Capítulo Dois

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Voltei meu olhar pra ele, nunca havia visto ou ouvido falar de algum Dr. Ross. O que é bem estranho, pelo fato de ele me olhar como se me conhecesse, muito bem.
― E-eu vim te dar alta ― disse. ― Como esta se sentindo?
― Bem ― respondi.
― Ótimo. ― Um sorriso surgiu em seus lábios. ― A recepção já ligou para seu responsável vim te buscar.
Concordei com a cabeça, mesmo que não houve alguma pergunta de sua parte, e sim, uma afirmação.
― Você me conhece de algum lugar? ― perguntei enquanto ele estava escrevendo algo em sua prancheta. Seu olhar desviou do papel e me encarou.
― Não ― respondeu. ― Mas conhecia sua mãe.
Meus olhos se concentraram mais nele do que nunca, ele conhecia minha mãe, e cada vez que vejo alguem falar sobre ela, eu a sinto mais perto de mim como nunca. Como se ela morasse dentro de mim, e eu só precisase descobri-la.
― E como ela era? ― perguntei curiosa.
― Linda. Ela era exatamente igual a você, o que muda é a cor dos olhos. Os dela eram castanhos.
― Quero saber como ela era, de verdade. Por dentro ― digo.
― Luke não fala isso com você? ― O médico perguntou se sentando na cama a qual eu estava.
Meu pai, parece tão dificil para ele falar sobre minha mãe, como se seu coração fosse arrancado. Ele nunca disse muita coisa, só o que julga o suficiente: que ela me amou mais do que tudo na vida.
― Não ― murmurei. Meu olhar desviou do dele e minha mão apertou o lençol da cama. Lágrimas começaram a surgir de meus olhos. E eu sentia uma dor incontrolavel no meu peito. Eu queria e ao mesmo tempo não queria saber aquilo. Viver a duvida, ou ter o coração destruido com a verdade?
Inspirei e encarei o homem a minha frente.
― Como ela morreu? ― pergunto com a garganta seca, o que quase sai como um rouco.
Dr. Ross me encarou por uns instantes.
― O que ele te disse?
― Que foi em um acidente de carro. Ele estava muito rapido e perdeu o controle. ― As lagrimas caíram, e por mais que tentasse não consegui limpa-las. ― O carro bateu em outro, e ela não resistiu. ― Passei o dorso da mão sobre o rosto, novamente uma tentativa falha em cessar as lágrimas. ― Foi assim? ― perguntei.
O médico parecia um pouco confuso com o que eu disse e parecia tentar entender.
― A Mand... ― O homem estava prestes a me dizer se aquilo era a verdade ou não, mas meu pai apareceu na porta e nos encarava o que o fez parar imediatamente. Nossos olhares se concentraram nele.
― Vim buscar ela ― disse meu pai nos encarando. Pude sentir a tensão que surgiu naquele quarto.
― Claro. ― O médico se levantou e sorriu. ― Ela está em um ótimo estado agora. ― Ele tirou um papel da prancheta e me entregou. ― Espero não te ver aqui novamente por isso ― disse se referindo aos meus cortes.
― Espero continuar nossa conversa ― digo e dou um sorriso a ele.
― Conversaram sobre? ― Meu pai perguntou.
Levantei da cama e fui até ele sem responder sua pergunta.
― Marianne, poderia nos deixar a sós um minuto? ― perguntou Dr. Ross. Assenti e passei pelo meu pai, depois fechei a porta. Indo ao bebedouro beber água. Após alguns minutos meu pai sai pela porta do quarto e vem de encontro a mim. Aceno um "tchau" ao médico e ele faz o mesmo pra mim, indo sentindo ao contrário de nós, passando pelo largo corredor.
Assim que meu pai estava perto o suficiente de mim, comecei o acompanhar para a porta de entrada/saída do hospital. Seu olhar se concentrava em mim, mas ele não pronunciava nada. Passamos pela enorme porta, e estavamos fora do hospital.
― Marianne! ― gritou alguém e procurei de onde vinha aquela voz. Lá estava Emma saindo do hospital e vindo perto de mim. ― Você já vai? ― perguntou quando estava suficientemente perto o bastante para a ouvir.
― Sim, acabei de recber alta.
Percebo que o olhar de Emma ficou um pouco triste, mas logo abriu um sorriso e me abraçou.
― Vem me visitar, não é mesmo?
― Claro! ― respondi e ela me soltou.
