2-carencia

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Rodrick:

Acordei com aquela sensação estranha, sabe? Como se faltasse algo. Faziam duas semanas que s/n estava viajando, e, claro, eu não estava sentindo falta dela. Por que eu sentiria? Não sou esse tipo de cara. Mas talvez, só talvez, minha playlist de músicas tristes tenha sido ouvida mais vezes do que o normal.

Sentei na cama e olhei para o teto.
— Que merda, isso aqui tá um saco.

Peguei meu celular e pensei em mandar uma mensagem pra ela, mas desisti. Que se dane. Se ela tá ocupada, não vai responder mesmo. Foi quando me lembrei que ela tinha comentado que voltaria hoje. E aí, uma ideia brilhante surgiu: Por que esperar ela me procurar quando eu posso aparecer lá e fazer isso ser sobre mim?

Levantei rápido, joguei uma camiseta qualquer, ajeitei meu cabelo no espelho (porque, sim, eu me importo com isso, mas nunca vou admitir), e saí em direção à casa dela.

Na casa dela

Cheguei na porta sem avisar, porque quem avisa é chato. Bati umas três vezes e esperei. Nada. Tentei espiar pela janela.
— Ela não tá em casa ou tá ignorando? — murmurei.

Finalmente, ouvi a porta destrancando. Quando ela abriu, lá estava s/n, com aquele sorriso sonolento que ela sempre tem quando acorda de viagem.
— Rodrick? O que você tá fazendo aqui?

Levantei uma sobrancelha, tentando parecer casual.
— Eu... passei por aqui. Achei que você ia querer companhia depois de tanto tempo sozinha.

Ela deu um sorriso de canto e cruzou os braços.
— "Passei por aqui", né? Porque minha casa fica no meio do caminho pra... lugar nenhum.

Eu revirei os olhos, mas entrei antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.
— Tá, eu tava com saudade. Grande coisa.

Ela riu.
— Ah, é? Isso é novo.

Dei de ombros.
— Não é tão novo assim. Agora vai, me dá um abraço ou algo do tipo.

Ela balançou a cabeça, mas veio até mim, passando os braços ao redor do meu pescoço. Quando ela me abraçou, senti aquele cheiro que era dela, sabe? Algo entre lavanda e... conforto. Não sei descrever. Apertei ela um pouco mais forte do que o normal.

— Tá apertando demais, Rodrick — ela disse, rindo contra meu ombro.

— Tô só garantindo que você não vai viajar de novo tão cedo.

Ela se afastou só o suficiente pra me olhar nos olhos, as mãos ainda no meu pescoço.
— Você sentiu minha falta, né?

Desviei o olhar.
— Nem um pouco.

— Mente mais que eu acredito — ela provocou, e antes que eu pudesse responder, ela se aproximou e beijou meu rosto.

Por um segundo, fiquei em silêncio. Só um segundo, porque eu sou eu, né?
— Tá tentando me comprar com beijos? Tá funcionando.

Ela riu e segurou minha mão, me puxando pro sofá.
— Vai, senta. Vou pegar algo pra gente beber.

Enquanto ela foi pra cozinha, fiquei ali, olhando ao redor. Tudo na casa dela era tão... ela. Cada coisinha parecia ter sido colocada no lugar de propósito, como se a casa fosse uma extensão da personalidade dela.

Quando ela voltou, sentou do meu lado com dois copos de suco.
— Então, o que você fez enquanto eu estava fora? — perguntou, com aquele tom curioso.

— Nada de mais. Ensaiei com a banda, assisti uns filmes... — pausei e olhei pra ela. — E pensei em como minha vida é entediante sem você.

Ela piscou, surpresa.
— Uau, você tá inspirado hoje.

— É a verdade. Não acostuma, tá?

Ela riu e encostou a cabeça no meu ombro. E ali ficamos, falando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Eu, claro, não admitiria, mas aquele momento, sentindo o calor dela ao meu lado, era exatamente o que eu precisava.

Depois de um tempo, ela se virou pra mim.
— Ei, Rodrick.

— Que foi? — perguntei, olhando pra ela.

— Eu também senti sua falta. Muito.

Não respondi. Só puxei ela pra mais perto e passei o braço ao redor dela. É, talvez eu seja um pouco carente. Mas só um pouco.

𝑰𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒆𝒔/𝑹𝒐𝒅𝒓𝒊𝒄𝒌 ENCERRADOOnde histórias criam vida. Descubra agora