CAP 16- O ALVO DE RECKONER

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A polícia acredita que o vazamento de gás, causador da explosão na casa do criminoso e incêndio no prédio ao lado, tenha sido proposital. Criminosos, supostamente, teriam invadido a casa e cortado os fios do botijão na cozinha, entrando e saindo pelos muros do estacionamento bem ao lado. Investigadores da polícia civil irão procurar imagens de câmeras de segurança da vizinhança, como também, das câmeras do próprio estacionamento, que não foram afetadas pelo fogo.

— Mas não vai adiantar nada...

  Otto, o jovem responsável pelo incêndio naquelas residências, comentou ao assistir a reportagem por aquela TV de tubo em cima da cadeira de madeira.

  Sentado presunçosamente no sofá velho à frente e sorrindo com um palito de pirulito na boca, continuou:

— Não é, Reckoner? — Olhou para aquela figura parada em frente à janela, observando a chuva cair lá fora. — Não vamos aparecer nas câmeras graças a você. O esforço da polícia será completamente inútil.

— Sabe por que o nosso plano deu errado? — disse Reckoner, depois de longos minutos em silêncio.

— Errado? Como assim? Deu tudo certo!

  Reckoner deu passos lentos até Otto e curvou as costas, ficando à altura dele. Sem a máscara no rosto, fixou seus olhos no garoto, que engoliu em seco e ajeitou a postura, trêmulo.

— Laços — anunciou Reckoner. — O nosso plano deu errado por causa dos laços. Ou melhor dizendo... Por causa de Eric.

— O... O que... O que quer dizer... com isso?

  Reckoner tirou algo do bolso de sua calça e o jogou no colo de Otto, se afastando dele em seguida. Ainda confuso com o que o líder queria dizer, ele olhou para suas pernas e avistou uma foto revelada. Pegou-a e se deparou com o rosto de um homem branco e de cabelos e olhos pretos. Era ele. Eric Arruda.

— Duda...? — indagou, arrepiado. — Quem é esse?

— Eu vou tirar proveito disso... Eric vai ter que enfrentar algumas surpresas antes... de morrer — afirmou com um sorriso doentio no rosto, confundindo ainda mais seu liderado. — Tem razão, Otto.

  Olhou para ele de novo, ainda com aquele sorriso, fazendo o jovem desregular a respiração e se afastar para trás no sofá.

— O trabalho da polícia será mesmo inútil. Já que chequei os ângulos das câmeras, com toda certeza, eu... E você. Não fomos gravados...

  Otto permaneceu imóvel com os olhos arregalados, assistindo Reckoner se retirar daquela sala a passos lentos, mantendo o sorriso estranho no rosto. Se sentiu seguro e aliviado com a afirmação de segurança de Duda, mas ao mesmo tempo, se amedrontava com sua presença e o mistério de seus pensamentos.

  Saíram dali juntos, tendo a reunião entre os dois acabada.

15/04
[18:30]

  A noite estava apenas começando quando Eric foi buscar Mony na nova casa dela, levando-a para o bar onde costumava ir com Kevin e Sophia. Ambos não admitiam um para o outro, mas sabiam bem que era o primeiro encontro deles.

  O bar estava com um ar de mudança. Os lustres eram novos e emitiam uma luz amarelada e o balcão da recepção estava mais clássico e elegante, combinando perfeitamente com a presença do piano no meio do lugar. As mesas também estavam diferentes. Estavam cobertas com panos brancos de linhas douradas, assim como a iluminação.

  Sentados na mesma mesa que da última vez, Eric e Mony conversavam enquanto aguardavam a chegada de seus pratos. De frente um com outro, sorriam como adolescentes tímidos, mas animados com a companhia de alguém que gostavam.

— Eu queria te fazer uma pergunta, Mony...

  Ela bebeu a água do copo.

— Sim...?

  Eric ponderou suas palavras antes de proferi-las.

— Na segunda, quando você se mudou para a casa da Sophia, você... disse que não tentaria se salvar do incêndio. — Mony olhou para baixo, já sabendo aonde ele queria chegar. — Mas mudou de ideia quando se lembrou de mim... Eu fiquei pensando nisso esses dias e... queria entender por quê.

