz aniversário.

-Quantos anos ele está fazendo? – Bella perguntou.

-Trinta e nove.

-Que velho! – As duas crianças disseram, juntas.

-Quem é velho? Com certeza não sou eu – Victor disse, bem-humorado, entrando na cozinha.

-Feliz aniversário, papai! – Bella e Danny o abraçaram, cada um de um lado.

Quando A Vida Acontece - Volume 6Onde histórias criam vida. Descubra agora