Um presente da Morte

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Um presente da Morte

(1991, setembro, 01)

(Estação 9 ¾)

Harry havia chegado cedo na estação. Após alguma discussão com Severus, eles haviam decidido que era melhor ele ir cedo, para evitar o stress, e sozinho. Ainda não estava na hora do mundo mágico descobrir sobre o parentesco existente entre os dois. Um ex comensal da morte e o Menino-que-sobreviveu. Muitas dúvidas seriam levantadas e agora não era hora para isso.

Harry chegou às oito horas em ponto, no mesmo tempo em que a locomotiva chegava com suas rodas rangendo contra os trilhos de ferro e seu agudo apito cortando o ar.

— Acalme-se, Salem. É só um trem.— ele correu os dedos pela pelagem densa do gato.— Não vai te machucar.

O gato imediatamente acatou as palavras do dono e se acalmou em seus braços. Para Harry, aquele era o gato mais inteligente que existia no mundo e ele estava muito  feliz de te-lo ganhado de presente da Morte.

(1991, agosto, 10)

(Chalé Potter, quarto do Harry)

Harry havia acabado de voltar de um passeio pelo jardim quando se deparou com a entidade tomando conta de sua cama.

Os dias eram difíceis para ele. Sem sua visão física, Harry estava sendo obrigado a aprender a lidar com seus olhos espirituais. Agora ele via coisas que pessoas comuns não viam, tipo as pequenas fadas coloridas que brincavam nas flores do jardim. Severus havia percebido seu sofrimento. Não apenas a dor física de bater o quadril na borda da mesa, mas a dor que começava a penetrar a sua alma a medida em que sua nova realidade se instalava, pronta para ficar para sempre. Harry não conseguia lidar muito bem com os barulhos e com as criaturas que saltavam a sua frente quando ele menos esperava. Por isso, Severus sugeriu que ele deveria passear do lado de fora pelo menos uma vez por dia para se acostumar com o mundo do jeito que ele seria daqui para frente. No início, Harry estava relutante, mas a proposta de passar um pouco mais de tempo com o seu pai e conhecê-lo melhor foi tentadora e logo ele concordou.

— Thanatos!— ele exclamou surpreso ao reconhecer quem era. Não que Harry recebesse a visita de muitas entidades.— Eu não te esperava por aqui tão cedo.

Mesmo cego, Harry podia perceber o nível da bagunça que dominava seu quarto. Em sua defesa, era meio difícil manter tudo organizado quando se era cego e passava mais tempo surtando de raiva do que realmente tentado arrumar.

— Meu querido!— a Morte se levantou da cama.— Estava com vontade de te ver e nem mesmo a Vida poderia me impedir disso.

Hoje a Morte havia decidido pelo seu visual mais...exótico por assim dizer. A entidade usava apenas uma saia dourada (tinha um outro nome, mas Harry não havia feito muita questão de aprender) e no lugar de sua cabeça humana havia a cabeça de um chacal. Ver isso pela visão espiritual era bem assustador, mas Harry preferia a cabeça de cachorro do que a visão do velho morto de fome.

— Eu não te esperava. Aqui está um pouco...bagunçado.— Harry se desculpou sentindo o rosto esquentar.

— Bagunçado? Harry, parece que passou um vendaval por aqui.

— Me desculpa! Não estou tendo dias muito bons.— o garoto tentou começar a arrumar alguma coisa, mas, para seu azar, a primeira coisa que seus dedos tocaram foram os restos da xícara contendo chá com um pouco de poção calmante.— Ai, porra!

— Está tudo bem, querido. Venha aqui! Deixe-me te ajudar.— a Morte segurou as mãos pequenas e frias contra as suas e curou os ferimentos. Eram pequenos, mas ele não aguentava a ideia de seu mestre sofrendo.— Prontinho! Agora vamos dar um jeito nesse quarto.

Harry escutou um estalo e no mesmo instante suas coisas pareciam estar voando ao seu redor. A Morte estava arrumando seu quarto com magia.

— Agora sim, tudo arru...Harry, por que você está chorando? O que está errado?

— Me sinto um inútil.— Harry confidenciou entre murmúrios limpando rapidamente as lágrimas teimosas que haviam escapado de seus olhos.— Fui de maior mago da Inglaterra para um garotinho de onze anos completamente cego.

— Não, não diga isso, querido! Você continua poderoso, só está um pouco...delicado atualmente, mas essa situação melhorará com o tempo. Você vai se acostumar a ver o mundo de uma nova maneira e logo estará usando isso ao seu favor.

— Eu sei! Você já disse isso e Severus também, mas eu me sinto tão...

— Sozinho?— a Morte completou com um tom suspeitosamente animado.— E é exatamente por isso que eu estou aqui hoje.

— Pensei que estava aqui para me ver.— o garoto brincou enquanto deixava que a entidade lhe colocasse sentado na cama.

— Também, mas o motivo principal é seu presente de aniversário.

— Sério? Demorou bastante!

Harry tinha a sensação de que se os chacais pudessem, eles fariam cara de incrédulo. A ideia por si só já era bastante engraçada.

— Engraçadinho! Bom, como eu estava dizendo, aqui está seu presente.— a Morte colocou algo em seu braços e se afastou.

Era macio e quente. Mas Harry só conseguia enxergar uma forma escura pela aura da criatura.

— O que é? Um cachorro?— Harry podia jurar que um miado indignado soou  pelo quarto.— Ah, um gatinho!

— Sim! Este é Salem, um gato muito especial.— a Morte os apresentou.

— Seja bem-vindo, Salem! Você demorou, mas chegou.

— Olha aqui, eu só demorei alguns dias para te dar seu presente e...

E foi assim que Harry conseguiu seu gato de estimação.

(1991, setembro, 01)

(Estação 9 ¾)

Harry conseguiu embarcar no trem com pouco problema. Assim que um dos ajudantes do motorista da locomotiva (que Harry nunca havia percebido a existência) viram um menino cego tentando achar a porta com a mão, ele correram para ajudá-lo. Harry achou por bem não perguntar por que eles tinham perna de bode e chifres, não era necessário. Seu malão foi colocado para dentro do trem e Harry foi guiado até uma cabine que, segundo os ajudantes, era mais tranquila do que as outras.

Sim, seu primeiro ano em Hogwarts seria pouco mais difícil do que na sua primeira vida, mas estava tudo bem. Harry não estava indo para escola para estudar, não! Harry estava indo para conseguir seguidores e descobrir mais sobre a casa Morthemis.

Seria um bom ano.

Notas da autora
Mudei o aplicativo de escrita então talvez a formatação mude
Sim, agora eu vou colocar títulos bonitinhos nos capítulos, vou arrumar os outros depois
Esse capítulo já era para ter sido, mas eu esqueci de salvar e tive que escrever tudo de novo. Isso aconteceu duas vezes para piorar a situação.
Por favor, comentem suas opiniões

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