  Ela sorriu amarelo e ficou em silêncio por breves segundos. Querendo ser o mais sincera possível em suas palavras, explicou:

— Eric, até o momento, você tem me ajudado bastante! Quando éramos apenas desconhecidos naquela ponte, você conseguiu impedir que eu me jogasse dali. Mas essa não foi a única vez que me salvou... Você continua me salvando todos os dias. — Eric sentiu seus batimentos cardíacos acelerarem de repente. — E foi a mesma coisa no incêndio. Eu só... me lembrei de tudo o que me disse, de todas as vezes que me deu esperança e... De como você é. — Os olhos deles se encontraram. — Eu nunca vi alguém como você, Eric. Você é uma terapia. Sempre soube o tipo de dificuldade emocional que tenho, e ao invés de mandar essa estranha se internar em algum lugar, você simplesmente entrou na vida dela para ser alguém!

  Os dois riram com o sarcasmo de Mony, descontraindo o clima sério daquela confissão.

— Além disso... — continuou ela. — Em meio ao fogo, eu também me lembrei... De quando você me motivou a tocar piano naquele dia e de como me apoiou e me aplaudiu. — Ela sorriu. — Foi graças à sua motivação, que enquanto eu tocava, eu me lembrei de quando o piano me salvou quando eu era apenas uma adolescente. Me lembrei de quão viva me senti depois de muito tempo. Você e o piano me fizeram lutar pela minha vida.

  Os olhos de Eric brilharam com aquelas palavras. Nunca tinha ouvido os sentimentos de alguém em relação a ele de forma tão bonita e sincera. Com o coração palpitando, ele ficou sem graça, coçando o próprio pescoço.

— Ah... acho que eu falei demais, não é? — questionou Mony, percebendo a inquietação dele. — Nossa, eu fui muito direta...

  Ela escondeu sua boca com as mãos e Eric finalmente diz algo:

— Não, tudo bem! — Riu, nervoso. — Eu também perguntei, então... tudo bem você ter falado isso... é... — Pensou em como mudar de assunto. — Então, por que você não toca de novo?

— O quê?

— É! Toca de novo! — afirmou, animado. — No dia que você tocou, um homem que parecia o gerente tentou falar com você e tenho certeza de que era para te contratar!

— Ah... Sério?

— Sim! Você disse antes que precisava de um trabalho novo para colocar as contas em dia e conseguir resgatar o que perdeu no incêndio! Olha só! Vai fazer o que gosta e normalizar sua vida! Vai poder reconstruir tudo!

  Mony pensou um pouco, não conseguindo esconder seu sorriso. Olhou para o piano atrás dela e suspirou, voltando a olhar para Eric.

— Tá... Eu vou tocar!

  Ele sorriu de orelha a orelha e a guiou até o piano, falando com um dos funcionários para que a permitissem passar.

  Enquanto Mony tocava uma diferente melodia e cativava a atenção de todos os clientes presentes, Eric informava àquele funcionário que ela já havia tocado antes e o induziu a chamar um responsável para analisá-la bem.

  Não demorou muito para que Mony terminasse a música e voltasse para Eric, que agora estava acompanhado de um homem alto de pele escura, vestindo roupas sociais soltas, mas ao mesmo tempo, elegantes. Era ele, o gerente do bar que tinha tentado falar com ela na primeira vez que tocou.

  Feliz com a volta da jovem ruiva, negociaram sua contratação ali. Combinaram de se encontrar pela manhã do dia seguinte para oficializá-la como pianista do bar.

  Com a nova conquista, Eric e Mony sorriram um para o outro.

— Obrigada, Eric...

  Ela agradeceu, olhando fundo nos olhos dele.

— Você conseguiu por mérito seu... Parabéns! — disse, quase sussurrando para Mony.

  O tempo pareceu parar, de repente, quando não romperam o contato visual que os mantinha perto um do outro. Ali, aceitaram que se gostavam mais do que apenas amigos. Era o começo da história que tinham para viver.

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