― Vou te esperar, Marianne Winchester ― disse andando pra trás.
― Pode esperar, Emma Parker. ― Sorri e voltei andar em direção ao carro de meu pai. Entramos e ele começou conduzir até em casa.
― Por que não acredita no que falo? ― perguntou e percebi que estava magoado comigo, até um pouco mais do que hoje de manhã.
― Eu acredito no que você diz ― respondo.
― E por que perguntou ao Edward?
― Seu nome é Edward? ― perguntei.
― É. Mas não mude assunto. ― Seu olhar desviou da rua e se concentrou em mim por alguns instantes, mas logo voltou para a rua novamente. ― Alguém te disse algo que a fez duvidar? ― perguntou seriamente.
Engoli em seco.
― Não ― menti. Eu me sentia mal por mentir a ele, mas nessa hora era necessário.
― Então acredite em mim ― disse e concordei com a cabeça. O portão enorme branco de casa se abre e ele estaciona o carro. Saio dele, assim como meu pai e fomos pra dentro de casa.
Eduarda estava sentada no sofá enquanto folheava a revista de moda. Assim que meu pai deixou as chaves sobre a mesa do centro da sala, o olhar dela se concentrou em nós.
― Como você esta, querida? ― perguntou se levantando e vindo até mim, fingindo ter uma preocupação que não tem, nunca teve e acho impossivel ter.
― Estou bem. Obrigada! ― respondi. ― Vou subir, preciso de um banho.
A mulher abraçou meu pai e deu um selinho em sua boca, depois sorriu e olhou para mim.
― Se dormir, tente não se atrasar pro jantar ― disse a mim. ― Como foi o trabalho, amor?
Comecei andar indo para o andar de cima, entrei no meu quarto, fui direto ao banheiro tomar banho, coloquei uma roupa folgada e me deitei na cama enquanto ligava a televisão. Passava um filme qualquer de romance, que nos 15 minutos de filme já sabemos como acaba.
― Mari, querida?
Ouço uma voz me chamando e alguém batendo na porta, abro os olhos e me sento, ainda um pouco confusa por não ter acordado direito.
― O que foi? ― digo alto o suficiente para quem quiser que seja ouça.
― Estão te esperando pra jantar ― disse, e eu reconheci imediatamente a voz: Maria. Qualquer um que chega em casa a vê como uma empregada, mas não, ela é bem mais que isso.
― Obrigada! Já estou indo ― digo me levantando. Dou uma rápida olhada no espelho, destranco o quarto e desço indo para a cozinha. Meu pai e minha madrasta conversavam sobre a empresa, acho que esse é o único assunto que existe entre os dois. Ao me ver param rapidamente.
― Não adianta dizer para não se atrasar não é mesmo? ― pergunta e eu dou um sorisso falso a ela e me sento.
Começamos a nos servir e a comermos, ninguém falava nada. E o olhar de Eduarda em mim já estava a me incomodar.
― Seu pai me disse que você perguntou a um antigo amigo de sua mãe como ela morreu ― disse Eduarda.
Meu pai a encarou a ela e depois a mim, levei mais comida a minha boca, para não precisar falar nada.
― Não vamos mais falar sobre isso ― disse meu pai um pouco bravo. Se levantou e retirou-se da mesa provavelmente indo ao seu quarto.
― Não entendo o que você quer tanto saber ― disse Eduarda, sua mão pegou a taça e virou um pouco de suco na boca. ― Ninguém além de mim tem a coragem de te falar a verdade.
Meu olhar se concentrou nela, e ao mesmo tempo que o resto de paciência que eu ainda tinha se esgotava, eu me sentia triste, e por dentro de mim, eu chorava.
― Amanda Swain Carter ― disse a mulher. ― Ela era simplesmente patética.
Levantei da mesa com certa brutalidade. E fui me retirando, havia perdido a fome.
― Você é muito parecida com ela. Acho que foi por isso que ela se matou, não aguentava olhar para uma cópia de si mesma.
Parei de andar, uma lágrima escorreu de meus olhos. Me virei em direção a mulher.
― Cala a boca ― gritei enquanto mais lágrimas caiam de meus olhos.
― A verdade dói, querida.
Corri e subi para o meu quarto enquanto chorava. Deitei na cama, e chorei mais.
Isso não pode ser verdade, eu não posso acreditar que ela se matou. Mas é a única coisa que faz sentido nessa história toda.

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