Capítulo Vinte e Quatro

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Nos momentos em que eu e o Asher nos beijávamos eu não via a situação como algo errado, mas quando eu deitava minha cabeça no travesseiro eu apenas queria sumir e odiava todo esse sentimento que isso me causava.
Asher Clark tem uma namorada, isso que nós fazemos é errado, mas por que quando estamos juntos as coisas parecem tão certas?
Não é certo, eu estou sendo uma pessoa horrível e me sinto assim quando paro pra pensar... isso não deveria mais acontecer.
Liguei meu aplicativo de música e coloquei no modo aleatório, começou tocar firework da Katy Perry, é uma de minhas músicas preferidas. Desviei o olhar do celular para o livro de capa preta em cima da minha cama e eu apenas fechei meus olhos e tentei me concentrar em tudo aquilo que eu havia lido.
A minha mãe se sentia exatamente como eu, e agiu da mesma maneira que eu agi. Não, não tem como nem eu comparar o sofrimento dela com o meu, eu não fui abandonada... ela foi, e eu nunca conseguirei entender o quanto isso deve ter sido doloroso.
Apesar de tudo, eu tenho meu pai, Niall, tia Megan, Vó Clark e Vô Will. Eles não foram sinceros comigo em nenhum momento, mas eles sempre fizeram de tudo para que eu me sentisse bem, não sei como agiria no lugar deles, talvez em algum momento eu me tornasse a pessoa que esconde a verdade para proteger.
E tá tudo bem né?
Eu seria diferente se soubesse a verdade? Eu não tentaria me matar e teria uma vida feliz?

                              ****
Depois da aula eu pedi para Peter me levar ao hospital. Emma não estava mais acompanhada por sua colega de quarto, aliás Emma já não estava mais no mesmo quarto. Haviam a levado para outro bloco e em um quarto que não tivesse nenhuma outra cama além da sua.
Lembrei da primeira vez que nos vimos, dela dizendo a Enfermeira que não gostava de ficar no quarto sozinha, ela deve estar odiando tudo isso.
Quando abri a porta de seu novo quarto, me deparei com Emma deitada na cama, conectada a aparelhos, ela já não usava mais o aparelho no pulso que controlava sua situação, ao invés disso estavam conectados em diversas partes de seu corpo.

- Emma - chamei, enquanto fechava a porta atrás de mim.

Seu corpo se sentou com calma na cama e ela sorriu.

- Anne.

Seu olhar não parecia diferente das outras vezes, nem seu corpo parecia tão cansado. Foi o que me tranquilizou um pouco, eu tive medo de que algo não estivesse tão certo.

- O que aconteceu? - perguntei sentando na beirada da cama.

- Humm, isso? - apontou para o aparelho grande ao seu lado. - É que aquele aparelhinho que eu usava no braço não estava funcionando direito, estou esperando chegar o novo.

Eu encarei todos os fios que iam de seu corpo até o aparelho grande e olhando na tela era óbvio que ele apenas estava acompanhando a sua situação médica.

- Levei um baita susto ao entrar - ri e ela também.

- Eu estou bem - ela disse sorridente e meu coração ficou calmo. - E você como está? - perguntou e eu quis muito sorrir e dizer que está tudo ótimo, mas ela não acreditaria.

- Eu não sei - respondi. - Quero que você veja algo.

Tirei minha mochila das costas e busquei o livro dentro dela, assim que encontrei, retirei ele e coloquei a mochila no chão.
Emma ficou surpresa e com um olhar confuso.

- O que é isso?

- Minha mãe, ela deixou esse livro para mim - falei e entreguei em suas mãos.

Emma não disse mais nada e começou analisar o livro si própria, inicialmente pela capa e depois ela começou a ler o Prefácio. Eu não sei bem em qual parte ela estava, mas o rosto dela estava como se ela estivesse próxima de chorar, mas ela engoliu em seco, olhou para mim e me disse que isso era o gesto de amor mais verdadeiro que ela já tinha visto em toda sua vida.

- Anne, a sua mãe... era uma pessoa incrível. Tudo isso, todas as coisas que ela escreveu aqui, ela te amava mais do que amava a si própria.

Emma continuava a folhear as folhas, provavelmente lendo pequenas partes de cada página e eu só consegui chorar enquanto me lembrava de todas as vezes que tentei odiá-la.

- Por que você está chorando? - perguntou e fechou o livro.

- Estou triste, Emma. Ela escolheu morrer, para que eu pudesse viver. Você entende o quanto isso é errado?

- A vida é feita de escolhas, Anne. Ela fez a dela pensando em você. Não deveria se sentir triste - murmurou. - Quantas pessoas neste mundo foram tão amadas quanto você por ela?

Eu cogitei em dizer e quanto isso tudo era injusto, mas não saiu nada na minha voz, então eu apenas fiquei chorando com a cabeça encostada em seu travesseiro. A garota levou sua mão até meus cabelos e ficou acariciando enquanto pedia que eu me acalmasse e dizendo que tudo iria ficar bem.

E será que iria mesmo?

- Você parou em que parte? - perguntou. - O seu pai me pareceu um pouco abusivo aqui.

Levantei meu rosto e encarei ela, minha cabeça estava totalmente confusa. Mas eu consegui entender o que ela quis dizer, eu também havia chegado nesta parte.

- Eu parei de ler nesta parte aí mesmo - respondi. - O meu pai ele me disse muito que eu talvez o odiasse depois de ler isso que minha mãe escreveu, ela queria que eu o odiasse pela forma como ele agiu com ela? - perguntei mais para mim do que para Emma, mas ela sempre tinha uma resposta para tudo, eu fico perplexa com a forma que ela sempre tem algo útil para se dizer.

- Eu acredito que ela queria que você soubesse da verdade, doesse a quem doer. Não acho que ela queira que você o odeie, mas que você a conheça e isso tudo aqui é muito mais sobre ela do que sobre qualquer outra pessoa, você entende isso né?

- Sim - concordei, eu não posso levar as dores dela e sair odiando todo mundo, eu preciso entender a que ponto ela queria chegar com tudo isso que escreveu. Preciso ler tudo e depois pensar no que eu vou fazer com tudo isso.

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Eu não sei quanto tempo faz que eu não público um novo capítulo, talvez anos?
Eu peço que me desculpem.
Eu acabei contando a história toda para uma pessoa e meu cérebro pifou, como se eu tivesse a terminado e não queria mais funcionar.
Consegui voltar a escrever agora e prometo não parar ate concluir.
Pulsos e Inspire são histórias que realmente mexem profundamente comigo e eu sei que com muitas pessoas também. Devo isso a nós.
A todos que ainda tiveram esperanças e esperaram até aqui eu só tenho a agradecer.
Vocês são incríveis
Quem quiser lidar com minha SOFRÊNCIA diária no Twitter só me seguir que sigo de volta: @dehpime
É isso, logo mais público o próximo




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