Capítulo Vinte e Três

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Eu definitivamente não estava preparado para tudo que eu li, aliás eu não estava preparada para nenhuma daquelas coisas. De certa forma eu consigo agora entender o olhar de tristeza de todos quando souberem que eu estava me mutilando, mas eu nem se quer fazia ideia de que minha mãe, assim como eu, fazia isso. 

Amanda Swain Carter.

Ela também tinha dores, ela também sentia na pele, também quis desistir. 

E eu estou sem chão nenhum, não consegui ler nem um único capítulo se quer sem chorar, e não consegui passar do começo do capítulo três, eu não consigo acreditar que minha tia Liv um dia fez todas aquelas coisas com a minha mãe. 

Fechei o livro e chorei, tudo ali era mentira, não podia ser real... não podia.

Mas era.

Guardei o livro em minha mochila, procurei meus óculos escuros e fui praticamente correndo para o hospital (com uma pequena ajuda do Petter que me levou de carro). Precisava ver Emma, ela precisava ler todas essas coisas, e me ajudar a entender. 

Quando abri a porta de seu quarto, lá estava ela, com seu caderno na mão, e mais ao lado, uma garota morena de cabelos bem enrolados, rindo, assim como Emma, como se as duas estivessem acabado de ver algo muito engraçado acontecendo bem em suas frente. 

Nenhuma das duas perceberam minha presença ali e fiquei parada pensando que talvez, eu a devesse deixar ali, com aquela garota, sendo feliz. Eu não podia trazer ninguém para a confusão que é minha vida, eu precisava aprender a lidar com algumas coisas sozinhas. 

Fechei a porta cuidadosamente para não fazer barulho e segui pelos largos corredores em busca de algum lugar que pudesse me acolher, mas ali, nada era acolhedor, tudo era frio, sem vida, sem cor.

Resolvi voltar para casa sozinha, não queria ter que fazer o Petter vir me buscar sendo que acabou de me deixar aqui.

O caminho era longo, mas eu nem se quer havia começado a pensar em reclamar do quanto meus pés estavam doendo, minha cabeça só conseguia focar em tudo que eu havia lido. Avistei uma pracinha vazia e me sentei no primeiro banco que vi, abri minha mochila e tirei o livro de capa preta, e tornei a lê-lo. 

**************

Apertei fortemente os olhos e dei de cara com um quadro completo de palavras que eu não fazia ideia nenhuma do que era. O sono me consumia, e eu provavelmente me daria mal neste semestre.

- Mari, tudo bem? - perguntou Noah e eu apenas assenti com a cabeça e a encostei na carteira enquanto meu corpo pedia apenas que eu desse uma cochiladinha e minha mente pedia que eu lê-se mais e cada vez mais o livro que minha mãe deixou para mim. 

Eu não conseguia parar de ler, a cada acontecimento eu só queria saber em que resultava, queria saber em que momento ela se foi, em o que ela e meu pai se tornaram, em o que aconteceu com a tia Megan, Liv e com o Niall.

- Mari, a professora está te encarando - sussurrou Lauren enquanto me cutucava com a caneta.

Levantei a cabeça e evitei fazer contato com a professora, puxei meu caderno e fingi escrever o que ela havia copiado, enquanto minha mente tentava processar toda a informação que eu havia recebido nestes últimos dois dias. 

Tia Megan também havia se mutilado.

Respirei fundo.

A aula acabou. 

Asher arrumava seus materiais enquanto eu o encarava, em nenhum momento ele veio falar comigo sobre o que aconteceu aquele dia, nem uma ligação, nem um sms, absolutamente nada. Como se definitivamente nada havia ocorrido com nós naquele bendito festival.

- Se eu fosse você, falava com ele - disse Lauren enquanto também arrumava seu material. Eu havia contado para ela e para Noah o que aconteceu no banheiro feminino. Lauren super empolgada, Noah me repreendeu. - Se ele te beijou, ele te quer. Acho que só esta esperando para saber o que você quer também...

Inicialmente eu ri, mas Lauren acaba-rá de acordar uma esperança que havia em mim, que só precisava de um ponta pé inicial.

- Eu vou falar com ele - falei e pude ver os olhos do Noah se revirando, apenas ignorei e arrumei meu material rapidamente. - Não me esperem.

Coloquei a mochila nas costas e sai da sala, e fiquei aguardando em um ponto estratégico que eu pudesse vê-lo vindo. 

E eu o vi.

Vindo em direção a mim, com aqueles dois percingis abaixo de sua boca rosada, que me fizeram relembrar o nosso beijo de uma forma tão concreta, como se estivéssemos nos beijando neste exato momento. 

Seu olhar veio de encontro a mim e ele sorriu, instantaneamente eu sorri também.  E tenho certeza que ele sabe que eu estava ali parada a espera dele, e isso o fez se aproximar de mim e dizer:

- Marianne... 

Meu coração começou a palpitar como se eu estivesse próxima de ter um infarto, nunca cheguei próxima de ter um, mas acredito que a sensação deve ser essa. Respirei fundo.

- Asher...

O garoto que há pouco havia pronunciado o meu nome da forma mais maravilhosa que eu já tivesse ouvido, apontou com a cabeça para um corredor vazio. Concordei com um leve movimento da cabeça e segui-o enquanto passávamos por varias portas de sala de aula, e em todas elas ele tentava abrir na esperança de que alguma delas estivesse destrancada.
Uma estava. 

Abriu-a e entramos, fechei a porta atrás de mim e por um momento eu não sabia necessariamente o que falar, mas não precisei pensar muito já que ele tinha muitas coisas para de dizer.

- Eu te acho uma pessoa incrível. - Foi a primeira coisa que ele disse naquela sala, enquanto encarávamos um ao outro. - Temos que esquecer o que aconteceu aquele dia - disse me um tom mais baixo como se até as paredes pudessem ouvi-lo. 

Eu definitivamente estava próxima de ter um infarto, de tão acelerado que meu coração batia. Desviei o olhar do dele e disse que estava tudo bem.
Tudo bem? Não mesmo! Mas eu não queria parecer a louca que se apaixona no primeiro beijo, até porque eu sou a louca que se apaixona antes do primeiro beijo.

- Tudo bem mesmo? - indagou ele. 

- Sim - respondi friamente. - Tem mais alguma coisa para falar? - perguntei.

Seu olhar não desviava de mim, eu podia perceber mesmo que o meu varias vezes tentava se concentrar em qualquer outro ponto daquela sala. 

Ele estava surpreso, talvez um pouco... decepcionado?

- Tudo bem - disse.

Por que decepcionado?

- O que você queria escutar? - perguntei e instantaneamente ele riu.

Seu corpo se aproximou do meu, e suas mãos agarraram minha cintura. 

- Eu jurava que você diria que não consegue para de pensar em nós. - Sua mão ficou mais firme em minha cintura e ele me puxou mais para si. - Era o que eu diria...

- E porque não disse? - questionei enquanto levava minha mão em sua nuca. - Você não tem certeza? - murmurei bem próximo ao seu ouvido.

- Essa é a única coisa que eu tenho certeza agora. 

Seus lábios já conheciam o caminho até minha boca, seu corpo cada vez mais colado no meu enquanto por dentro eu parecia que ia explodir e por fora eu não conseguia parar de beijá-lo.

- Eu não consigo parar de pensar em nós - sussurrei bem próxima de seus lábios.




















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