CAP 14- O INCÊNDIO

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— Está pronto? — indagou Duda, sentado no banco do motorista daquele carro preto.

— Sim... pronto — respondeu o jovem sentado no banco do passageiro, segurando sua máscara Money Killer nas mãos. — Tem certeza de que não precisaremos das máscaras?

  Um silêncio pairou dentro do carro, de repente. Duda então, cuidadosamente, retirou sua própria máscara branca, sem nada desenhado, revelando seu verdadeiro rosto para ele. O jovem arregalou os olhos, ouvindo Duda anunciar:

—  Eu, não apenas como Duda, mas também como Reckoner, te asseguro de que pesquisei bem o ponto cego de cada câmera possível. E para provar a minha palavra... irei sem a minha máscara. — Fixou seus olhos nele, fazendo o garoto arrepiar. — Otto, você é o primeiro Money Killer a ver meu rosto.

  Vendo que Reckoner, o Money Killer com a posição mais aclamada entre a facção, havia escolhido exclusivamente a ele para conhecer sua verdadeira aparência, Otto sentiu o convite de parceria entre os dois. Ao mesmo tempo em que o mais perigoso dos assassinos prometia confiança, também queria confiar nele.

  Otto se sentiu privilegiado. Mais do que nunca, era importante e único. Com toda certeza, daria tudo de si naquele projeto e mostraria a seu líder as habilidades adquiridas no treino Money Killer.

— Então, vamos, Reckoner — afirmou o mais jovem, seguro de si.

  Sem mais delongas, os dois saíram do carro, com Otto carregando um grande e pesado saco de juta. Entraram no estacionamento de um pequeno prédio pulando o muro.

  Duda conduziu Otto até uma área que dizia ser protegida das câmeras. O jovem abriu o saco de juta e tirou algumas ferramentas de dentro, com certa dificuldade para não danificar a pesada peça guardada ali.

— Vai mesmo precisar disso? — questionou Otto, fazendo uma careta enojada.

— Lembre-se que não estamos aqui apenas para você — pontuou Duda, serenamente. — Coloque o saco no canto daquela parede.

  Assim que apontou, Otto o obedeceu, logo saindo do estacionamento com as ferramentas em mãos e pulando o muro ao lado, invadindo a área dos fundos da casa vizinha. Desenhou o sinal dos Money Killers por ali, violou a fechadura da porta dos fundos com cuidado, e então, adentrou a residência, indo direto para a cozinha.

  Com ajuda das ferramentas não utilizadas, revirou as peças do botijão, permitindo que ele soltasse o gás de pouco a pouco. Deixou com que saísse automaticamente e preparou o instrumento improvisado que havia criado. Manuseou meticulosamente aquelas peças e as deixou ali, se apressando para correr e se retirar do local.

  Pulou os dois muros que antes tinha pulado, e do outro lado da rua, encontrou o carro de Duda, que já estava no banco do motorista, apenas aguardando por ele. Entrou depressa e partiram em uma razoável velocidade. Um tanto distantes da casa onde Otto esteve, ouviram o som da explosão.

  Com a adrenalina se dissipando aos poucos dentro de si, o jovem olhou para trás e conseguiu ver uma parcela do fogo causado por ele mesmo, rasgando a escuridão do céu da madrugada.

  Sorriu pelo seu próprio feito e sumiram com o carro daquela região.

...

"Alguém me ajuda!"

"Socorro!"

"Mãe! Mãe!"

"Socorro! Por favor! Eu estou presa!"

  Mesmo sendo de longe, os gritos desesperados dos moradores daquele prédio ainda eram audíveis.

  Assim que a explosão ocorreu e tomou conta da casa atingida, matando seu residente, o fogo rapidamente se alastrou no prédio antigo ao lado. As paredes mofadas e cheias de rachaduras facilitaram a passagem do fogo, incendiando tudo.

  Com o barulho da explosão, vizinhos acordaram e foram às ruas, assustados. Ao se depararem com a cena do incêndio, ligaram para os bombeiros. Enquanto isso, os moradores do prédio gritavam por socorro e tentavam se salvar, saindo de seus apartamentos e correndo até a saída mais próxima.

  Exceto por Mony.

  Ela morava no segundo andar, onde seu quarto ficava ao lado da casa explodida. Diferente dos outros moradores que tentavam fugir daquele terrível cenário, Mony jazia sentada em uma cadeira em sua sala. Olhava para o chão enquanto o fogo tomava conta de sua pequena mobília. Estava imóvel, com um olhar frio.

  Com a claridade do cômodo, seus cabelos se iluminaram. Seus olhos brilhavam, pois, lacrimejava. E ela não desejava se salvar.

"Acabou..."

  Pensou consigo mesma, derrotada.

"— Mas nunca se esqueça, Mony... não desista."

  A lembrança de Eric falando com ela horas atrás lhe veio à cabeça, de repente.

  Mony arregalou os olhos, tocada pelas palavras. Mas ainda assim, não era suficiente.

"Não adianta, Eric... Eu tenho que ir..."

  Apertou seu próprio braço e com as unhas, se arranhou, ainda sem sair do lugar. Até que novas memórias com Eric surgiram mais uma vez.

"— Você não é uma pessoa ruim, eu tenho certeza."

"Mas, Eric, eu..."

  Seus olhos se encheram de lágrimas.

"— O que quero dizer a você, é que... não é porque perdeu o motivo da sua existência que não deva procurar outro. Não é tarde e nunca será. Há coisas grandiosas para acontecerem e elas podem surgir através das suas mãos."

"Acha mesmo que isso pode acontecer? Olha o meu estado..."

  Algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto, enquanto ela ainda encarava o chão, com a visão turva.

  Lembrou-se, então, de Eric sorrindo para ela todas as vezes em que se encontravam, da maneira em que a tratava tão bem e como ele a fazia se sentir. Recordou do momento em que Eric a encorajou a tocar o piano e de como ele olhava para ela e aplaudia quando havia terminado a música.

  Eric era a esperança de Mony.

"— Vou sair e confiar que não tentará isso de novo. Prometo que tudo ficará bem!"

— Eric... — Chorou. — Promete...?

"— E vamos continuar juntos contra os Money Killers também!"

"Contra os Money Killers...?"

  Ela olhou para um outro canto do chão e continuou parada ali, por alguns segundos.

"— Não desista."

  Foram as últimas palavras de Eric ecoadas em suas lembranças.

  Hesitando, Mony demorou para se levantar. Olhou o apartamento ao redor. Quase tudo já havia sido consumido pelo fogo. A porta estava semiaberta. Pertences no chão e a fumaça cinza escuro saía pelas janelas. Mony encarou uma delas.

  Ofegante e com o olhar intrépido, decidiu:

"Não vou ficar aqui."

  Pegou um par de luvas látex preto da mesinha de centro ao lado, as colocou nas mãos, e com pressa, foi pegar os pertences que considerava como mais importantes.

"Eu quero viver!"

  Determinou para si mesma e correu para o corredor do segundo andar, olhando para os dois lados e procurando uma saída.

  Assim que escolheu seguir o lado direito, onde as escadas de emergência se localizavam, uma grande coluna de fogo surgiu bem à sua frente, como em uma explosão, atingindo Mony.

...

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